Beatriz 19/02/2016A Resposta/ Ajuda/ Historias cruzadasO ano é 1962, o lugar é uma cidadezinha no Mississípi. a situação é de pura desigualdade social e segregação. Em 2011 Kathryn Stockett, publicou um livro sobre empregadas negras de mulheres brancas de uma cidadezinha extremamente preconceituosa. Se isso te lembra um filme com Emma Stone , é porquê é o livro que deu origem ao filme. O livro foi o que deu origem ao filme chamado Historias Cruzadas, e eu não tinha visto ou ouvido nada parecido com isso.
A narrativa principal roda entre 3 corajosa mulheres, a branca Skeeter e as empregadas negras Aibileen e Minny. A diferença de seus pontos de vistas, suas historias e personalidades dão uma leveza singular ao livro. Nos fazendo conhecer melhor cada personagem a partir do jeito que fala e como pensa.
Confesso que torci um pouco o nariz por ser uma escritora branca falando sobre negros, o que eu acho meio conflitante e um pouco sem sentido. E o fato de ser uma ficção me deixou um pouco chateada ao pensar em todas as historias reais incríveis e que precisariam ser contadas que ninguém contou, que ninguém escreveu. Mas isso se perdia em minha mente conforme a leitura ia se desenrolando; a profundidade do tema, das personalidades e dos acontecimentos me fizeram entregar meus sentimentos inteiros ao livro.
Eufemismo seria dizer que é emocionante, é mais do que isso. É como ler um pedaço de vida, com partes dolorosas, partes felizes, partes tensas e partes que a gente queria que fosse de outro modo, mas sabe que não seria nada alem do que é.
São vários personagens, mas não me perdi em nenhum, me apeguei a força de Minny a doçura de Aibee e cresci um pouco com Skeeter. Que acredito que teve o maior destaque evolutivo na trama, seguido por Minny. Vemos Skeeter crescer, deixar sua personalidade original se destacar e aprender com os feitos que acontecem.
A linha temporal do livro é outro ponto positivo, não tive monotonia nas mais de 500 paginas, pelo contrario. A jogada da autora em escrever o livro em primeira pessoa de 3 personagens tão diferentes foi o fermento do bolo, víamos a mesma pessoa em 3 visões diferentes, o que contribui muito para a ideia de que a personalidade não é algo tão simples e imutável quanto imaginamos. Eu sempre quis mais e mais, e quando chegou ao fim, chegou ao fim do desfecho, tudo de encaixou no lindo quebra-cabeças de um jeito meio vida. Com a sensação de que um desfecho é o começo de outra cosia.
A autora não forçou, em nenhum ponto o bom senso do leitor com os fatos que ocorriam, as cosias simplesmente eram, a personalidade dos personagens foi tratada de forma tão real, frágil e complexa como é na vida. Com varias facetas, com varias interpretações. Acredito que o foco do livro, como o próprio livro diz em uma parte, tem deixado alguns leitores meio desambientados, o livro não é sobre racismo, trata de racismo, segregação e de machismo sim, mas apesar de tudo o livro é sobre a vida, vida de pessoas ambientada no ano de 1963.
Os pontos que foram meio inúteis e que por vezes eu não quis ler, foi as partes que Skeeter narra, as vezes com tudo o que estava acontecendo, sua vidinha meio vazia era a ultima coisa que eu queria saber. Mas estava lá então eu li. Seu romance foi meio longo e massivo demais. Eu não queria saber quantos cubos de açúcar a sua mãe colocava no chá, quantos graus estava sua casa, queria saber mais sobre a relação de amor entre a empregada Aibee e a menina branca MAE Mobely, queria saber os pontos de vistas cômicos e únicos de Minny.
Ao comparar o livro com o filme me deixou triste que o foque principal seja dado a mulher branca, Dona Skeeter, já que no livro claramente o foco principal é de Aibileen. Outra coisa que me deixou desgostosa foi as varias mudanças de nomes que a mesma historia teve, The help, A Resposta, Historias cruzadas, isso deixa tudo muito confuso. O filme é ótimo como filme, mas todos deveriam ler A Resposta, deixar Aibee falar conosco, rir com a brutalidade de Minny e crescer com Skeeter.
TRECHOS DO LIVRO
"Olho ao redor pra ver quem tá aqui, pensando que preciso convidar mais algumas empregadas pra nos ajudar, agora que parece que conseguimos despistar a dona Hilly. Trinta e cinco empregadas já disseram não, e eu sinto como se tivesse vendendo uma coisa que ninguém quer comprar. Algo grande e fedorento, como Kiki Brown e seu aromatizante de limão. Mas o que faz de mim e Kiki exatamente o mesmo tipo de pessoa é que eu tenho orgulho do que tou vendendo. Não posso evitar. A gente tá contando histórias que precisam ser contadas." - Aibileen
"São todas essas pessoas brancas que fazem eu chegar no meu limite, essas pessoas brancas, ali em pé, na vizinhança negra. Pessoas brancas com armas apontadas pros negros. Porque, quem vai proteger os nossos? Não existem policiais pretos. " - Aibileen
"Ela prefere ficar sentada aqui fora com a empregada do que lá dentro, vendo a mãe olhar pra qualquer lugar, menos pra ela. É como um desses pintinhos que fica confuso e acaba indo atrás da pata em vez da galinha. " - Aibileen
"— Pode ser que não aconteça nada — digo, me perguntando se alguém vai chegar a comprar o livro.
— Bem, eu tou contando que vai ser bom — diz Aibileen. Minny cruza os braços sobre o peito:
— Então é melhor eu contar com uma coisa ruim. Alguém tem que fazer isso."
"Não dou bola pra poder comer num balcão com gente branca. Dou bola pra se daqui a dez anos uma mulher branca vai chamar as minhas meninas de sujas e acusar elas de roubar prataria." - Minny
"— Quando pedi um aumento, eles me deram. Quando precisei comprar uma casa, eles compraram uma pra mim. Dr. Tucker veio em pessoa até a minha casa e tirou uma bala do braço do meu marido porque ele ficou com medo de Henry pegar alguma coisa no hospital dos negros. Trabalho pro dr. Tucker e pra dona Sissy há quarenta e quatro anos. Eles são bons pra mim. Lavo o cabelo dela todas as sextas-feiras. Nunca vi aquela mulher lavar o próprio cabelo. — Ela para pela primeira vez na noite, parece solitária e preocupada. — Se eu morrer antes dela, não sei como é que a dona Sissy vai fazer pra lavar o cabelo. "
"Toda a minha vida me disseram no que acreditar, em termos de política, sobre os negros, já que nasci menina. Mas, com o dedão de Constantine pressionado contra a minha mão, compreendi que, na verdade, eu podia escolher no que acreditar." - Skeeter
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https://aquimerablog.wordpress.com/2016/02/19/the-help-a-resposta-resenha/