garrettzao 04/11/2023
QUE BARATA NOJENTA
Conheci Clarice antes de sequer ter lido qualquer palavra dela. Ela sempre foi uma coisa. Algo misterioso. Quando a li, pela primeira vez, lembro que nada me tocava. Absolutamente nada. As palavras pareciam todas embaralhadas e desconectas. Desisti.
Então, muitos anos depois, eu peguei, num ato de coragem, A PAIXÃO SEGUNDO G.H pelo simples motivo do título soar bonito na boca. 150 páginas. Curtinho, vou terminar rápido - pensei.
DOIS MESES DEPOIS: aqui estou eu. E preciso escrever que Clarice foi, sem sombra de dúvidas, uma das melhores coisas que me ocorreram no ano. Eu ainda não a compreendo ao certo - desisti dessa busca, pois acho que nunca chegarei a compreendê-la, e que pecado seria isso -, mas é aí que a leitura começa, no sentido das coisas, ou melhor, no sentir das coisas.
Em cada página existia um buraco negro que me sugava para todas as imaginações, indagações, foram muitas viagens dentro de mim e por isso demorei tanto. Sem sombra de dúvidas, é cansativo assim como chegar de uma viagem distante, de muitas horas, mas com o sabor de que há uma cidade para ver, um lugar para chegar. (perdão, ainda estou contemplativo)
A PAIXÃO SEGUNDO G.H foi o livro que eu mais grifei. Não há uma página em que eu não tenha marcado. Lerei, daqui a um tempo, "Perto do coração selvagem", pelo mesmo motivo que li o primeiro, mas, agora, com um bocado de desejo pelas coisas que desconheço. Eu NÃO recomendo esse livro para (1) quem tem medo de barata, (2) nunca leu "tudo é rio" de carla madeira, " pequena coreografia do adeus" de aline bei, "terras do sem-fim" de Jorge Amado e (3) pra quem nunca leu nada de Clarice Lispector.
:)