Aione 07/02/2023Gay de família é a estreia de Felipe Fagundes na editora Paralela. O livro tinha sido primeiramente publicado como novela de maneira independente; ao ser contratado pelo selo adulto de entretenimento do grupo Companhia das Letras, ganhou cenas extras para se transformar em romance.
Diego cortou contato com a família há vários anos. Criado em um ambiente conservador — e tóxico — preservou a própria sanidade ao se manter longe de todos. Diogo, seu irmão, esporadicamente entra em contato quando precisa de um favor e é o único a manter alguma ligação com Diego. Por isso, quando Diogo implora para que o irmão cuide dos sobrinhos por um fim de semana, Diego não está nem um pouco a fim de ajudar. Porém, quando percebe que pode ganhar um bom dinheiro com isso, ele aceita, sem imaginar que a tarefa seria muito mais complicada do que supunha.
Em primeira pessoa, Gay de família é um dos livros mais hilários que li. A narrativa é para lá de envolvente, em tom coloquial e que remete muito da oralidade do português, o que deixa o texto muito agradável e íntimo. A sensação é a de estarmos conversando com um amigo, o que nos aproxima de Diego. Ele, aliás, é uma figura um tanto quanto peculiar. Felipe Fagundes foi muito feliz em mesclar os traumas do protagonista com sua personalidade empoderada e, ao mesmo tempo, que não esconde os próprios defeitos. Diego é o primeiro a se assumir interesseiro, por exemplo, e a plena convicção de saber quem se é ressoa como um grito de liberdade.
Essa mescla se estende também para os temas abordados. Embora Gay de família traga praticamente uma diferente piada por parágrafo — e acredite, isso não é nada cansativo — aborda temas delicados como homofobia e traumas familiares. Muito do humor disfarça o que há de triste e injusto na vida de Diego, e a leveza com que tudo é passado dá sensibilidade para a leitura e permite a percepção da densidade ao fundo.
Mas Diego não é a única estrela em Gay de família. Os três Diogos, como ele se refere aos sobrinhos, são personagens únicas e encantadoras. Morri de rir com as inúmeras situações absurdas por eles protagonizadas, assim como me emocionei com a relação que elas estabelecem com o tio. As noções de pertencimento, família e conexão despertam gostosos sorrisos ao longo da leitura — e, talvez, alguns olhos marejados.
Li Gay de família em poucas horas, porque é dessas leituras que a gente consegue fazer de uma só vez. Não bastasse ter me divertido a cada página, Felipe Fagundes também me fez rir com um dos agradecimentos mais criativos que já li. Para quem procura uma boa diversão e que, de quebra, ainda proporciona uma bonita mensagem sobre o verdadeiro significado de família e da importância de se respeitar a própria essência, essa é uma ótima pedida — e fica o lembrete de que é uma obra de conteúdo adulto.
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