Dudu Menezes 15/01/2023
Perder para se achar
Hoje li "O conto da ilha desconhecia", de José Saramago. Mas, de alguma forma, uma frase, aqui contida, já me havia sido dita, anos atrás, por uma professora, quando eu morava em Porto Alegre e comentei com ela da preocupação "em me perder", já que recém havia chegado na capital.
Lembrei dessa conversa lendo este livro, porque ela me disse, na oportunidade, que "é preciso se perder para se achar". Eu nunca mais esqueci disso. Não estávamos falando sobre "trajetos para voltar para casa" e ambos sabíamos disso. Mas ela mais do que eu, hoje percebi.
Saramago nos diz:
"[...] é necessário sair da ilha para ver a ilha. Porque, "todo homem é uma ilha" e se não nos tornamos capazes de "sair de nós mesmos", jamais chegamos a saber quem somos.
Quando o protagonista desta história bate a porta do rei para pedir-lhe um barco, mesmo sem saber navegar, porque havia decidido lançar-se ao mar em busca de uma ilha desconhecida, já começava a se achar antes mesmo de conquistar a embarcação.
Nem sempre as portas se abrem rápido; ou, pelo menos, nem sempre se abrem rápido as portas que não dependem apenas das nossas decisões.
Quase sempre estaremos sozinhos e seremos desencorajados a seguir em frente com os nossos sonhos. Ouviremos que é tudo em vão, que "já não há mais ilhas desconhecidas". Nada haveria de novo a se buscar. Seria perda de tempo. Melhor seria deixar para lá...
Até que alguém dirá o contrário. Dirá que está decidida a nos acompanhar mesmo que não cheguemos a lugar nenhum, só pelo prazer da travessia ao nosso lado. Que o barco que nos foi dado também lhe pertence, porque "gostar é provavelmente a melhor maneira de ter e ter deve ser a pior maneira de gostar".
Ao lado desse alguém tudo se torna possível, porque passamos a navegar, antes de mais nada, em um sonho, e é justamente nesse espaço que não nos podem impedir de enxergar que o impossível não passa de uma reorganização das rotas por onde seguem os nossos corações.
"Disseram-me que já não há ilhas desconhecidas, e que, mesmo que as houvesse, não iriam eles tirar-se do sossego dos seus lares e da boa vida dos barcos de carreira para se meterem em aventuras oceânicas, à procura de um impossível".