Mari 03/06/2020
Velho queridinho
Eu comecei a ter gosto pela leitura com uns 11/12 anos, mas só lia livros estrangeiros, pois achava que literatura brasileira era ruim, já que não gostava dos livros que as professoras passavam. Até que, quando eu tinha 15 anos, a professora passou os capítulos "Ana Terra" e "Um Certo Capitão Rodrigo" (capítulos do primeiro volume do Continente) e foi amor à primeira leitura, principalmente pela Ana Terra, que ainda é minha personagem brasileira preferida (numa disputa tensa com Capitu e Diadorim). Assim começou meu amor pela nossa literatura e desde então queria ler a saga completa.
Ao relatar um século de história da família Terra-Cambará, Veríssimo conta a história de seus ancestrais, do Rio Grande do Sul e, também, do Brasil. Um livro perfeito para quem gosta de história e essencial para todos os brasileiros, que, infelizmente, possuem o costume de ignorar suas origens. A parte da Revolução Farroupilha então, é sensacional, porque nos faz até questionar o uso do termo "revolução", já que o que aconteceu foi uma violenta guerra civil que durou quase 10 anos. Eu, pessoalmente, passei a gostar muito mais do uso de "Guerra dos Farrapos" para se referir a mesma.
Somos apresentados a uma vida muito sofrida, na qual, os homens do Rio Grande só são lembrados pelo Governo quando precisam entrar em guerra com os países vizinhos, mas os únicos que recebem agradecimento por esses serviços são os "coronéis", latifundiários que ganhavam ainda mais terras e mais poder com essas guerras, enquanto o povo vivia na pobreza. No romance, essa classe é representada pelos Amarais, que sempre estão em conflito com os Terra-Cambará.
Mas, as personagens que mais sofrem são as mulheres, que são verdadeiras fortalezas no livro e as personagens mais interessantes, o que é sensacional, porque Veríssimo relata uma sociedade em que é primordial "ser macho" do ponto de vista delas, que são condenadas a criar seus filhos sozinhas; esperar seus maridos, filhos, pais e irmãos voltarem das infinitas guerras e manter a família unida no meio de tudo isso. É triste perceber que apesar de termos conseguido muitos direitos, nós ainda temos muito mais a conquistar, pois nossa sociedade não está tão diferente daquela narrada por Veríssimo nos séculos XVIII e XIX.
"Entretanto o destino das mulheres naquele fim de mundo era bem melancólico. Não tinham muitos direitos e arcavam com quase todas as responsabilidades. Sua missão era ter filhos, criá-los, tomar conta da casa, cozinhar, lavar, coser e esperar." (A Teiniaguá - O Continente - vol. 2).