anna 25/06/2022
De qualidade mas um pouco entediante
Após o sucesso de Gente Pobre, O Duplo (1946) , segundo livro publicado por Dostoievski, não teve boa aceitação da crítica e do público. Enquanto Gente Pobre tratava de questões sociais, em o Duplo a valorização é dada ao existencialismo, e sendo mais específica, a um existencialismo patológico. Isso porque o personagem principal, Golyadkin, é portador do que hoje conhecemos por esquizofrenia. O livro se passa no processo de enlouquecimento dele, desde os primórdios sintomáticos (hoje intitulado como ?trema da esquizofrenia?, um estado de mal estar inespecífico, sensação de que algo ruim vai acontecer, medo, etc), até a crise psicótica em si. Apesar de esquizofrenia necessitar de 6 meses de sintomas para firmar diagnóstico, a temporalidade do livro é incerta. Não sabemos se é passado em 1 dia, semanas ou meses.
A explicação para o título do livro, ?O duplo?, faz parte da Síndrome de falsa identificação delirante. Tal síndrome subdivide-se quatro:
Fregoli, capgras, intermetamorfose e duplo subjetivo. Duplo subjetivo é o vivenciado pelo personagem: enxerga em outra pessoa sua imagem, com mesmo nome e características físicas, mas com personalidade distinta, como um impostor.
Não existe alguém que descreva a alma humana como Dostoievski, ficando claro também nesse livro. O autor tinha uma predileção para temas existenciais e psicopatológicos, descrevendo de forma exata fenômenos mentais.
Contudo, entendo boa parte da crítica a história. É um livro maçante em muitas partes, chega a ser entediante. E além disso é confuso, visto que o protagonista tem sintoma clássico da esquizofrenia: discurso desconexo/ ilógico. Ficando confuso pra quem lê.
A título de curiosidade, outras alterações psicopatológicas presentes: delírios persecutórios, agitação, alterações somáticas, ecolalia, desorganização comportamental, dentre outras.
Um livro que vale a pena para os estudiosos ou entusiastas da saúde mental.