danilo_barbosa 20/03/2024Normalmente, quando termino um livro, em pouco tempo tento verbalizar, transformar em palavras as minhas emoções ou impressões que vieram dele. Compartilhar, talvez, os insights que surgiram dali que levo adiante como escritor, leitor e pessoa. Mas com “A casa no mar cerúleo” foi um pouco diferente.
Talvez pelo fato de Linus Baker, o protagonista, ter tantas características parecidas comigo: um homem gae, com mais de 40 anos, que se afundou em rotinas e tentativas de agradar os outros – e sempre falhando nisso, porque é incapaz de ver a si mesmo e os próprios desejos e necessidades. Alguém que deve julgar e determinar se os orfanatos, ou casas de apoio para crianças mágicas e/ou fantásticos – como humano – são capazes de mantê-las seguras e bem…
Linus é preso na rotina, no apontamento dos vizinhos, nos gestores abusivos, sentindo-se confortável e imerso naquele apagamento. Até chegar naquele lugar transformador que dá nome ao livro, o Orfanato de Marsyas, cuidado por Arthur. Lá, entre as crianças cuidadas, está, inclusive, Luci, o próprio Anticristo! E em meio a descobertas e conceitos, esse personagem que se fechou do mundo na tentativa de controlar as situações, vai aprender a libertar-se do que construiu para si mesmo.
A Casa no Mar Cerúleo é um livro delicado, mágico e nos faz questionar o preconceito e o pré-julgamento nas mais diferentes formas. Não só da diversidade afetiva – aqui um ponto visto com naturalidade – mas o quanto deixamos de ser empáticos, criando opiniões, conceitos e julgamentos por aquilo “que achamos saber” do outro, sem sequer questionar ou perguntar. Tudo com delicadeza e força, com certa meiguice lúdica que perdemos no correr dos dias, daqueles que dá um calor no coração. Se for lê-lo, sugiro que não o faça com pressa, e deixe-se ficar depois sem ler nada durante uns dias, permitindo apenas que essa história ecoe dentro de você… e, quem sabe, te transforme.