Yasmin.Cade 17/10/2021
Um misto de sentimentos e impressões
Terminei de ler "Em Fogo Lento" e não consegui ter claro em minha mente se havia ou não gostado do livro. A experiência como um todo foi bastante controversa. O início foi bem interessante para mim, com personagens instigantes e excêntricos e fatos bastante nebulosos, gerando uma ótima atmosfera de mistério.
Porém, ao chegar à metade do livro, o sentimento de que estávamos andando em círculos e indo para lugar nenhum só aumentava. O fato de que havia personagens arredios e chatos (como Miriam, Carla e Theo), mesmo com uma história de vida bastante perturbadora, só tornava tudo pouco envolvente. Um risco que a autora escolheu correr, já que foram 5 personagens centrais através dos quais nós acompanhamos o desenrolar da trama durante apenas 320 páginas. Muitos detalhes, muita complexidade e pouca conexão real entre personagens e leitor.
Porém, não posso deixar de destacar a ousadia e perspicácia de Hawkins ao elaborar essa trama. É um livro sobre conflitos familiares e traumas, sobre como construímos nossa vida sob bases duvidosas. Sobre como "seguimos em frente" sem nunca seguir de fato. A linguagem que a autora usa é simples e embalada, é fácil seguir o fluxo da história. As inserções de partes da obra fictícia "Aquela que restou" também tornam o livro mais rico.
Por outro lado, há momentos em que faltaram sutilezas para criar mais tensão e suspense na trama. Não sei se por uma falta de destreza de Hawkins ou se por uma intencional exposição de lacunas (como se para prender a atenção do público, fosse necessário explicitar no texto aquilo que já dizia as entrelinhas).
De qualquer modo, foi uma experiência interessante e perturbadora. Não é um livro leve, todos os personagens são pesados e carregam grandes fardos. Poderia ter sido algo ainda maior se a autora tivesse mantido um nível mais especulatório em sua escrita e tivesse conseguido criar mais envolvimento com os personagens.
O fim deixa um questionamento bastante válido e comprova que a autora seguiu uma linha de pensamento desde o início. O próprio título faz muito sentido: os traumas são como fogo, ardentes e destruidores. Depois de um tempo, até sentimos que os superamos, mas, na verdade, o fogo só está se espalhando mais lentamente.
PS: Laura e Irene, foi por vocês que terminei este livro