Leila de Carvalho e Gonçalves 18/11/2022
A Pediatra Canalha
Semifinalista do Prêmio Oceanos e Finalista do Jabuti em 2022, A Pediatra é o mais novo romance de Andréia del Fuego, pseudônimo de Andréia Fátima dos Santos, uma paulistana que há onze anos, em sua estreia no gênero com Os Malaquias, surpreendeu ao vencer o Prêmio José Saramago.
Aliás, desde 2013 que a escritora não lançava um livro. Um longo hiato marcado pela chegado do primeiro filho, experiência que lhe serviu de inspiração, resultando numa narrativa que tangencia temas como sociopatia, ética médica, idealização da maternidade e o chamado ?parto humanizado? que, a despeito da atualidade e a polêmica que desperta, jamais vira abordado numa ficção.
Sua protagonista, Cecília, é uma neonatologista com claros sinais de sociopatia e que precisa de ajuda psiquiátrica, em especial, se levar em conta os problemas que vem enfrentando ultimamente, isto é, o fim do casamento, a concorrência de um novo profissional, que é o seu oposto ? simpático e empático ? e a descoberta de um súbito amor maternal pelo filho do amante, criança que ajudou a nascer. A bem da verdade, um sentimento que a surpreendeu, pois jamais pretendera ser mãe.
Todos a sua volta ? do pai que idolatra, um endocrinologista de sucesso, ao ex-marido e o amante casado ? ignoram a gravidade da situação. A bem da verdade, se por um lado, Cecília é uma hábil mentirosa, por outro, cresceu sem afeto, relegada ao segundo plano, o que a fez criar um escudo protetor e é bem provável que o reconhecimento da mesma conjuntura na vida de Bruninho, a criança que mudou sua vida, seja responsável por sua transformação.
Com 180 páginas e capítulos curtos, o livro prende a atenção do leitor do começo ao fim. Com um estilo ágil, uma boa dose de sarcasmo e uma linguagem sintética que se ajusta a maneira de Cecília, Andréia demonstra ser uma escritora versátil e desapegada a rótulos, ao abrir mão lirismo e do fantástico de seus outros romances.
Também comprova ser uma hábil contadora de histórias, capaz de criar uma anti-heroína esférica, vil mas também fascinante, aliás, características peculiares a todo portador da síndrome de comportamento antissocial. Ouso dizer que é impossível esquecer a ?pediatra canalha?, como bem definiu Fernanda Torres na orelha do livro.