_julliemarrie 25/12/2023
Protagonista entra em um arco de autoconhecimento para provar que um date que chamou ela de entediante estava errado. Spoiler: ele estava certo.
Pra não ficar parecendo que eu odiei o livro (não odiei) vou começar pelo que eu gostei, ir para o que eu não gostei e resumir com o "para quem eu recomendaria".
Practice Makes Perfect propõe um romance leve do tipo opostos se atraem e consegue entregar isso em um livro curto e fácil de ler.
Como eu estava buscando um livro que me arrancasse dos braços da preguiça literária, esse livro atendeu a minha necessidade.
Pela primeira metade eu corri pelo livro pois o diálogo era fácil e o romance estava me entretendo, mas pela segunda metade eu corri para terminar logo pois não aguentava mais.
A começar pela escrita da autora, que desde a 2ª ou 3ª página já me incomodou com suas descrições extensas e desnecessárias da roupa de cada personagem que entrava em cena; com seus monólogos internos bobos e com suas "interrupções mentais" que pareciam ter saído direto de um cartoon da nikelodeon... eu já tinha certeza que esse livro não conseguiria passar de 3 estrelas.
Um outro detalhe que me chamou a atenção logo de cara foram as "entrevistas de emprego" que ambos os personagens fizeram em suas cabeças nos capítulos iniciais, certamente uma tentativa da autora de nos introduzir a eles (quem são e o que fazem), mas uma escolha péssima de abordagem.
Sabendo que o leitor seria gradualmente apresentado a cada um ao passo que eles mesmos se conheciam, todas vez que eles tinham que repetir algo sobre sua vida para o outros eu revirava meus olhos me perguntando "porque diabos fazer aquela introdução, se o leitor teria que ler ela novamente aqui?".
Daí vemos a importância de saber mostrar ao invés de falar!
E o que falar dos personagens principais? O único com um pouco mais de personalidade e profundidade é o Will, mas isso se deve apenas ao fato de que, sendo um romance voltado para o público feminino cis-hétero, ele precisava ser "interessante" e nós leitoras precisávamos nos apaixonar pelo menos um pouco por ele, mas a autora não tomou o mesmo esforço para desenvolver a Annie.
Ou melhor, ela até o fez — precariamente, mas fez — em um diálogo de 10 páginas completamente apressado e fora de hora lá pelos 75% do livro com uma personagem que eu teria adorado conhecer melhor e ter sentido mais sua importância para a protagonista, mas, novamente, se nem os protagonistas foram bem escritos imagine então os secundários.
E por falar neles, eu preciso falar sobre a cidade em que se passa o livro porque eu amo livros em cidades pequenas, mas a representação de cidade pequena em Practice Makes Perfect é uma verdadeira tristeza de se ler.
Eu achei engraçado, senão triste, a forma como a cidade pequena onde eles moram tenta passar um ar de a grande família em que todos se amam e vivem num constante estado de tapas e beijos, mas ela mais me pareceu os cenários de papelão de novela das 7 em que as casas só tem um cômodo, em que os moradores falam as mesmas 3 frases com palavras diferentes e em que tudo se orquestra de maneira a beneficiar o andar do enredo do livro. Ou seja, nada que os secundários fazem são em função de suas próprias histórias no plano de fundo, mas uma contribuição ativa para que algo aconteça na história da protagonista e seu interesse romântico.
Dizer que os personagens secundários são bidimensionais seria até gentil, quando eu nem sei se ele são muito mais do que "vizinho mecânico", "vizinha fofoqueira", "vizinha barraqueira", "vizinho caipira", "irmã chata 1", "irmã chata 2 cozinheira" e assim por diante. Isso para mim é muito triste, pois em um livro focado em romance construir bons personagens secundários e dar uma atmosfera mais imersiva ao ambiente que a personagem vive contribui muito para o aproveitamento da leitura.
E pra terminar essa parte: o tão odiado conflito de 3/4 do livro — que é uma clássica ferramenta dos livros de romance para evitar que o livro caia na monotonia após o casal finalmente ficar junto — aqui não serviu nem para fazer raiva ao leitor, pois o "problema" é tão facilmente resolvido e...
dura por tão poucas páginas e...
você já tá tão cheio de tanto clichê reciclado sem nenhuma subversão, nenhum toque de originalidade, nada para temperar, nada pra inovar...
que sinceramente eu me peguei torcendo para que o problema realmente se concretizasse e só assim algo de interessante realmente acontecesse nesse livro.
Por fim, eu recomendaria esse livro (pois mais uma vez eu não odiei, só achei ruim) para:
quem precisa de uma leitura rápida e fácil, com bastante diálogo e pouca coisa para entender;
quem quiser muito estar na cabeça de uma protagonista que sabe que está sendo lida e precisa o tempo todo quebrar a 4ª parede para fazer uma piadinha autodepreciativa ou um comentário "????" das ideias;
fãs de romance estilo rom-com da netflix (os que não são bons);
quem não se importa em ler personagens mal escritos e pouco desenvolvidos e só quer ler pegação, porém uma pegação adequada para -18, é claro.
...
até porque o arco da protagonista em busca de autoconhecimento e de ser vista como uma mulher adulta pela família e pela cidade não seria beneficiado de maneira alguma por uma cena de sexo levemente mais explícita em que ela finalmente se entende como a mulher que é e alcança a liberação sexual que ela mesma faz referência inúmeras vezes ao longo do livro como algo que ela gostaria de viver. (contém ironia).