Carol 18/03/2021Definitivamente não foi o melhor livro da sérieImogen foi a personagem menos presente nessa série. Assim sendo, tive como base apenas algumas poucas facetas da personalidade dela. Com isso, obtive a concepção de ela ser recatada, calma e reclusa. Nada muito especial. Por esse motivo, o foco narrativo centrado nela foi estranho no começo.
À medida que a leitura evolui, nota-se que ela é uma boa ouvinte e que possui um senso de maternidade forte, já que busca sempre assistir e cuidar de outrem. É interessante e, simultaneamente, triste que Imogen seja estéril – se esse for o caso, é claro. Além disso, Imogen é uma figura responsável e sensata.
Embora, ela tenha esses atributos, vale acrescentar que o seu caráter impassível é apenas exterior. A serenidade interna e externa de Imogen é interrompida a partir do momento em que Percival respira, de tão irritante que ele é. Apesar de isso ser compreensível, não deixa de contradizer a postura que ela transmite de si própria nos outros livros da série.
Não compactuei com a descrição de Percival sob a perspectiva da Imogen. Há uma visão muito bipolar (divergente) sobre ele, da qual ora possui uma áurea máscula irresistível, ora é um simples mortal. Ao menos ela teve a decência de descrever positivamente o gênio dele.
Já Percival é sempre caracterizado como alguém “vazio” e que, ao mesmo tempo, guarda/esconde “algo que ninguém consegue enxergar/desvendar”. Sinceramente, eu devo ser muito estúpida para não entender essas descrições antagônicas. Isso porque, na minha concepção, ter um vazio e/ou esconder algo em seu âmago são sinônimos de depressão. De todo modo, esse não parece ser o caso de Percival.
As características que pude observar dele ao longo da leitura são de alguém decididamente impulsivo, mimado, arrogante e caprichoso. Afinal, quem resolve ir a uma propriedade por puro tédio??? Imagino que o natural e correto seria ir à propriedade recém-adquirida o quanto antes, a fim de averiguar seu estado, e não por motivos supérfluos como o de não ter nada para fazer.
Vinculado a isso, há outra característica atribuída ao seu perfil que não me pareceu certa. Honestamente, ele não parece possuir 30 anos. Não compreendi também o porquê de o seu senso de responsabilidade apenas ter sido aflorado em plena meia noite do seu trigésimo aniversário. Ninguém dorme inconsequente e acorda maduro. Simplesmente não faz sentido.
A verdade é que eu nunca pensei que uma pessoa culta e desfrutadora da filosofia humana poderia ser tão sem noção. Por mais que Percival busque respostas para as perguntas que norteiam constantemente seu âmago, ele insiste em invadir o espaço dos outros, seja por perguntas desconfortáveis, seja por propostas aleatórias.
O meu único consolo é que sua parte racional é aprazível – quando ele a usa, obviamente. Como dito anteriormente, Percival tende a filosofar de uma maneira conveniente e notável. Segundo “ele”:
“Um homem que tem tudo, não tem nada por que viver.”
Hão de convir comigo que a melhor personagem foi a tia Lavínia. Paciente, amorosa, tranquila, altruísta... Tem como melhorar? A ideia do abrigo doméstico para seres desafortunados foi genial. Além dela, adorei a Addie. Suas convicções femistas e atitudes debochadas são quase hilárias. E no final, então! Foi incrível da parte dela não ter julgado a Imogen.
A revelação final foi bem chocante, mas não consegui identificar os traços de culpa propostos ao final da leitura, no início desta. Eu esperava algum tipo de remorso por parte dela, mesmo que não tivesse feito o que fez. Também fiquei um tanto revoltada com a autora, ao proporcionar um luto de oito anos e, em meados do livro, "férias" dele, como a própria Imogen revela.
A história poderia impactar, cativar e ser muito mais interessante se a autora focasse menos nas partes sexuais ou se estas fossem segregadas das demais passagens, principalmente daquelas com teor mais emocional e/ou reflexível. Ao deixar tais partes para outros momentos oportunos, os personagens não teriam qualquer resquício de dependência emocional/sexual, contribuindo ainda mais para o desenvolvimento do casal.
Sob essa ótica, o enredo seria bem mais produtivo e satisfatório se nele houvesse mais passagens que conduzisse os personagens a reflexões introspectivas, a diálogos e ao compartilhamento de experiências, por exemplo. Além disso, o livro seria muito mais cativante se houvesse o desenvolvimento íntegro deles no que tange à superação de conflitos passados e ao seu amadurecimento pessoal, em vez de impor a atração sexual como forma de acalentar o leitor. Indubitavelmente, a autora é competente o bastante para realizar isso.
O importante foi que no desfecho, a dinâmica do casal acabou sendo bem construída. O diálogo, as relações carnais, a superação e o compartilhamento de histórias entre ambos estiveram presentes.
Em suma, este livro em particular não me instigou tanto quanto os outros da série. Não fui muito cativada pelos protagonistas – exceto pelo cãozinho vira-lata – pois sinto que foram superestimados.
Espero que haja uma conclusão para essa série, seja por meio de um 7° livro contando a história do último integrante do Clube, seja por algum tipo de spin off. Desejo saber o que aconteceu com todos os personagens.
Ps.: ponto positivo da série: cachorros feiosos responsáveis por macular e corromper a masculinidade alheia. Só não pude entender por que caralhos cachorros destroem/furtam algo inerente do ser.
"Somos feitos de tudo que vivemos. São a alegria e a dor da nossa individualidade. Cada um de nós é único."
"Acredito que nós todos temos o direito de sermos infelizes, se for isso que escolhermos com toda a liberdade. Mas não [...] temos o direito de permitir que a nossa infelicidade provoque a infelicidade de outrem. O problema com a vida é que estamos todos juntos nela."
- Mary Balogh