Bru | @umoceanodehistorias 05/09/2016Alguns livros ficarão eternamente gravados em sua memória e você levará um tempo para decidir compartilhar a história com as pessoas, pois você quer guardá-la apenas para você. Foi isso que senti ao ler A Resposta. Escolhi guardar essa história só para mim por um tempo, pois não estava preparada para compartilhar com ninguém.
A Resposta se passa no Mississippi em 1962, quando os negros estavam em busca de direitos civis. Eugenia Skeeter, recém-formada na faculdade sonha em tornar-se escritora, mas, para sua conservadora mãe, ser escritora ruirá as mínimas chances que ela tem de se casar. Ela não liga muito para o que a mãe fala e decide ir atrás de um emprego e acaba sendo contratada como colunista de dicas domésticas de um jornal local. Após a contratação ela enfrenta outro problema: Ela não entende nada de dicas domésticas.
“Feiura é uma coisa que existe dentro das pessoas. Feia é uma pessoa má, que faz mal aos outros. Você, por acaso, é uma dessas pessoas?”
É por conta de sua falta de conhecimento que Skeeter acaba se aproximando de Aibellen, uma negra empregada de uma de suas amigas. As duas começam a trabalhar juntas na coluna, mas, quando Skeeter descobre que Aibellen possui história de todas as brancas para quem trabalhou, pensa que ela poderia escrever um livro sobre o relacionamento das empregadas com as patroas brancas, mas apenas a história de Aibellen não será suficiente, ela precisará de muitos outros relatos.
Minny é uma excelente cozinheira e melhor amiga de Aibellen, mas ela é odiada por uma das mulheres mais bem relacionadas da cidade por algo que fez e está em busca de um emprego, mas ninguém irá contratar uma negra como ela e isso é motivo para um viés de desespero, até ela encontra ruma mulher que, aparentemente tem problemas, e que decide contratá-la. Essa contratação resultará em muitos aprendizados para ambos os lados.
É em meio a vários acontecimentos que as três mulheres começam a conversar sobre a possibilidade de Skeeter escrever um livro com os relatos das empregadas e surge uma esperança de ela descobrir, finalmente, o que aconteceu com Constantine, sua empregada que, sem mais nem menos, desapareceu e da qual sua mãe não fala.
“Toda a minha vida me disseram no que acreditar, em termos de política, sobre os negros, já que nasci menina. Mas, com o dedão de Constantine pressionado contra a minha mão, compreendi que, na verdade, eu poderia escolher no que acreditar.”
Num primeiro momento pensei que seria muito estranho ver a Skeeter escrevendo sobre as negras, pois as empregadas ali presentes eram empregadas de amigas dela e muitas coisas que as amigas brancas não contam para as outras seria revelado, mas isso só serviu para provar que não conhecemos quem está ao nosso lado. Uma pessoa que aparenta ser boa pode tratar seus empregados como lixo e alguém que aparenta ser ruim pode tratar seus empregados com muito carinho e respeito. Além disso, vemos que as empregadas foram mais mãe do que muitas mães e isso, desculpem, dói, pois, ver uma mãe não dando atenção para o filho, é doloroso demais.
A história foi muito comovente, pois conhecemos várias facetas da época e como os negros eram discriminados. Onde já se viu um negro só poder utilizar um banheiro fora da casa dos brancos? Ser criado um projeto com aprovação, praticamente unânime, para que isso aconteça? Pois é, isso acontecia em Mississippi em 1962 e, desculpem, mas ainda acontece muito hoje em dia, pois o preconceito move muitas pessoas. Se as pessoas desse livro existissem de verdade e lessem essa obra, perceberiam que essas negras, que tinham lugar específico para tudo, foram mais mãe de seus filhos do que ela que estavam preocupados em não deixar o negro fazer isso ou aquilo e que deixaram de lado o cuidado com o filho.
“Quando tinha um aninho, Mae Mobley não parava de me seguir aonde quer que eu fosse. Batia cinco horas, e lá tava ela, pendurada no meu sapato Dr. Scholl, se arrastando pelo chão, gritando como se eu não fosse voltar nunca mais. Dona Leefolt, ela olhava com o olho apertado pra mim, parecia até que eu tinha feito alguma coisa errada, e desgrudava o bebê chorão do meu pé. Acho que é o risco que se corre, quando deixamos outra pessoa criar os nossos filhos.”
Esse livro é um tapa na cara para as pessoas que possuem preconceito e esperam sempre o pior dos negros. Com uma narrativa intercalada entre os pontos de vista da Skeeter, Abellen e Minny, é um livro que recomendo para todos, até para aqueles que odeiam o próximo, pois poderão aprender muito. Devo ressaltar, entretanto, que essa obra me lembrou muito O Sol é para todos e, inclusive, cita a obra em alguns momentos e isso foi mágico, pois o livro da Harper Lee foi uma obra que não foi tão impactante quando li, mas acho que foi o momento e senti muita vontade de reler.
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