anntoniords 20/05/2024
Primeiro contato com a escrita de Jon Fosse
Meu interesse em ler as obras do Jon Fosse começou quando descobri que o autor foi ganhador do nobel de literatura de 2023. Eu sempre acabo flertando um pouco com os livros de ganhadores do nobel, porque quero entender o que leva os autores premiados a serem reconhecidos com um prêmio dessa magnitude.
Ainda não li o livro que levou Fosse a ser o ganhador do prêmio, porém tenho enorme interesse em lê-lo. De qualquer forma, essa resenha não é sobre o livro ganhador do nobel. É sobre Brancura, um livro curto que mexeu comigo de forma contraditória.
Brancura conta a história de um homem que, impulsionado por uma inquietação, decide sair de casa sem ter um lugar para onde ir. Às vezes seguindo pela esquerda, outras pela direita, ele acaba parando próximo à uma floresta e tem seu carro atolado. A partir disso, ele percebe que precisa procurar ajuda. No entanto, ainda controlado pela impulsividade, decide entrar na floresta.
A história em si não chama atenção, ao menos para mim. Não há nada nela que me prenda na leitura, além da escrita prolixa do Fosse, que pode ser interessante para quem começa a ler este livro, por se tratar de algo que, ao menos eu, nunca vi antes.
Claro que há muitos exageros, como se o autor tivesse intenção apenas de completar o número de páginas para ter um livro em mãos. Mas, apesar disso, tenho uma opinião formada quanto ao seu modo de escrever.
Em alguns momentos penso que o propósito não é apenas para dar tamanho ao texto, mas sim para mostrar o pensamento acelerado do personagem principal. Eu - alguém que não consegue aquietar a mente e precisa se esforçar muito para não pensar demais - me identifiquei totalmente com ele. Esse foi o catalisador para que eu continuasse a leitura: a empatia com o personagem.
O personagem tem o problema diante de si, e precisa resolver. O primeiro passo é raciocinar sobre o que está acontecendo, depois tomar o melhor caminho para solucioná-lo. Porém, seus pensamentos resolutórios são cortados por outros pensamentos, que ele luta contra para sempre ter em mente seu único objetivo: sair da floresta. Sair da floresta. Sair da floresta.
Esse pensamento vai e vem, ele se perde mais e mais, permanece imóvel, senta numa pedra, divaga, caminha, vê seus pais - ou alucina -, um homem de terno preto e uma entidade que ele chama de Brancura, reflete sobre a vida, vê a neve cair, o tempo ficar cada vez mais escuro, voltar a clarear pelo luar amarelado, e por aí vai... E o fim chega, com - para mim - uma única interpretação: de que o protagonista morre congelado e vai para o além, guiado pela Brancura.
A escrita é o que mais chama atenção em toda a história. Parece um fluxo de consciência do personagem, que não sabe como lidar com o problema e se perde tanto na floresta, como em pensamentos.
Apesar da prolixidade da narrativa, a escrita é fluida e fácil de entender. Porém, fica nítido que o toque experimental que o Fosse deu nessa obra não é para qualquer um. Pode ser uma leitura difícil se você não estiver habituado a experimentar novos tipos de escrita.