Ezra 17/06/2023
Não me encanta mais
Acho as contribuições do Tolkien para a literatura de gênero fantástico muito prejudicias, não auxiliaram em nada na evolução artística desse segmento, pelo contrário, só tornou ela insulada dentro de um setor de leitores e autores "nerds" e de "cultura pop". No século XX tiveram de criar prêmios isolados como o Hugo para contemplar esse tipo de literatura, pois notadamente ela não poderia competir num Man Booker ou National Book Award, junto dos autores "literários" e "sérios".
E eu tenho a perspectiva, com muito descontentamento, de que é porque ela se tornou um gênero pueril e sem ambição estética por conta das influências de gente da estirpe do Tolkien e C.S Lewis.
Deve existir uma centena de takes de senhor dos aneis por aí, um mais genérico que o outro. Todos emulando o espiríto romântico e o heroísmo das obras do Tolkien. Até J.K Rowling, que não trabalha nesse gênero de épico fantasioso, se utiliza da moralidade maniqueísta dos romances da terra média.
Como o Edmund Wilson em seu ensaio demolindo Senhor dos anéis expressou uma vez, é impressionante o quanto é pobre a prosa e a lírica do Tolkien(sim, porque, a rigor,ele se arriscava na poesia naquelas irritantes musiquinhas do Tom Bombadil).
Tolkien tinha uma imaginação muito vasta na edificação de um universo de fantasia de capa e espada que vivia e respirava, assim como na filologia, nas linguagens fictícias que ele construía com muita dedicação, porém era um escritor sem muitas virtudes de estilo.
A trilogia do Anel me suscita uma nostalgia boa, mas fui tentar reler anos atrás, e pude constatar o quanto o autor é limitado como prosador. Pesa muito a mão naquelas descrições afetadas do universo, e os personagens são uma grande bosta, nem dá pra saber quem é quem, todos falam exatamente da mesma forma.
Ele realmente deu uma infantilizada nesse gênero, injetou aquele moralismo cristão de bem x mal sem nenhuma sutileza, que até hoje perdura.
Esta obra tem mais impacto cultural do que méritos pra estar num cânone do ocidente, como o nerd chato quer insistir. Teve poucos defensores, o Auden foi um deles, mas nunca foi consenso.
E o legado do Tolkien foi este. Popularizou o gênero, foi um marco cultural, mas que nunca se sustentou dentro de um cânone. E ainda infantilizou uma tradição de narrativas de mito e fantasia há muito consolidada desde os