alexsandernsantos 27/02/2024
A ELIMINAÇÃO DO PENSAMENTO CRÍTICO
"Reduza os livros às cinzas e, depois, queime as cinzas. Este é o nosso slogan oficial."
Em um futuro distópico, a sociedade é governada por um regime totalitário que proíbe a leitura e a posse de livros. As televisões instaladas nas paredes são consideradas da família e os bombeiros são treinados para incinerar toda a literatura já escrita. O título do livro refere-se à temperatura em que o papel entra em combustão espontânea: 451°F (Fahrenheit), equivalente a 233°C (Celsius). O protagonista, Guy Montag, é um bombeiro que começa a questionar sua função após um encontro com Clarisse, uma jovem que o faz refletir sobre a vida e a importância da literatura. Montag começa a ter atitudes consideradas criminosas, o que o coloca em conflito com seus colegas e com a lei.
Escrito na década de 1950, o autor "previu" as tentativas de reescrita da história e manipulação do pensamento por governos com vieses totalitários e pela mídia alinhada a eles, seja por vontade própria ou por ameaça governamental. Na obra, os próprios bombeiros não conheciam a designação original de sua profissão. Para eles, queimar livros sempre foi a sua função. A cultura de massa e a alienação são presentes na estória. A esposa de Montag tinha um fascínio em ter uma quarta tela de televisão instalada na parede de casa, para assistir personagens que ela considerava serem sua "família". Assim, Mildred não tinha tempo para exercer pensamento crítico. Nos dias atuais não é muito diferente, com a política do pão e circo que faz a sociedade esquecer dos seus problemas com diversão e as propagandas persuasivas que induzem as pessoas a consumirem produtos e programas de forma desenfreada. Por outro lado, o pensamento crítico é cada vez mais banalizado. As redes sociais produziram "especialistas" em todos os tipos de temas, que expõem suas opiniões acima dos fatos. Os algoritmos das redes sociais prendem os usuários à tela por horas a fio. Governos manipulam a história antiga e recente, criam "fatos alternativos" e perpetuam-se no poder inventando mentiras para a sociedade. São tempos difíceis para pensadores críticos que ameaçam a hegemonia do sistema.
Fahrenheit 451 é uma crítica à censura, à alienação e à falta de pensamento crítico. Através da jornada de Montag, Bradbury nos alerta sobre os perigos de uma sociedade que suprime o conhecimento e a liberdade de expressão. Ao lado de Admirável mundo novo (Huxley), 1984 (Orwell) e Nós (Zamiátin), esse livro deve ser lido ao menos uma vez, para que possamos comparar a ficção com a realidade e perceber que o cerceamento das liberdades individuais não é algo extinto no mundo. Esses livros são uma amostra grátis do que já existe em regimes totalitários e em países ditos "livres". A leitura não foi prazerosa, mas valeu a pena conhecer esse livro, que é tão mencionado quando se trata de distopias.