Leandro de Lima 22/12/2022
Conteúdo fascinante e de fácil leitura (para um clássico de quase dois milênios)
Esse é um livro absurdamente fascinante. É uma coletânea de pensamentos anotados por um dos homens mais poderosos de seu tempo, com uma honestidade ímpar que só é possível tendo em vista que nada foi escrito com a intenção de ser publicado.
Trata-se de uma espécie de quimera entre um diário, um tratado filosófico e uma coleção de mantras repetidos por Marco para si mesmo. Creio que não haja outra obra como essa. Recomendadíssimo para aqueles minimamente interessados em refletir sobre a natureza da existência e buscar ser alguém de bem.
A única ressalva que faço se deve a natureza do livro, que é estruturado como uma série de anotações, com cada parágrafo contendo um pensamento independente do próximo apesar de temas se repetirem em livros e parágrafos diferentes. Portanto, é necessário ter em mente que muitas coisas se repetem continuamente ao longo dos parágrafos, ainda de que maneira não sequencial. Marco Aurélio não cansou de refletir sobre sua mortalidade, sobre a natureza, sobre seu voto de ser benevolente o tempo todo, sobre a necessidade de vigiar seus pensamentos e suprimir seus instintos, de buscar ser sempre racional. Estes e mais alguns outros temas se repetem exaustivamente, como verdadeiros mantras.
Quanto ao conteúdo em si, trata-se de uma mina de ouro. Cheio de princípios verdadeiramente nobres e nada triviais, ainda que soem utópicos vez ou outra. Li este livro fazendo anotações e parando para refletir à cada parágrafo. É um livro para ser apreciado e absorvido lentamente, não por ser difícil, mas por simplesmente merecer. Meditei sobre cada um desses pensamentos junto com Marco e creio ter valido a pena cada segundo. Por vezes, me vi tendo uma aula com um ótimo filósofo (e não apenas um político). Por vezes, me senti como se tivesse lendo uma espécie de roteiro da série Cosmos escrito à quase dois mil anos, poético e profundo. Por vezes me vi numa espécie de terapia ou numa conversa com um amigo cheio de epifanias.
Dos clássicos que li, o mais singular.