Carlos Souza 17/03/2023
Como já disse Haper Lee: "A única coisa que não se deve curvar ao julgamento da maioria é a consciência de uma pessoa". Então, serei o mais sincero possível...
Não sei nem por onde começar... Sendo assim, acho que vou expressar todo o trajeto até "Corrupted" e depois falar sobre o livro em si. No ano passado, uma grande amiga me indicou o primeiro e segundo livro da série "Toxic City" e mesmo não sendo o meu "tipo" de livro favorito, surpreendentemente, eu gostei muito! Fiquei extremamente imerso no enredo do Aaron e nos mistérios que envolvem todo o caso do assassinato de Mathias Myers, além de mais pra frente, ficar obcecado pelo Travor e pelos demais personagens, principalmente, as femininas, que ao meu ver, foram muito bem construídas. Acho que o que mais me puxou para os dois primeiros livros foi a áurea de família e lealdade que envolve o núcleo dos personagens e como eles, mesmo sendo falhos, e eles são... Protegem-se forma incondicional, mesmo quando não concordam e eles não concordam em muitas coisas, afinal, cada um carrega uma bagagem de traumas vasta. Sendo então, pessoas completamente quebradas, perdidas, mas não sem salvação.
Acho que, por incrível que pareça, os trechos que eram produzidos pela "Toxic" eram os mais interessantes, o porquê disso? É simples, ela era uma persona, um pseudônimo de uma das personagens principais, mas de alguma maneira, era também a voz do leitor que, ao longo dos arcos e das descobertas gritava na cara da cidade o quão hipócrita e cruel era seu posicionamento e o quão perigosa era sua leitura deturpada sobre dois indivíduos que literalmente comeram o pão que o diabo amassou. Isso, antes mesmo, de conhecermos os acontecimentos da perspectiva do Travor, e da Lovely... Uma ressalva especial pra ela, porque: "🤬 #$%!& !"... Que mulher resiliente. Enfim, mesmo não sendo uma obra perfeita desde o começo, ela conseguiu conquistar minha atenção e meu carinho, apesar das problemáticas e dos comportamentos agressivos e estranhos que aconteciam ao longo dos dois livros. E depois de uns meses lendo, finalmente, eu cheguei ao final do segundo volume... Momento esse que, finalmente, é responsável por nos revelar quem é o assassino e completar uma parte importante do quebra-cabeças. Portanto, vocês devem imaginar o quão ansioso fiquei para o final... E depois de enrolar para pensar... Falemos dele.
Sobre o terceiro livro, uma das minhas bandas favoritas possui uma música que diz assim: "Goodbyes are bitter-sweet", eu nunca tinha refletido sobre o que significava isso... Até esse mês. Antes de começar os comentários, preciso dizer que, em parte, talvez, isso tenha acontecido dessa forma por causa das expectativas e nesse ponto, nem livro e nem autora possuem qualquer demérito. Simples assim, nem Harry Styles agrada todo mundo... Bom, agora que assumi minha parcela de culpa, aí vou eu...
Primeiro de tudo, eu acho que não era necessário dividir o último livro em dois. Tudo bem que uma construção era necessária para o Travor e Lovely, mas nesse segundo volume, em específico, eu me senti um tanto perdido ou até me questionando o quão importante eram determinadas cenas para o desenvolvimento ou finalização do enredo. Obviamente, eu sei que o primeiro e segundo livro, de um modo gera, expressa somente uma parcela da perspectiva dos acontecimentos, e que era necessário justificar e esclarecer algumas coisas da perspectiva do Travor, mas em certas cenas, eu só fiquei: "Beleza" ou "E agora?" ou "Humm... Ok". Me senti semelhante ao livro do Tucker em "Amores Improváveis/ Off-Brancos" quando vemos várias coisas se repetindo. Pode ter funcionado pra alguém, mas comigo não rolou.
Outra coisa, um ponto positivo, gostei de praticamente todos os capítulos na perspectiva da Lovely, acho que ela teve um crescimento bacana e foram abordados pontos importantes da perspectiva de uma vítima de uma violência hedionda e que passa por todas as etapas de superação.
