Vitória 14/12/2023
Terrível
Já tem um bom tempo, acho que desde o lançamento do segundo volume da série dos persaneses da Benê, que eu venho procurando outros monster romances, em que os protagonistas sejam monstrões real oficial, pra ler, e confesso que a minha procura não tem dado em bons resultados. Esse eu me interessei logo pela capa, afinal, não tem como olhar pra um bicho desses de mais de 2 metros e não pensar "quero isso no meu Kindle agora, sem falar que a protagonista, numa primeira olhada me parecia ser gorda (tenho considerações e reclamações a respeito disso, mas falarei sobre isso mais pra frente). Atropelei todo o meu planejamento de leituras pra passar esse daqui na frente porque o meu fogo de ler esse livro estava gigantesco, e mesmo assim eu não encontrei nada aqui que valesse o meu tempo. Eu realmente sempre tento encontrar alguma coisa de boa pra falar sobre os livros que leio, ainda mais quando são de autoras nacionais independentes, mas aqui não existe nada.
Em primeiro lugar eu tenho que dizer que fui moleque e cometi o erro de não pesquisar nada sobre a autora antes de iniciar a leitura. Eu já li Dusham, também da Dani Medina, esse ano, e esse entrou facilmente pra minha lista de piores do ano, quem sabe da vida. Apontei vários erros da autora na escrita e construção daquela obra, e posso dizer que todos eles se repetem aqui, alguns chegam até a piorar, afinal estamos falando de uma história com um plano de fundo de fantasia. A escrita é fraca, encontrei vários erros de revisão ao longo do livro, e a principal sensação que a leitura me passou foi que a Dani começou a escrever isso daqui do nada, sem planejamento algum, porque a construção do universo em que se passa a narrativa não faz sentido com ele próprio.
O livro inicia mostrando o motivo pelo qual o Auror foi banido, e as coisas já começam a ficar mal explicadas aqui. Só nos é dito que o Auror flagrou a prometida dele com o seu melhor amigo, mas isso não faz sentido com a mínima construção que esses personagens tinham até ali, e o leitor não recebe resposta alguma pra isso porque eles são mortos. Mas espera aí, porque como se não bastasse a autora vai aparecer com uma desculpinha fajuta lá pelo meio do livro pra dizer que na verdade a prometida dele não morreu (apesar do Auror ter certeza de que a matou), que ela estava escondida esse tempo todo e que a Anira, mocinha dessa patacoada, é filha dela. Como se não bastasse esse enredo fajuto, a autora tenta criar um sistema mágico e estabelece algumas regras aqui, como o fato dos férnus conseguirem sentir a presença uns dos outros por meio do olfato, por exemplo. Mas nenhuma dessas regras importa, porque ela quebra todas elas ao longo da história com a desculpa (uma mais barata do que a anterior) de que foi usada "magia antiga". E me desculpem, mas se a autora cria um universo onde absolutamente tudo é possível com a tal da magia antiga, e no qual não existem regras, ela claramente não se esforçou nada durante essa criação. Eu estou longe de ser a pessoa que exige coisas complicadíssimas de monster romance, afinal a fantasia aqui é apenas um tópico, o foco principal é o romance, mas existe algo mínimo que precisa ser entregue pro leitor pra que a história faça sentido, e aqui eu não recebi sequer isso.
Todos os plots são extremamente convenientes pra que os protagonistas se conheçam e fiquem juntos. Eu falei ali em cima que o foco principal nesses livros é o romance, mas aqui a gente também não tem isso. Os personagens não são bem desenvolvidos, o único traço de personalidade da Anira é ser uma veterinária e querer ajudar os animais, enquanto o do Auror é ser um líder e ter uns remorsos sobre o que aconteceu com ele no passado. Por causa disso, a gente sequer pode ter aquelas cenas em que os dois sentam, conversam, se conhecem e se apaixonam, porque é impossível conversar com uma pessoa que tem a mesma profundidade de um pires. Depois dessa patacoada toda eu ainda estava com esperança do hot salvar, afinal nós temos um mostrengo de dois metros na capa justamente pra isso, mas pra mim as cenas hot só deixaram claro que era a primeira vez que a autora tentava escrever algo no gênero monster e como ela não teve treino nenhum pra isso. Eu consigo pensar em trocentas milhões de coisas diferentes, que a gente não lê em hots que não são monster simplesmente por não serem possíveis nesses casos, que os dois poderiam fazer aqui, mas a autora prefere ficar no hotzinho água com açúcar e perder uma oportunidade de fazer algo incrível. Nem o fato do cara ser um ursão é aproveitado. Pra não dizer que tem nada, ela inventa um nó, tal qual de cachorro, que faz os dois ficarem ligados depois do vocês sabem o quê, mas sinceramente, perto de tudo o que poderia ser feito, isso foi extremamente desinteressante.
Não entendi metade dos plots de como esses férnus eram uma comunidade tão fechada e do nada deixam a amiga da Anira entrar lá, por que aqueles oráculos são um deus ex-machina e resolvem absolutamente qualquer problema, ou o motivo pelo qual um dos férnus dessa comunidade fechada começa a se relacionar com a amiga da Anira, mas eu realmente não estou nem aí pra isso. Já sabia na metade dessa leitura que eu só iria concluir ela pra ter o direito de reclamar muito aqui, mas nunca mais quero ver nada dessa série na minha frente, então vai com Deus, meu chapa. A última coisa que eu queria pontuar aqui, porque acho importante, mas deixo escrito em letras garrafais desde já que NÃO ESTOU ACUSANDO A AUTORA DANI MEDINA DE NADA, é que seria bom da parte dela prestar mais atenção em alguns detalhes da história, quem sabe passar esse livro por uma leitura sensível. Como eu disse no início, pela ilustração da capa, eu pensei que a personagem feminina era uma mulher gorda, e só isso já é um ponto gigantesco pra que eu leia, afinal essa que vos fala também é uma mulher gorda. Então imaginem a minha surpresa quando a autora descreve a Anira como uma mulher de coxas grossas, bunda e peitos grandes, mas de barriga chapada. Acho sempre bom lembrar que é maravilhoso vermos protagonistas nos livros com corpos reais (o que não aconteceu aqui), e que gordofobia não é algo aceitável na vida real nem na ficção. Além disso, notei o uso de algumas expressões durante o livro inteiro, como é o caso de "lista negra". Racismo é crime, mas eu nem estou dizendo que aconteceu algo do tipo aqui, porque não quero que o processinho chegue na minha casa, mas pra que não digam que eu estou mentindo, o trecho está na página 280. É isso, um beijo da Anitta e até nunca mais.