Kementarij 28/01/2024
Em Matadouro-Cinco, Vonnegut mescla situações vivenciadas por ele mesmo durante a Segunda Guerra Mundial (enfatizando o bombardeio a Dresden pelos aliados) com ficção científica.
Logo no início, o autor já deixa clara sua visão sobre os eventos; é doloroso para ele o simples fato de lembrar:
"As pessoas não devem olhar para trás. Eu garanto que não vou mais fazer isso. Já terminei meu livro sobre a guerra. O próximo livro que eu escrever vai ser divertido."
Parece que justamente pelo horror que sente aos eventos citados, o autor opta por um afastamento ao contar a maior parte da história através do personagem Billy, apenas indicando rapidamente sua própria presença em alguns momentos ("Billy e os outros estavam marchando pelas ruínas sob o olhar dos guardas. Eu estava lá.").
O autor consegue descrever eventos catastróficos e "pesados" com uma linguagem simples, além de uma boa dose de humor, o que torna a leitura sobre eventos tão terríveis mais facilmente "tragável".
Não obstante, o que mais me atraiu nesta obra foi o fato de Vonnegut não escrever um livro sobre guerra como se esta fosse algo belo, honrado, como alguns o fazem. Muito pelo contrário, o livro enfatiza, em diversos momentos, a desumanidade de tal evento.
A frase "é assim mesmo", repetida à exaustão ao longo do livro em contextos de morte, parece demonstrar a resignação das personagens diante das tragédias vivenciadas: a violência e a morte tornam-se banais, de forma que o ser humano vai perdendo cada vez mais sua sensibilidade e humanidade.
No final, somos deixados vazios num cenário totalmente desolado e quase desprovido de vida. "É assim mesmo."