@pacotedetextos 15/05/2016Excelente!Dia desses, escrevendo um conto novo, me veio à mente a inspiração para uma das personagens. Encaixando-se naquilo que eu desejava escrever, pensei em uma com as características de Ana Terra, personagem de um livro homônimo e d?O Tempo e o Vento, ambos do Erico Verissimo. No entanto, pra isso, seria bom saber direito como ela era; foi por isso que resolvi ler essa obra, um clássico da literatura regionalista brasileira.
Engraçado que, aqui pras bandas de cima, quando se fala em literatura regionalista, geralmente se pensa automaticamente nos autores daqui do Nordeste; ou, pra ser mais correto, nos autores que falaram sobre o Nordeste. No máximo, o mais ao sul a que chegamos é Minas, apesar de eu refutar essa pecha de regionalista a Guimarães Rosa (ele é muito mais que isso ? na verdade, ele e muitos outros, mas isso é assunto para outro post). De toda forma, foi com certa resistência que resolvi encarar Ana Terra.
Sabe quando você tem um preconceito? Ou um pré-conceito? Como todos, felizmente, esse era infundado. Que livro massa!
Achei que fosse encontrar uma leitura enfadonha, arrastada, repleta de termos desconhecidos (não só por se tratar de palavras não adaptadas à minha realidade, mas sim por excesso de erudição ? como sabemos que alguns escritores, infelizmente, o fazem); que fosse ter que ficar direto recorrendo ao dicionário? Qual nada!
O livro conta a história de Ana Terra (ooooh!), a filha de Maneco e Henriqueta Terra, para quem, sempre que ventava, alguma coisa acontecia. Aqui, lembro que Ana Terra é parte d?O Tempo e o Vento, obra-prima de Erico Verissimo, uma verdadeira saga sobre a formação do Rio Grande do Sul.
A história se passa no final do século XVIII, um período recheado de conflitos entre portugueses, espanhóis e indígenas naquela região do sul do ?Brasil?. Ana Terra vivia em uma estância isolada, no interior ?gaúcho?; seu cotidiano, como de muitos daquela época, era na lavoura, sendo a natureza sua principal companheira e de onde sua família tirava o sustento. Assim, vivia em constante estado de vigilância, temendo invasões, saques e pilhagens.
Certo dia, Ana encontra, à beira de um regato, ferido, Pedro Missioneiro. Sua família o acolhe ? Maneco Terra muito a contragosto, pois desconfiava do que poderia advir à sua família se se relacionasse com um índio, mas aos poucos passa a usufruir de sua mão-de-obra nos afazeres no campo. Pedro Missioneiro, com uma cultura sofisticada, pareceu encantar pouco a pouco a família, de modo que a repulsa inicial de Ana Terra à sua figura acaba convertendo-se em desejo. Afinal, ela ali, sozinha, sem nunca ter tido contato com um homem? O que acontece em seguida já se pode imaginar. Isso porque não chegamos nem à metade do livro!
É de se supor, então, a questão da honra ? ?Honra se lava com sangue!? (p. 43).
Claro que Ana Terra engravida.
Mas o que vem depois? Não vou dar spoiler. Espero, de verdade, que vocês leiam. E apreciem a leitura tanto quanto eu!