Drighi 25/03/2021
Viva ao Cem Anos de Solidão!
Gabriel García Márquez, o Gabo, foi um dos poucos escritores do mundo que conseguiu, ao mesmo tempo, elogios da maior parte do público e da crítica literária, aliado a um grande êxito comercial.
Cem anos de solidão é considerada por muitos críticos e escritores, como a mais representativa obra dos autores do Boom, não só pela grande quantidade de leitores e de traduções, mas também pela grande quantidade de estudos críticos sobre o romance. O livro, que se divide em 20 capítulos, narra a fundação, o apogeu e a decadência da cidade fictícia de Macondo e da família Buendía, ao longo de suas sete gerações. O romance, entretanto, não só é representativo do Boom, mas também da proposta estética do realismo mágico.
O livro, cuja proposta estética valoriza a imaginação e a fantasia, problematiza o projeto de racionalidade da modernidade, que afasta tudo que não pode ser explicado pela lógica cartesiana. Nessa nova proposta de narrar a realidade, as leis do racionalmente verificável convivem com o mito e a fantasia sem se chocarem.
O narrador, que no romance se aproxima da linguagem oral, ao relatar os acontecimentos sem fazer diferença entre o real e o fantástico, sem valorar tais acontecimentos, termina por naturalizá-los. Dessa forma, o insólito, o fantástico, pode ser um problema para os leitores, mas não para os personagens, visto que os acontecimentos estão inseridos em seu cotidiano. Para entrar no mundo desses personagens é preciso, portanto, aceitar o convite ao inverossímil, sem precisar buscar explicações.
O romance de Gabo não só consolidou o boom literário latino-americano pelo seu sucesso de púbico e de crítica, o que o levou a receber o Prêmio Nobel de Literatura, mas principalmente consolidou na América Latina o procedimento estético que ficou conhecido como realismo mágico, por misturar razão e fantasia, o empírico e o mito, sem que esses elementos se chocassem. Ao contrário, eram inseridos na narrativa de forma naturalizada.