Coisas de Mineira 25/08/2022
“QUEENIE”: UM LIVRO QUE ME SURPREENDEU!
“Queenie” é uma leitura forte que fala sobre racismo, a baixa autoestima e como nunca podemos minimizar os nossos sentimentos.
Vamos falar de “Queenie”? Best-seller do The Sunday Times e escrito por Candice Carty-Williams, o livro foi lançado em 2021 pela Astral Cultural. Então vamos para a sinopse?
Queenie Jenkins, uma jovem jamaicana-britânica, tem 25 anos e é a única negra trabalhando em um grande jornal de Londres. Sofrendo com a baixa autoestima e passando por dificuldades em seu relacionamento de três anos, com um homem branco, que decidiu pedir um tempo, Queenie busca conforto em relações com outros homens que a fazem relembrar traumas de infância.
Essa é uma sinopse resumida de “Queenie”, agora vamos para as minhas impressões?
“Tudo bem ser rejeitada, rejeição era uma grande parte da vida, mas eu tinha sido humilhada duas vezes no mesmo dia por dois homens que realmente haviam se esforçado para se certificar de que conseguiriam transar comigo.”
Resenha do livro "Queenie" de Candice Carty-Williams
Antes de mais nada, preciso dizer que “Queenie” me surpreendeu. Quando peguei o livro, pensei que não fosse uma leitura que iria me prender, mas me enganei. Com uma escrita bem fluida a autora faz com que a personagem, bem humana, prenda o leitor com seus dilemas, erros e acertos.
Enquanto estamos vivendo o dia a dia de Queenie, temos algumas lembranças da própria em relação ao passado, ao início do namoro e até mesmo algumas coisas relacionadas à infância. Todas essas lembranças são ligadas aos dilemas que a personagem vive, e que não são poucos.
“Ao que tudo indica, a tristeza que o silêncio da pessoa que você ama traz pode ser temporariamente removida pela emoção monótona da atenção de estranhos.”
Os dilemas de Queenie
A protagonista passa por poucas e boas. Quando vê que tem a atenção de outros homens, ela acaba usando essa atenção para afastar a tristeza que o tempo no relacionamento trouxe para a sua vida. Essa atenção também acaba servindo para aumentar a autoestima da jovem.
Por isso, ela entra em encontro atrás de encontro, apenas para relações casuais e satisfação momentânea, já que logo em seguida, ela descobre que os homens apenas a veem como algo de momento. Em diversas partes da história, sofri junto com Queenie, enquanto ela queria ser amada e só era rejeitada.
O fato de Queenie não gostar de falar muito sobre o que sente é algo que é relatado durante toda a história. A garota acaba guardando tudo para si, tanto as coisas do passado, quanto o que acontece no presente, minimizando o que está sentindo. Minimizar o que se sente, é uma parte crucial da história. Com uma família orgulhosa de ser forte, ela vê em pedidos de ajuda, sinais de fraqueza.
Com todos os problemas no âmbito pessoal, a carreira acaba ficando em segundo plano e entrando em colapso também. Queenie entra em uma queda livre de problemas mas conta com a ajuda da família e dos amigos!
“Olhei para as minhas três amigas, as luzes explodindo no céu e iluminando seus lindos rostos. Cada uma representava uma parte diferente da minha vida e tinha surgido em momentos diferentes; e eu estava sempre tentando entender por que elas continuavam ao meu lado.”
Amigos e família são importantes na história!
Queenie tem avós jamaicanos, uma família que é muito orgulhosa de suas raízes e da força que tem. Apesar do exterior duro, com as críticas e a ordem que é colocada, podemos ver o quanto todos eles amam a personagem.
Outro elemento importante, são os amigos. Queenie tem três amigas mais próximas, cada amiga, à sua maneira, consegue ajudar a personagem a passar pelas adversidades que vai enfrentando. É bonito ver a relação delas e como essa relação vai ajudando a nossa personagem, apesar de que há provações para essas amizades também!
“Porque Tom nunca me defendia? E como seria dali a dez anos, quando o tio dele diria aquela palavra, fazendo piadas racistas com os nossos filhos? Será que ele os defenderia ou eles cresceriam sendo atacados pela própria família? Gostaria que houvesse algum manual de namoro inter-racial que eu pudesse consultar quando essas coisas acontecessem.”
Racismo está presente na história!
Temos algumas discussões bem importantes sobre racismo ao longo de “Queenie”. Inclusive temos menção ao movimento “Black lives matter”, com a personagem buscando formas de falar sobre isso no jornal em que trabalha. Mas não fica apenas na discussão. Logo no início, vemos que o relacionamento da personagem que é inter-racial acaba sofrendo grandes choques de realidade.
Vindo de uma família branca e tradicional, Tom não consegue entender muitas das coisas pelas quais Queenie sofre e me cortou o coração vendo ele minimizar algumas coisas. Mas, não irei falar muito para não dar spoiler. Mas o racismo e preconceitos presentes em “Queenie” não ficam apenas nesse âmbito, vemos a personagem passar por muita coisa ao longo das páginas.
“Olhe pra todas aquelas pessoas que amam você. Você é digna de ser amada, e eles são a prova disso. Eles sempre estarão ao seu lado como estiveram quando você mais precisou.”
Sobre a autora
Candice Carty-Williams é autora, jornalista e executiva de marketing. Em 2016, Candice criou e lançou o Guardian and 4th Estate BAME Short Story Prize, um concurso aberto a escritores negros, asiáticos e de minorias étnicas que vivem no Reino Unido ou na Irlanda.
“Queenie” é sua primeira publicação e foi eleito um dos 100 melhores livros de 2019 pela Time, além de ser um dos livros mais esperados de 2019 de acordo com a Woman’s Day, Newsday, Publisher Weekly e Bustle.
Em seu site, vi que a edição foi lançada nas cores: dourada, azul, rosa e laranja. Sinceramente? A capa dourada para mim é a que melhor combina com a combinação, afinal, Queenie é uma rainha!
E aí, já conhece essa história?
“Duas horas. Nós debatemos por duas horas sem parar. E eu de casaco, pronta para ir embora. Cento e vinte minutos em que tive que explicar porque a definição de ‘racismo’ do dicionário de Oxford que ele teimava em me mostrar era antiquada, como o racismo é estrutural, como racismo reverso NÃO existe, porque ele não podia se referir ao amigo senegalês, chamado Toby, como ‘tão preto quanto o ás de paus’, enquanto ele tentava contrariar e manipular todos os meus pontos e dizer, no fim de cada frase ‘não me leva tão a sério, eu gosto de provocar.’”
Por: Ana Elisa Monteiro
Site: www.coisasdemineira.com/2022/08/queenie-resenha-do-livro/