Quincas Borba 11/04/2024
"É dificil perder-se. É tão difícil
Que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo..."
"A Paixão Segundo G.H" é um livro escrito por Clarice Lispector, lançado em 1964. Na história, seguimos uma escultora que se identifica como G.H, que segue uma série de questões sobre sua identidade e a humanidade em geral.
O que é esse livro? Quem é G.H? Quem sou eu? Quem somos nós?
Esse é um livro cheio de perguntas que não têm respostas, nem sequer uma explicação. Tampouco é um livro que serve para ser entendido; claro, você pode tentar entender, mas eu não recomendaria muito. Como a própria Clarice sugeriu, você deveria sentir; você deve sentir sua mão segurando a de G.H enquanto ela viaja dentro de sua própria consciência e aos tempos antigos.
É impressionante o poder das palavras. Esse incrível monólogo de 180 páginas é uma busca de G.H sobre ela mesma; mas, o que é G.H? E por quê seria necessário atravessar milênios de história? Ela esteve presente lá? E por quê ela comeu a barata?
O que é a barata?
Bem, como havia escrito antes: perguntas sem respostas; mas, um livro sentimental para ser sentido. Se você conseguiu se identificar em algum momento na história com os sentimentos de G.H, então você "entendeu" o livro.
Foi como Clarice disse em sua única entrevista televisionada: um professor formado em literatura leu o livro quatro vezes, e disse não ter entendido do quê se tratava; já uma garota de dezessete anos disse que havia entendido, e relia e relia o livro. Posso não ter tido uma epifania tão poderosa quanto a de G.H após a vista do cadáver da barata, mas me senti junto dela em todos os sentidos durante seu monólogo.
É uma obra realmente impressionante.
A escrita de Clarice é simples e elegante. As metáforas, as descrições, os benditos fluxos de consciência, tudo se encaixa. Porém, novamente reitero: sinta, não busque entender.
Porque se tentar entender, talevz terminará tão confuso e tão perdido quanto G.H.