Rafael_Santiago 19/10/2022
Um pouco arrastado mas depois engrena?
?e essa por sinal é a linha seguida pelo autor levando em conta que o primeiro livro tem a mesma pegada.
Uma dica é que não leia esse livro esperando um romance policial bem lógico nos moldes do Conan Doyle ou da Agatha Christie ou ainda um misto de lógica com ex-machinas encontrado no LeBlanc, por exemplo. As tramas dessa série são menos engendradas mas não são ruins, porém é que esses três já viraram clássicos do gênero policial e talvez esse autor se torne também daqui umas décadas, pois de fato as histórias não são mesmo ruins. Tenha em mente que ele tem o jeito dele de entregar uma história de mistério dentro do contexto que se propõe inserir suas personagens fora o subtexto.
O grande trunfo do autor na minha opinião é ter conseguido criar personagens bem carismáticos. O que é o ponto alto para o Sherlock, Poirot, Miss Marple e Arsène Lupin, por sinal, então talvez ele já tenha o essencial para compor uma série que se estabeleça no subgênero mesmo.
Para mim o ponto interessante na proposta dessa série é que faz o leitor enxergar o mundo nos olhos de seus protagonistas que são pessoas idosas vivendo numa casa de repouso. Contudo de longe ele os vitimiza, ao contrário apresenta-os de uma forma que procura quebrar certos paradigmas e estereótipos quando o assunto é descrever indivíduos nessa faixa etária. Essa iniciativa de entregar uma história com protagonistas idosos e ainda humaniza-los ao ponto de fugir dos estereótipos é bem bacana.
Uma melhoria desse livro com o primeiro foi controlar um pouco as digressões da Joyce (o que seria a equivalente ao Watson) o que tornou a leitura menos cansativa em alguns momentos. Ele às vezes ainda exagera nos momentos novelinha, mas nada que estrague tanto a trama.
Nesse ponto também cabe uma observação sobre o excesso de digressões, eu suspeito ser um recurso estilístico para te fazer se sentir na companhia de uma pessoa idosa pois a maioria acaba tendo mesmo esse hábito de se estender ou desviar um pouco o discurso. Não é com todo personagem, então mal escrito o livro de fato não é, tem coisa por baixo do texto. Nisso, tenha paciência. Esse autor consegue me fazer ficar impaciente igual fiquei quando li ?O processo?, na época não entendi muito essa jogada e achei bem enrolado, mas enfim, arte é para te provocar sensações, mexer com você então ao ler essas passagens se disponha, fica a dica?
Fora isso a história também toca em problemas recorrentes a terceira idade: solidão, finitude, depressão, agorafobia, alzheimer, violência contra idosos, amizade. Foca no subtexto que você vai ter mais do que um mistério que talvez não seja lá tão surpreendente assim. Para mim o viajar foi mais interessante do que o destino, mas aí cabe a você decidir e se dispor.