Raissa 13/09/2021
Comprei "A vida que ninguém vê" em 2018, depois de ler a sinopse do livro e achar excepcional que uma repórter tinha transformado em livro várias histórias e acontecimentos cotidianos de vidas anônimas.
Não sei porque deixei que esse livro caísse no esquecimento por todo esse tempo, na pilha dos livros comprados ainda não lidos, por onde todos os outros passavam por ele, subindo pro topo da lista das próximas leituras.
Poder reencontrá-lo e ler (finalmente!) este ano as histórias que Eliane Brum escreveu, me foi uma grata surpresa. Daquelas que a gente até fica sem fôlego por ter esbarrado. Não é a toa que ela levou o prêmio Jabuti por melhor livro de reportagem em 2007.
Eliane tem uma escrita linda, extremamente sensível e muito precisa, sem romantismos ou vitimíssimos. Com palavras contadas para que suas crônicas pudessem ser publicadas no jornal, as histórias que a repórter traz, embora curtas, são cheias de profundidade. Trazem toda a bagagem de experiência que Eliane carrega e traz acima de tudo o seu olhar que sabe o que enxergar. Que sabe atravessar fronteiras e muros, que desvia de barreiras e chega exatamente onde precisa chegar.
E é lindo poder enxergar essas histórias extraordinárias através dos olhos e das palavras dela.
"O mundo é salvo todos os dias por pequenos gestos. Diminutos, invisíveis. O mundo é salvo pelo avesso da importância. Pelo antônimo da evidência. O mundo é salvo por um olhar. Que envolve e afaga. Abarca. Resgata. Reconhece. Salva.
Inclui.
Esta é a história de um olhar. Um olhar que enxerga. E por enxergar, reconhece. E por reconhecer, salva.”
"Porque uma frase só existe quando é a extensão em letras da alma de quem diz. É a soma das palavras e da tragédia que contém."
"Olhar é um exercício cotidiano de resistência"
"Olhar dá medo porque é risco. Se estivermos realmente decididos a enxergar não sabemos o que vamos ver."