Katharina.Pedrosa 26/01/2024
Você já tentou entrar em um grupo e se sentiu deslocada naquele meio?
"Ciranda de Pedra" narra a trajetória de Virgínia ao longo de duas fases distintas de sua vida. Na primeira, a protagonista enfrenta as adversidades da infância com toda a idealização de uma criança de 10 anos. Já na segunda fase, ao final da adolescência, ela adquire uma clareza maior sobre os desafios vivenciados na juventude.
Virgínia, a filha mais nova de um casal separado, é confrontada com os delírios da mãe, a indiferença do pai e a exclusão por parte das irmãs mais velhas. Após um episódio de traição, Virgínia muda-se para a casa da mãe e do padrasto, enquanto o pai permanece com as duas irmãs mais velhas, aparentemente em harmonia. Navegando entre dois mundos opostos - o da mãe, permeado pela loucura, e o do pai, envolto em luxo - Virgínia enfrenta o dilema de: querer ir para a casa do pai e conviver com as irmãs e os amigos, mas ao mesmo tempo não quer estar longe da mãe.
Com a morte da mãe, Virgínia passa a viver com o pai, mas não se sente acolhida e pede ao pai para estudar num colégio interno. A partir daqui, temos um corte temporal e passamos para a segunda fase, que começa com ela arrumando as malas para voltar para a casa do pai. Quando volta, ela continua com o mesmo sentimento de não-pertencimento que a acompanha em todos os lugares: na casa da mãe, no colégio interno, com as irmãs, com os amigos.
Diante de toda a melancolia de Virgínia, é impossível não se emocionar com essa menina carente de afeto e que acredita com toda a força na recuperação da mãe, para que a família seja reunida novamente. O retrato de uma família de classe média não poderia ter sido mais fiel, com toda a hipocrisia escondida sob o véu da moralidade.
Este foi meu primeiro contato com a autora e eu não criei expectativas. Achei o texto fluído e os diálogos bem construídos. A personagem ´principal, é complexa e de fato, pude acompanhar a mudança dela, e até me identifiquei em alguns aspectos.
“Ouça, Virgínia, é preciso amar o inútil. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar roseiras sem pensar em colher as rosas, escrever sem pensar em publicar, fazer coisas assim, sem esperar nada em troca”