Livros da Julie 14/02/2024Uma história surpreendente, baseada em casos reais-----
"Não sei (...) se lá atrás perdi aquela aula em que todos aprenderam como falar sobre (...) [coisa] nenhuma o dia inteiro e achar que é importante ou, pelo menos, fingir que sim —, mas, de alguma forma, nunca aprendi o truque."
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"Não é melhor ser a tímida ou a que pega geral ou a junky ou a bully do que a sozinha? Do resto você até pode rir, virar as costas ou fingir que não é verdade, mas quando está sozinha, não há a quem recorrer. Você precisa dos outros: gente com quem se sentar para almoçar, para segurar seu lugar na fila ou esperar o ônibus com você depois da aula. Estar sozinha sinaliza que você é esquisita. Diferente."
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"Coisas horríveis não deveriam acontecer num lugar tão bonito."
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"Será que se alguém vasculhasse a fundo, todo nós não pareceríamos culpados?"
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"Qualquer um de nós poderia parecer um monstro com leituras seletivas de nossa história"
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Morre aqui foi a leitura coletiva de maio passado da Editora Valentina promovida pelo @clubeliterarioferavellar.
O que era para ser uma empolgante viagem de férias entre amigos em um paraíso tropical acaba em tragédia. O desespero de encontrar a melhor amiga morta se transforma em um verdadeiro pesadelo para Anna Chevalier, ao ser acusada pelo assassinato de Elise.
Infelizmente, os indícios encontrados pela polícia não são nada favoráveis. As circunstâncias sugerem sua culpa e até os amigos começam a suspeitar da jovem. Mantida sob custódia em um país estrangeiro, ela pouco pode fazer para lutar contra a injustiça que sofreu. Só lhe resta manter a esperança até o julgamento e convencer a todos de sua inocência.
A leitura é rápida e é impossível parar de ler. Os capítulos são curtos e a escrita é simples e direta. A autora constrói habilmente uma narrativa que prende a atenção. O texto é pontuado pela transcrição de interrogatórios e marcado por constantes saltos temporais, que alternam o presente com flashbacks de momentos anteriores ao crime, desde quando Anna conheceu Elise no colégio até a viagem.
Neste livro retomamos a temática de prisões e confusões em que os adolescentes se envolvem. A ambientação, contudo, contrasta a gravidade do caso com a belíssima ilha de Aruba, que já tive a oportunidade de conhecer e da qual guardo ótimas recordações.
O início deixa uma grande interrogação na cabeça do leitor, pois não explica porque Anna foi considerada culpada. Aos poucos, porém, compreendemos como chegaram a essa suposição e a cada revelação do passado e vislumbre de sua personalidade também passamos a desconfiar da protagonista.
Em contrapartida, o relato do início da amizade de Anna e Elise é tocante. A relação entre elas parecia eterna e invencível, mais forte que tudo e todos, nos bons e maus momentos, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. É a partir dessa premissa que o livro vai tratar da paixão que cega e de relacionamentos obsessivos, baseados em apego e posse.
Abigail também aborda a questão do posicionamento da mídia e do pré-julgamento da sociedade, que toma partido e condena em um piscar de olhos, sem deter todas as informações. Cada um pode ter uma percepção ou interpretação totalmente diferente do mesmo fato, e normalmente só se enxerga uma situação por um único ponto de vista: o próprio.
A história nos prende de uma forma impressionante. Em pouco tempo a gente se pega refletindo sobre a vida e a morte, sobre o amor e suas decepções, sobre as reviravoltas do destino. Nada pode ser dado como certo, tudo pode mudar a qualquer instante. A vida pode ser de um jeito e, no segundo seguinte, se tornar completamente diferente. Uma palavra, uma ação, um comportamento, uma escolha, uma decisão planejada ou impensada e a vida toma outro rumo.
A trama nos leva a cogitar inúmeras possibilidades. A tensão aumenta paulatinamente e ao fim já estamos tão ansiosos e desgastados quanto a protagonista. A revelação final é chocante e, de certo modo, muito triste. Infelizmente, não conhecemos ninguém de verdade e as pessoas não se cansam de nos surpreender.
Vale a pena pesquisar sobre Natalee Holloway e assistir ao documentário "Amanda Knox", disponível na @netflixbrasil, os dois casos em que a autora se baseou para escrever o livro.
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