Ronan 25/07/2022
A obra é concisa, muito bem escrita e bastante relevante nas contribuições trazidas para o tema que aborda. A autora escreve com bastante propriedade pois atuou como psicóloga organizacional da área de recrutamento e pôde constatar, na prática, ao longo dos seus anos de trabalho, o tema sobre o qual disserta e que embasou suas pesquisas.
Ela constatou nas instituições públicas e privadas uma espécie de acordo velado, tácito, não verbalizado, entre brancos com marcado viés de gênero (machismo) no sentido de vetar o acesso de pessoas negras, sobretudo mulheres, a posições de destaque ou de comando dentro das empresas, tentando mantê-las em posições subalternas usando como justificativa o discurso da meritocracia . Esse pacto, um pacto narcísico como ela demonstra, acaba por corroborar situações de subalternização, hierarquizações e manutenção dos privilégios brancos (que não são reconhecidos como tais, já que são naturalizados). Outro tema importante levantado pela autora é o ponto de vista pelo qual a branquitude se vê, ou melhor, não se vê, em outras palavras, a branquitude se coloca como categoria universal e exclui outros grupos, sem enxergar nela mesma um grupo, obviamente essa ?universalização? reforça seus privilégios e naturaliza hierarquias há muito estabelecidas e que a beneficiam. Todos esses fenômenos perpassam não somente as instituições mas também o mundo político, manifestando-se em governos de fortes vieses autoritário, xenofóbico e machista. Como historiador achei muito pertinente o ponto em que ela menciona que a branquitude não reconhece ou prefere não enxergar a herança de horror, morte e violência legada pelos seus antepassados escravistas na medida em que esse reconhecimento também poderia colocar em xeque seus privilégios minando seu argumento meritocrático.
Toda a trajetória de Cida e sua atuação junto ao CEERT, centro de estudos das relações de trabalho e desigualdade, órgão que menciona várias vezes, é propositiva, isso fica muito evidente ao longo da obra, em especial em suas páginas finais, esse viés propositivo é um alento e também uma lembrança do quanto ainda é necessário avançar nessas questões. Sua obra sem dúvida contribui muito para o entendimento dessas dinâmicas e portanto para sua superação, que esperamos, seja célere.