spoiler visualizarLory 07/04/2024
Deslumbrada
Eu quero começar essa resenha dizendo que eu já tinha grandes expectativas. A história tá cheia de elementos que eu adoro, então eu estava super ansiosa pra ver a ambientação e conhecer os personagens — de quem eu já ouvia falar bastante, porque já seguia as autoras nas redes sociais, e via as interações do fandom.
Só que PDA conseguiu superar todas as minhas expectativas.
Esse primeiro livro é uma introdução muito rica; tão rica, que eu li o livro sem a sensação de que era uma introdução. As relações são dispostas na história numa dinâmica muito fácil de compreender, e tudo que é apresentado nesse universo é muito charmoso.
Eu vou separar minhas impressões em partes.
Primeiramente, já tinha algum tempo que eu não lia alta fantasia. O universo criado por Bex e Thai é tão encantador, as referências culturais são tão ricas e descritas de forma tão habilidosa, que é como se eu estivesse assistindo um anime. Eu conseguia visualizar cada gesto, cada movimento, cada detalhe com a clareza de um filme. Ainda assim, nenhuma descrição foi maçante ou exagerada; os detalhes eram colocados de forma muito dinâmica no texto, então não achei cansativo em nenhum momento.
Sobre os personagens: Eu estou apaixonada por todos eles.
O Yusuke tomou bastante minha atenção na primeira parte — provavelmente porque ele apareceu mais —, e eu achei que os outros talvez não me cativassem tanto quanto ele, mas estava redondamente enganada. Bex e Thai criaram personagens muito consistentes, mas ao mesmo tempo cheios de facetas e contrariedades.
Yusuke, por exemplo, é rancoroso e irritadinho; um tsundere clássico. Samurai, corpo treinado pra lutar, mente ensinada a não se render ou se deixar enganar, olhos atentos ao perigo iminente. Mas esse mesmo coração rancoroso é tão sensível, se quebrou tão profundamente com um único empurrão. Esse corpo de lutador também é cheio de fragilidades; ele enjoa fácil, tem alergia a gatinhos. Essa mente que não cede também se perde remoendo coisas que ele não deixa pra trás; não quer se enganar, mas não consegue evitar se preocupar; não consegue evitar chorar com seus pesadelos. Esses olhos, quase sempre atentos, também são tímidos e curiosos; olham mais do que o perigo, mas também cada traço de quem ele jura que odeia.
Enquanto isso, Tetsurou é o suposto elo mais frágil desse trio. Ele tem um coração bondoso e altruísta, um sorriso gentil e amoroso, vontade genuína de ajudar. Mas foi dele quem partiu o empurrão que quebrou o coração do Yuu, é o corpo dele que resiste à remédios — e provavelmente à venenos —, é ele quem consegue manter um pouco mais de calma quando tudo é caótico e sem sentido, que consegue olhar pra um mundo que pode matá-lo a qualquer momento com muito mais encantamento do que medo.
O Zen é, de longe, o personagem mais misterioso pra mim até agora. Mesmo ele, com toda a pompa de príncipe, intocável, o mais poderoso, o mais saboroso (dezoito, dezoito, dezoito), também me pareceu só um pupilo rebelde quando ficou diante da Inari. E isso me fez ainda mais apegada a ele, porque embora eu saiba que ele é um vilão delicioso, de caráter duvidável, ficou muito claro que ele também tem mais faces além dessa, e eu tô muito ansiosa pra ver.
E se eles como personagens, individualmente, já são incríveis, eu preciso de um momento pra dizer que eles juntos me tiraram do eixo. Cada interação foi muito diferente, mas todas me deixaram com o coração na boca.
