Mary Manzolli 30/03/2022
Uma análise despretensiosa sobre a vida moderna.
Após uma sequencia de leituras mais densas, finalmente, algo mais levinho e despretensioso.
Majú faz parte do, denominado por sua patroa, "exército branco" , formado por babás, empregados e funcionários cuja função social é auxiliar na vida e rotina de pessoas de classe média. Ela é babá de Cora e responsável por cuidar, alimentar, levar ao clube, à escola, à pracinha, aos aniversários de amiguinhos; dorme no emprego, e se encontra sempre à disposição, inclusive quando, nas madrugadas, Cora foge do seu quarto para dormir no quarto de Majú.
Fernanda, a mãe de Cora, é uma produtora de cinema, bem sucedida, que vive numa rotina (ou falta dela) que lhe impede de assumir responsabilidades e compromissos com a filha, uma vez que trabalha num fuso horário bem atrapalhado, além de manter um relacionamento extra conjugal com Yara e, por tudo isso, conta com Majú, para administrar os cuidados com a criação da menina.
Um dia Majú sai de casa com Cora carregando uma mala grande, sem causar estranheza em ninguém, e parte com a garota na intenção de viverem juntas, num lugar distante, com outra identidade. Fernanda e seu marido Cacá, apesar da demora em entenderem o que se passa, iniciam as buscas por Cora e Majú.
A partir daí a autora intercala as narrativas de Majú e Fernanda e também de tempos narrativos (entre presente e flashbacks) e, desta forma, as vidas de cada uma vão se desenrolando, permitindo ao leitor conhecer óticas distintas de uma mesma estória.
Com uma linguagem fácil, ágil e direta, a estória conduz as protagonistas, cada qual do seu modo, para além do seu mundo habitual e abre um leque de possibilidades ao leitor, de enxergar às várias nuances que compõem o abismo entre as classes. Uma delas já se expõe no próprio título do livro, uma vez que Suíte Tóquio é o nome dado por Fernanda, ao quarto de empregada onde dorme Majú, um cômodo muito confortável e cheio de regalias, que mais parece uma suíte de hotel e que funciona como uma espécie de redenção psicológica para Fernanda à exploração a qual submete a empregada.
Um dos pontos mais interessantes do livro é que não há julgamentos nas ações das personagens e ambas as protagonistas são colocadas na situação de seres imperfeitos que buscam preencher o vazio de suas existências. Uma se agarrando ao dinheiro e à carreira, a outra buscando um sentido para as faltas de opções, na religiosidade.
Enfim, uma leitura de narrativa fácil, que vai agradar a todos, de contextualização simples e sem muitos mistérios, porém não sem deixar a marca de críticas sociais e análises pertinentes sobre a vida moderna.