Thaise @realidadeliteral 19/05/2022Leia as entrelinhasNesse livro conhecemos a história de Genly Ai, um terráqueo que é enviado ao planeta Gethen como emissário do Ekumen, grande tratado interestelar. Suas missão é convencer os habitantes gethenianos à se juntarem à esse tratado, porém ele esbarra em um enorme muro de desconfiança, descrédito e diferença cultural aparentemente irremediáveis. Acontece que os gethenianos são "ambissexuais", não tem sexo definido até o momento que entram no kemmer - período específico para relações amorosas - onde podem assumir a forma tanto feminina quanto masculina e isso faz com que questões sociais que na terra são típicas de um gênero não existem no Planeta Inverno.
Essa é a forma de Úrsula encontrou para criticar nossa sociedade patriarcal, pois os Gethenianos não tem tendências à guerrear, não gostam de armas, nem de disputas por poder, questões tipicamente masculinas. Mas apesar disso o romance causou um certo burburinho entre as feministas da época, e me causou um pouco de, como posso dizer, sentimento de "poxa Úrsula" pois ela escolhe tratar os Guetenianos com pronome masculino e por questões referentes ao relacionamento do livro que não posso contar senão será spoiler.
Tirando isso o romance merece toda a fama e prestígio recebidos, tendo vencido os prêmios "Nébula" e "Hugo" no ano de sua publicação a obra máxima de Úrsula k. Le Guin tem um poder que não sei explicar. Parece algo extraterrestre. O início do livro é um pouco lento, demorei para entender o que estava acontecendo, mas ao longo da narrativa você é envolvido na trama que num primeiro momento parece simples, mas contém tanta coisa nas entrelinhas que, dias após o término da leitura eu ainda me pego pensando nele e encontrando coisas novas para exaltá-lo. É isso, o romance cresce em meu conceito cada vez que penso nele.
Falando sobre extraterrestres andróginos de um planeta que ainda não saiu da era glacial ela nos faz refletir sobre muito da natureza humana, nossa dificuldade em aceitar o diferente, em tratar todos como iguais e nos despir de nossos preconceitos para enfim vivermos em harmonia. Eis aí a grande lição dessa leitura.