Mariana Dal Chico 13/04/2022Livros sobre internações e tratamentos de pacientes psiquiátricos sempre despertam meu interesse. Principalmente quando se trata de um tempo em que os diagnósticos eram precários e as mulheres eram internadas arbitrariamente por seus responsáveis, seja por agir “diferente” do que a sociedade espera, seja movido pela ganância ou desejo de desaparecer com um casamento.
Eu sei que vou me revoltar com o modo como as coisas eram conduzidas, mas acredito ser extremamente necessário esse tipo de literatura para quebrarmos tabus e falarmos sobre a necessidade de tratamento adequado para distúrbios psicológicos.
Afinal, “(…) uma mulher lúcida e saudável, trancassem-na e a fizessem ficar sentada das seis da manhã às oito da noite em bancos de encosto reto, sem permitir que ela falasse ou se mexesse durante essas horas, sem lhe oferecer qualquer leitura e sem deixar que soubesse nada sobre o mundo e seus acontecimentos, lhe oferecessem comida ruim e tratamento severo, e então observassem quanto tempo levaria para que ficasse louca. Dois meses seriam suficientes para arruiná-la mental e fisicamente.” p.86
“Dez dias num hospício” é um relato da autora e jornalista Nellie Bly, que em 1887, aos 23 anos de idade, recebeu a missão de se infiltrar como paciente no terrível “asilo de lunáticos” de Blackwell’s Island.
A denúncia de Nellie Bly começa antes mesmo de chegar à instituição, já que não foi difícil convencer alguns médicos e um juiz sobre sua insanidade.
A voz de Bly é marcante, por vezes debochada, tornando a leitura um pouco mais leve que seu tema sugere.
Os pacientes eram mal alimentados, passavam frio e eram impedidos de dormir pelo barulho que enfermeiras e outros funcionários faziam a noite toda. Além da tortura psicológica, maus tratos físicos eram comuns e por vezes deflagrados por mero sadismo das cuidadoras.
Mais de 130 anos se passaram dessa publicação que continua atual e necessária!
Recebi minha edição de cortesia da @fosforoeditora e conta com a tradução da Ana Guadalupe e prefácio de Patrícia Campos Mello.
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