Tiago 22/10/2022
Era mais um entre os montes de operários que trabalhavam todos os dias dentro das fábricas, com o mesmo uniforme. E se tornou presidente da República.
Lula não veio de uma família de intelectuais e não se tornou tampouco um. Durante seus primeiros anos de luta política, o fez enquanto estrategista de greves operárias diante das condições absurdas de trabalho e dos direitos usurpados dos trabalhadores. A motivação vinha das próprias limitações: a pobreza, a baixa instrução escolar e o apoio de pessoas que no decorrer de sua formação, encontravam nele a única figura necessária e faltosa na política nacional, sobretudo durante a Ditadura Militar: Lula era um operário com intenções e poder de mobilizar as pessoas.
Mas Lula era contra afiliar-se a partidos ou ser uma figura política partidária. Isso se dava não por ignorância. Era simplesmente porque todos os representantes políticos eram intelectuais, médicos, advogados, nenhum era operário. Não havia ali espaço para ele. De todos os representantes políticos, não houve sequer um que tivesse vindo da mesma realidade de Lula. A quem então eles faziam política? Foi só quando reconheceu que esse lugar deveria ser ocupado que Lula com sua desenvoltura foi entrar para a política, tendo sempre uma clareza de suas intenções.
Tornou-se o primeiro operário a governar um país. O primeiro. E isso é uma coisa imensa.
Lula perdeu a mãe enquanto esteve preso durante a ditadura por incitar uma greve de operários e criar um partido político enquanto à época deveriam existir apenas dois, o Arena e o MDB; perdeu o primeiro filho durante o parto que levou junto sua primeira esposa; foi preso político algumas vezes; perdeu o neto e o irmão enquanto esteve em sua última prisão política, orquestrada por Moro; a segunda esposa, quando faleceu, foi depois de morta vítima das mais horríveis piadas; enfrentou e se curou de um câncer após sessões de quimioterapia.
De fato, imaginar atravessar tudo isso, tendo iniciado como um jovem operário, à época semi-analfabeto, faz de um sujeito alguém que teme muita pouca coisa na vida. Imagino que enfrentar essas eleições de 2022 contra Bolsonaro e toda a mídia fascista é encarado apenas como mais um dos grandes desafios de sua vida - dos quais nem todos saiu vitorioso, mas seguiu vivo e firme.