Vanessa.Benko 15/01/2024
Tive vontade de me desfazer da minha pessoa, tirá-la de cima de mim com raivoso alívio: era como se eu estivesse cansada de carregar um pesado disfarce.
Transportando-nos para a Roma dos anos 1950, "Caderno Proibido" de Alba de Céspedes é um mergulho profundo na vida de Valeria, uma mulher de classe média que, por impulso, adquiri um caderno negro e começa a escrever sobre seu dia a dia. O ato de escrever torna-se sua válvula de escape, sua confissão silenciosa que ecoa pelas páginas deste romance envolvente.
A trama retrata a sociedade italiana da época, mergulhando-nos em nuances de uma vida monótona, mas cheia de conflitos familiares e sociais. Valeria, presa aos papéis tradicionais de esposa e mãe, começa a questionar a verdadeira essência de sua existência.
A escrita se torna o catalisador da transformação de Valeria. Através dela, inicia uma jornada de autoconhecimento. A narrativa habilmente explora como a reflexão por meio das palavras possibilita a compreensão profunda de desejos e anseios, muitas vezes suprimidos pela sociedade.
A protagonista experimenta a vergonha de seus próprios pensamentos e do ato de refletir sobre sua própria vida. No entanto, essa vergonha se torna a força motriz de sua libertação, revelando um caminho corajoso e difícil em direção à autenticidade. Valeria transcende as mínimas coisas do cotidiano, desvelando as camadas ocultas de sua própria existência. Ela questiona o peso dos sacrifícios feitos em nome da família, desafiando as normas sociais que perpetuam a subjugação das mulheres.
A protagonista descobre a fadiga de carregar um pesado disfarce, confrontando as expectativas impostas pela sociedade. As discussões sobre bondade, crueldade e a verdadeira essência da família são exploradas de forma bastante provocativa.
O livro ainda tece reflexões poéticas sobre o envelhecimento e a sociedade que encara a guerra como uma necessidade, um ciclo eterno para assegurar o bem-estar das gerações futuras. Também destaca o poder que o dinheiro confere, revelando as desigualdades sociais e as limitações impostas principalmente às mulheres na busca por seus sonhos.
Encaramos uma sociedade machista, onde a voz das mulheres é subjugada, mas finalmente começa e ser não silenciada. A trama aborda temas como traição, divórcio e a luta por igualdade, tocando as fibras mais sensíveis do leitor.
Nesta família, além da ‘mamãe’, temos Mirella representando as conquistas femininas, Ricardo que encarna o caminho cômodo dos homens, enquanto Michelle personifica o homem como provedor, manipulando o conhecimento e o poder de decisão.
Alba de Céspedes, por meio da história de Valeria, nos presenteia com um olhar crítico e sensível sobre a condição feminina, fazendo deste livro uma leitura indispensável para todos que buscam compreender as complexidades da alma humana.