Bom, agora, vamos para o que não me deixou tão feliz... Em inúmeros momentos, principalmente, quando o cenário ficou exclusivamente no porão até então conhecido, eu senti que os diálogos e até o desenvolvimento dos personagens caíram muito, mais muito mesmo. Nos dois primeiros livros, como esperado, existiam inúmeras cenas +18 e que até eram questionáveis, mas isso não me incomodava tanto, mas nesse, juro, eu só conseguia pensar: "Sério? Outra vez?", tipo, acho que, por exemplo, os momentos que trataram de temas como ansiedade e crise de pânico foram importantes, mas, sinceramente, pensei mais de uma vez se a "repetição" (com ressalva para a limitação do espaço de atuação dos personagens, tendo em vista que o Travor era fugitivo) de tais cenas não foi uma estratégia para estender mais o livro. Não irei nem comentar, uma cena +18 em específico que, sinceramente, eu não entendi.
Outro ponto relativamente positivo, algumas reviravoltas me surpreenderam demais, sério, não esperava nada daquilo da mãe dos personagens, quando sofrimento, meu pai. E, abrindo um parênteses aqui, senti falta do Aaron, de verdade, no primeiro momento em que apareceu o "texto da Toxic", eu dei um pulo, porque achava que teríamos o revezamento entre os personagens, mas acho que isso foi mais burrice minha que outra coisa... Contudo, para o livro que "encerra" o universo, pra mim, faltaram personagens como a Falyn, que são tão importantes e queridos (digo isso, no sentido de, novas informações e não flashbacks, mas eu entendo que o livro foi majoritariamente escrito no passado).
Agora, por último, o que mais me deixou triste. Eu amei, amei de verdade que o final foi "feliz", até postei numa publicidade que esperava algo semelhante ao que foi entregue, mas eu não consegui gostar de como tudo foi feito. Entrarei agora em um aspecto que me deixou extremamente decepcionado... Ao meu ver, ao longo dos livros, uma das mensagens principais era que "nós" enquanto seres humanos possuímos uma tendência ao julgamento e ao preconceito com quem é desviante de um padrão de comportamento, isso sem nos atentarmos com as verdades que estão por trás dos sujeitos e de suas ações. O Travor e o Aaron eram vistos como errados, corrompidos, perigosos, quando na verdade, eram sujeitos que tinham traumas e foram violentados pelos outros e pela vida, mas que sempre "Stand Up and Fight", mas eu acho que no fim de tudo, aquilo que tão foi criticado acabou se tornando realidade. Semelhante ao que aconteceu em "Corte de Chamas Prateadas" da Sarah J. Maas, eu não consegui reconhecer o Travor ou entender o porquê desse caminho ser escolhido, mais uma vez, eu até entendo que o ocorrido final, principalmente, com o desgraçado do Justin é a representação da vontade de muita gente frente aos casos de violência... Mas do jeito que foi feito, todo aquele capítulo gráfico, com tortura psicológica, sinceramente, eu não comprei. O discurso do ciclo da violência e do justiçamento não é algo que deveria ser aceito, mesmo que ele pareça justo e em muitos casos, porém, mesmo assim, me fez genuinamente mal. Não entendi como para "equilibrar" ou acertar contas de algo imperdoável, você pratica o mesmo, talvez até de uma forma mais brutal. Enfim, essa é uma opinião, podem discordar. Mas passar dois livros acreditando que o sujeito não é um assassino pra no final ele se tornar um.... Acima de tudo isso, repito, acho que foi o jeito que foi feito, não me incomoda tanto a morte em si, mas como foi feita, basicamente, comprovando o que todos já achavam. Antes de encaminhar a síntese final, preciso dizer, esse é outro ponto, achei que para se tratar temas sensíveis como o abordado no livro, é preciso ter mais cuidado e tato. Na minha opinião, não adianta somente colocar um aviso de gatilho ou de conteúdo, se vai fazer, faça com seriedade, que é algo que ocorre nos dois primeiros, mas que nesse desandou.
Síntese final da trilogia: livros que possuem uma excelente escrita, personagens maravilhosos e um universo que prende, uma ótima pedida, mas que se perde no final. É o retrato de "Os fins justificam os meios", mas pra mim, não adianta um final feliz manchado de violência que não está ligada com o sentido.