Fábio 27/09/2019
Da série "A minha hipocrisia é melhor e mais correta do que a sua"
"A Revolta de Atlas" é um conto de fadas maniqueísta, disfarçado de ficção científica pseudo-filosófica sobre um futuro distópico em que a meritocracia e o egoísmo seriam a solução para todos os problemas na Terra, visto que um regime malvadão (leia-se "comunista") começou a dominar o mundo. Nessa vastíssima obra, focada tanto em economia quanto humanidade, a autora Ayn Rand detalha o seu tal "objetivismo" e destila todo o seu ódio à esquerda.
Os heróis são empresários claramente direitistas (hoje seriam chamados de "libertários"), e que são mostrados, numa cara-de-pau sem precedentes, como baluartes da ética, razão, moralidade, honestidade, e até do "verdadeiro amor". Os vilões são a síntese do mau-caratismo absoluto, e andam por aí como baratas tontas que nunca conseguem aplicar a "consciência social" sem cometer crimes.
A crítica de Rand à hipocrisia humana é certeira - e muitos direitistas vão odiar as partes em que ela alfineta as religiões -, mas a autora esquece das hipocrisias do lado que é tomado como o "correto", o que faz com que os inúmeros discursos de romantização do individualismo sejam tão inocentes e utópicos quanto um papo comunista. Inclusive, o herói John Galt nos apresenta um monólogo de 60 páginas que é entediante, repetitivo, e cheio de um vitimismo bastante contraditório.
Qualidades efetivas? O desenvolvimento de personagens, assim como o drama, o suspense, e as reviravoltas são excelentes. Dagny, Francisco, Hank, e tantos outros, são indivíduos de quem não esqueceremos tão cedo, após a leitura. Se as suas 1200 páginas fossem reduzidas pela metade, e os maniqueísmos e redundâncias fossem retirados, o resultado final seria melhor.