Feliky 26/10/2023
A capa é linda, mas infelizmente não gostei
Não costumo dropar leituras, mas essa aqui infelizmente vou. Li até o capítulo 9, mas a vontade de desistir tinha surgido antes. Imaginei que, como era o começo, era melhor eu continuar lendo porque tem livro que realmente engata mais lá para frente. Além disso, é nacional, então eu queria gostar. A capa tinha me atraído bastante, mérito de quem quer que tenha desenhado ela porque é realmente muito linda.
- Em primeiro lugar, a parte que mais me incomodou: a escrita.
Há uma repetição desnecessária envolvendo iluminação nas coisas e nas pessoas, cabelo vermelho, cachos escuros, gente mexendo no cabelo etc. A autora também descreve as roupas das pessoas em um nível que, sinceramente, pra esse livro em específico não achei necessário. Me deu a impressão de que tem uma pasta no Pinterest para roupas, pegou a imagem e descreveu diretamente todas as vezes que um personagem aparecia, mesmo quando não tem tanta utilidade narrativa assim. Em menos de 20% do livro, a mochila da Verônica foi descrita 3 vezes e fomos lembrados de que Agatha tem cabelo vermelho umas 4 vezes. Não sei se essa mochila vai ter alguma relevância lá pra frente do livro, mas, mesmo se tiver, não precisava ter tanta descrição dela em tão curto período de tempo. Às vezes a autora tenta ser poética (o que nem precisa, já que esse livro se propõe a ser um clichê simples) e acaba gerando momentos como dizer que Rubens tem olhos castanhos como amêndoas na primavera, algo assim.
Logo na primeira página do capítulo 1, a escrita já não me agradou. A descrição da cena com a Verônica (evitando falar o que é porque vai que consideram spoiler, mesmo sendo primeira página do cap 1) foi estranha, bagunçada, longa. Ao longo da livro, a escrita passa a alternar entre clínica demais para dar ritmo e emoção e repentinamente poética em momentos simples que não pediam por esse floreado todo.
Além disso, há um hábito de ficar botando "a garota", " a jovem" ou "a vampira" toda hora ao invés do nome. Na tentativa de não repetir o nome, repete esses substitutos.
- O romance
Eu não diria que esse livro é "banho-maria", eu diria que ele só é meio sem ritmo estabelecido quando o assunto é romance. As personagens começam a ter interesse na outra de forma muito aleatória e não têm química, embora a autora esteja tentando deixá-las com química com direito a apelidos como "vampirinha" e descrições de como uma achou a outra bonita, etc.
Esse livro também não é um "enemies to lovers", não se enganem! Tá mais pra um "rivals to lovers" e, mesmo assim, deixa a desejar. Verônica alterna entre ficar enchendo o saco da outra e sendo gentil e não de uma forma boa, mas de uma forma meio sem sentido mesmo. Elas têm um passado juntas envolvendo ambas serem trans que o livro fica repetindo, mas, sinceramente, não foi algo que eu imaginaria como "foi aqui que nos apaixonamos e desde então eu guardo esse sentimento, mas escondo porque nos distanciamos" e sim mais como "ah, dessa vez fulana foi legal comigo".
- Os personagens.
Os personagens pareciam muito arquétipos. E tudo bem que não li o livro inteiro, mas quando você lê lá pelos 40% de um livro e os personagens AINDA parecem arquétipos, então algo tá estranho. Se fosse um livro de saga/série, eu daria um desconto porque tem mais para desenvolver. Porém, como é um livro único, estava esperando que eles ficassem mais palpáveis mais cedo. E sim, ele não é muito longo, mas daí era só a autora ter escrito mais.
Agatha é a garota quietinha na dela, meio deslocada. Verônica é a garota popular "má" do colégio, que na realidade não é má. Danilo é o melhor amigo da garota quietinha que é mais sincerão e serve pra ouvir o desabafo dela. A senhora Lins é a mãe orgulhosa que bota muita pressão na filha. Etc etc. Talvez o mais longe de um arquétipo que temos é o Rubens, porque ele quebra um pouco a ideia de jogador popular e isso inclusive afeta a narrativa.
Como consequência, os relacionamentos entre eles também são um tanto quanto fracos e pouco me afetam como leitora.
- A ambientação.
É um livro nacional que surfou na divulgação de ser nacional, pelo menos nos posts de divulgação que vi. Do tipo "apoie uma autora nacional", "leia livros brasileiros", "se passa no Brasil", mas sinceramente? Tirando os nomes e a menção a uma faculdade brasileira, todo o resto é Estados Unidos. A forma como a escola funciona como um todo é, desde a ambientação física até o comportamento dos alunos. Mesmo aquele blog, que não só o nome é em inglês, como a existência dele em si foi tão??
Não tenho nada contra autores nacionais escrevendo livros com elementos dos EUA ou até mesmo nos próprios EUA, mas, nesse caso, que o livro não seja divulgado como diferente por ser brasileiro.
- Vampiro.
Achei o aspecto vampírico meio chato. Fica alternando entre uuuh vampiros mortais e vampiros que são basicamente gente com dente afiado, porém faz isso de forma instável. Me falaram que era um romance lésbico de vampiras, então fui muito ansiosa ler, mas a parte vampira não atingiu expectativas.
- LGBT
Há quem discorde de colocar sofrimento em relação a ser LGBT nos livros e há quem discorde de NÃO colocar. Não sou nenhum dos casos, pra mim ambos tão bons desde que façam sentido. Aqui não faz sentido. É estabelecido que lgbtfobia ainda existe e que, inclusive, não muito tempo atrás personagens passaram por isso. E ao mesmo tempo, nos dias mais recentes esses mesmos personagens são os mais populares, são o que todos querem andar, etc. Sinceramente, não achei crível.
- Verônica
A Verônica tem uns momentos que pelo amor de deus também. As vezes que ela tenta meio que "calar a boca" de alguém são de dar vergonha alheia. Desde a cena no vestiário até a da sala de aula de física, em que tivemos um literal "todos aplaudiram".
Nota: 1,5 ou 2. Não tenho certeza.