O Zen com o Yuu foi muito divertido de acompanhar. A impressão que eu tive é que era uma das primeiras vezes que o Yuu se via incapaz de não reparar da beleza extravagante de alguém. Não que ele não achasse que as pessoas eram atraentes, mas — acredito eu — que ele experimentou se sentir atraído muito pouco, e — de novo, acredito eu — se repreendeu por isso. Agora, parece ainda mais irritante pra ele, porque o laço que ele está criando com o Zen inicialmente é muito mais “negativo” do que positivo, mas ainda assim, ele não consegue se impedir de se constranger. E o Zen tá acostumado a ser saboroso né, é nítido que não apenas isso, mas qualquer reação do Yuu é a coisa mais divertida do mundo pra ele. Amo inclusive, como o Yuu, apesar do medo, ainda bate de frente com ele, mesmo sabendo que não tem como ganhar. Ele não quer perder, ele não quer ser fraco, ele luta mesmo contra as expectativas e eu o amo.
O Zen com o Tetsu me arrancou uns gritos finos vergonhosos. Se com o Yuu, diversão era o afronte, com o Tetsu, era o puro fascínio. Eu sentia isso vindo dos dois, era como se eles se olhassem e vissem algo de preciosidade inestimável, algo de um encanto sem igual. Eu não vi tanto da mente do Zen, mas algumas ações dele me fizeram crer que o Tetsu cavou um espacinho de “proteção à minha posse” bastante dúbia no coração vilanesco do Zen. Enquanto o Yuu grita esperando respostas que o Zen, propositalmente, evita entregar a ele, o Tetsu só precisa olhar pra essa raposa pra ele entender e responder. E eu amei como isso mostra os papeis de cada um nessa relação.
Mas por último, e não menos importante: Yuu e Tetsu.
Se os anteriores me arrancaram risadas e gritinhos, esse aqui me arrancou suspiros e lágrimas. Estar na mente dos dois é doloroso demais, quando o assunto é o outro. A mágoa do Yuu é muito palpável, pesada e densa, mas é tão claro que só é assim porque o sentimento dele pelo Tetsu é forte demais, que eu senti dor de verdade. E mesmo com o rancor quase fazendo o Yuu ir de camisa de saudade eterna, ele ainda faz muita coisa apesar da mágoa. Ele ainda observa cada movimentação do Tetsu apesar da mágoa, ainda observa as marcas no corpo dele, preocupado, apesar da mágoa… ainda vai atrás dele em Akayama apesar da mágoa. E as desculpas que ele dá pra si mesmo podem ser convincentes por enquanto, mas quero ver até quando.
E o Tetsu… cada vez que ele olha pro Yuu, eu sinto meus olhos encherem d’água. Eu sinto que ele aproveita cada toque, por mínimo que seja, cada cheirinho de sal e sol, cada vez que o Yuu olha pra ele, mesmo que não seja como antes. Mesmo que o toque hoje seja mais bruto, que o olhar seja mais irritado, que as palavras sejam impacientes. Porque ele tá morrendo de saudade. E parece que sou que sinto, de tão forte que é. Ele vai aceitar qualquer aproximação, porque ele sente que não tem o direito de mais nada, então o pouco é tudo. O pouco é uma benção, um milagre.
A culpa entre os dois é muito intensa também. Porque apesar do Yuu ter todo esse rancor, ele ainda acha que o Tetsu é uma pessoa melhor que ele. Ainda que haja ressentimento, ele ainda vê muito valor na existência do Tetsurou, ainda se vê incapaz de deixá-lo pra trás. E isso é uma característica muito admirável nesse personagem. O Yuu é muito fiel às próprias convicções, ao próprio coração; tanto pro bem (quando não quis se afastar do Tetsu apesar do que os pais diziam), quanto pro mal (quando não consegue se livrar dos sentimentos ruins que ele ainda nutre). Eu tô bastante ansiosa pra ver como eles vão se desenvolver agora, depois do encontro com Inari, como esses corações vão se remendar, e que outro formato lindo a relação deles vai tomar (além do romance, é claro), como essa analogia linda e perfeita das conchas quebradas no capítulo extra, no finalzinho.
Também tô muito ansiosa pela aparição de novos personagens, e dos antigos também. Desesperada por essa nova aventura, para o que os aguarda e, é lógico, pelo retorno do Zen depois daquele final.
Já tô no comecinho do segundo volume, mas não podia deixar de falar tudo que eu pensei e senti lendo essa história. Completamente fascinada e obcecada pela existência de PDA. Acho que se tornou minha própria Shinzou Kusa na Akayama do meu coração.