Carolina 08/05/2023
A despeito do título, não há sequer uma gota de amor neste livro
Eu poderia selecionar diversos trechos da obra que me agradaram por serem bem escritos e criarem um clima aflitivo interessante. Mas infelizmente, há vários outros que não funcionaram para mim, e da obra como um todo também não gostei.
Não sei dizer exatamente o porquê de não ter gostado. Estava a pensar sobre isso, mas é difícil definir. Num esforço, eu diria que talvez seja porque não há amor no livro.
A protagonista, com apenas 15 anos, parece não saber direito o que quer nem o que está fazendo, o que é perfeitamente compreensível. Mas vamos percebendo que ela não é uma boa pessoa. A própria se descreve como "perversa", e tal qual ela é - perversa, pervertida, perturbada. O momento da história é o de descobrimento da sexualidade, que vai sendo narrado na forma de fluxo de consciência, não cronologicamente, misturando diversos desejos, medos, tudo um tanto caótico, o que faz sentido. Mas a menina, que resolve por se prostituir, entregando-se a um homem rico por dinheiro (ainda que nessa experiência encontre também prazer e talvez o amor [sic]), não faz isso apenas pela pobreza, mas também porque claramente tem más inclinações.
O milionário chinês de 27 anos, por sua vez, também não ama a menina, pois não sacrifica nada por ela (muito pelo contrário...). Ele a deseja, a quer, ao que parece intensamente, como um vício, uma doença, mas é só isso...
Logo, a trama principal do livro que trata do relacionamento dos dois "amantes" (que nessa história não tem o sentido "daquele que ama" mas apenas de "adúltero" mesmo), ainda que tenha uma ou outra passagem bacaninha, quase por completo me causou desgosto.
Gostei mais de algumas "side quests", por exemplo, as narrativas sobre os irmãos. O irmão mais velho da protagonista é claramente psicopata, e ficou muito bem descrito tanto nas suas maldades quanto nas consequências delas, o que rendeu algumas boas cenas.
O livro está repleto de sentimentos, mas o amor, sequer como sentimento, está presente ali. É uma situação complicada, repleta de orgulho e ignorância. A protagonista sofre, as demais personagens sofrem também, todos estão sofrendo apenas como decorrência do próprio egoísmo, nunca por amor.
Para mim, esse livro carece de alma, de espírito, de algo que insufle nele vida. Não posso falar sequer que as personagens são decadentes, pois toda a sua existência já se deu na lama, eles não sofreram uma queda de um estado para o outro, o seu estado sempre foi o da imundície, não morreram, mas já nasceram mortos.
Posso elogiar a escrita de Marguerite Duras e dizer que creio no seu talento para escritora. Talento, porém, usado na criação de narrativas defeituosas, infelizmente.