Lorena 18/01/2024
Que nordestinos são esses?
Primeiramente, quanto ao talento da autora, este é inquestionável. Ela tem um bom malabarismo com as palavras. Dá para ver que ela nasceu com esse presente lindíssimo que é o dom da escrita. Também é uma pessoa muito carismática com quem tive a chance de desenvolver breves conversas. Merece ter muito sucesso em sua carreira, tanto é que me dói um pouquinho as duas estrelas que estou prestes a dar.
Por outro lado, no começo da estória, me envolvi bastante, gostei muito, mas depois fui vendo algumas coisas que costumam cair muito no meu conceito em relação a livros nacionais.
Sou totalmente a favor de incentivarmos autores conterrâneos, acontece que esses mesmos conterrâneos são, por vezes, incapazes de trazer uma representatividade autêntica. Julie Pedrosa, infelizmente, está nesse grupo.
Já perdi as contas de quantos livros nacionais americanizados vieram parar no meu Kindle, repletos de estereótipos nova iorquinos ou californianos com os quais eu não poderia me importar menos.
Geralmente, abandono esses livros antes mesmo de terminar o primeiro capítulo, mas devido a escrita envolvente de Julie, resolvi seguir até o final para ver onde ia dar.
Para um adolescente, esse livro deve estar incrível, afinal de contas é a faixa etária perfeita para se encantar por qualquer coisa piegas que lhe ofereçam.
A protagonista, Jade, em um dado momento, come panquecas em seu café da manhã em plena Recife. Uma das falhas mais conhecidas dos autores brasileiros que escrevem young adult. Sonho com o dia que o brasileiro não terá vergonha de valorizar seu pão com manteiga ou seu pratinho de cuscuz.
Menos mal que escritores como Clarice Lispector, Jorge Amado e Graciliano Ramos já faleceram e foram poupados de ver o que a literatura brasileira tem se tornado.
E eu nem vou falar sobre as referências a Titanic e Celine Dion. Repito, em plena Recife e com a cultura riquíssima que ela oferece.
Por fim, a insistência em chamar Rosaline de ruiva me fez querer arrancar os cabelos. Além de ser um recurso bastante utilizado nos livros ianques, é cansativo.
Os personagens têm a profundidade de um pires e a estória acontece tão rápido que comecei a desconfiar de que alguém estava apontando uma arma na cabeça dessa coitada pra ela escrever o mais rápido possível.
Não houve tempo nem espaço para nós conectarmos com os personagens, fazendo com que sejam artificiais.
O relacionamento de Jade com Rosaline é frio e entediante. O equilíbrio em abordar relacionamentos amorosos, principalmente sáfico, é uma árdua tarefa que deve ser levada em consideração. A autora acerta em cheio ao não sexualizar as personagens ou limitar cada uma ao fato de serem lésbicas, mas erra em cheio ao mostrar um relacionamento chato e pouco desenvolvido. As duas personagens parecem portas.
Enfim, gostei da escrita, não suportei a execução. Devo ressaltar que o final foi o que me fez não pensar que eu possa ter perdido meu tempo. Um final legal, coerente e amarradinho, sem deixar nenhum furo.