Raphael 20/12/2020A versatilidade de um gênio da linguagem...Eu que sou fã do Chico Buarque da música - compositor e intérprete - acabo de travar o meu primeiro contato com o Chico Buarque da literatura. E tenho que prestar todas as homenagens à versatilidade de um gênio da linguagem, à completude do "artista brasileiro". Reconhecer os méritos do livro, no entanto, não quer dizer que eu tenha adorado "Budapeste".
A leitura demorou para engrenar e faltou pouco para eu abandonar o livro pela metade, talvez contagiado pela falta de espírito de seu protagonista, um artista sem ambição, que não anseia a glória, que não sonha com o reconhecimento, que se deixa explorar pelo seu "sócio", que deseja mesmo permanecer na sombra, como um fungo, e que mesmo no âmbito doméstico, nos papéis de marido e de pai, é um ser apagado, sem presença. José Costa não é apenas um "escritor fantasma". Ele é mesmo um indivíduo espectral. Como alguém escreveu no skoob, José Costa é o protagonista coadjuvante.
Aliás, o verdadeiro "protagonista" do livro é a língua. Transitando entre o Rio de Janeiro e Budapeste, entre a língua portuguesa e a língua magiar, entre Wanda e Kriska, vai se construindo um romance em que brilha o amor à palavra.
No fim, fico feliz por ter persistido. Ali pela segunda metade do livro a coisa começou a fluir, a narrativa me envolveu e concluí a leitura de um só fôlego. E achei o desfecho da narrativa bastante surpreendente, criativo, inteligente.