Valéria Cristina 06/02/2024
Atual, ainda
Em uma cidade no interior do Brasil, um crime choca a pequena comunidade: uma mulher foi queimada viva. A partir desse fato, Micheliny Verunschk conta-nos uma história estarrecedora e atual.
A vítima foi queimada em um ritual de “purificação” em conformidade com preceitos religiosos nos quais os autores acreditavam. A violência aparece de forma constante nessa comunidade evangélica. Diversos crimes são descortinados ao longo da narrativa: duas mulheres são encontradas mortas, um rapaz é assassinado. Todos eles de motivação suspeita e indefensável.
A profundidade da história (que contém apenas 144 páginas) revela-nos um Brasil que nega sua ancestralidade indígena e africana, que suporta a violência policial, que fecha os olhos para o fanatismo e a intolerância religiosa, que está arraigado em preconceitos de todas as formas, que objetifica a mulher e que tolera o ódio que lhes é devotado.
Este é um livro inovador no aspecto em que o leitor vai “montando” a história por meio das várias vozes que vão surgindo ao longo da leitura. Nada está explícito: a dor das personagens, a luta pela sobrevivência, o medo, o abandono, as consequências de suas escolhas. Tudo é mais ou menos silencioso.
Esta história poderia ser ambientada em qualquer cidade brasileira, em qualquer época, pois o que está marcado nestas páginas já aconteceu e continua acontecendo, mesmo que os fatos estejam revestidos com outra roupagem.
A autora é escritora com onze livros de prosa e poesia publicados e tem experiência em jornalismo cultural, produção cultural e na coordenação editorial de materiais de apoio ao professor e catálogos de artes. Ganhadora dos Prêmio Jabuti e Oceanos de Literatura na Categoria Romance do ano de 2022. É palestrante convidada para eventos referentes à cultura e literatura brasileira contemporânea. Atua principalmente nas áreas de comunicação, história, literatura brasileira e portuguesa, poesia, prosa e cultura.