Beth 25/05/2021
Billy Pilgrim sobrevive ao bombardeio de Dresden, durante a Segunda Guerra Mundial, em fevereiro de 1945, e, profundamente traumatizado, não consegue mais viver num tempo linear.
Essa obra tem um quê de autobiografia, na verdade, tirando as partes de viagem no tempo, viagens espaciais e afins, até pode ser considerada como tal, pois, assim como Pilgrim, Vonnegut foi prisioneiro de guerra, viu de perto os resultados do bombardeio e, de alguma forma, conseguiu voltar "incólume" a uma vida relativamente comum, casar, ter filhos e prosperar.
O texto inicia com um prólogo onde o próprio Vonnegut vai até a casa de um amigo que esteve com ele na guerra para pedir autorização para escrever essa história, e logo de cara vemos que esse livro nem de longe tenta glamourizar o conflito, dizer que é algo nobre ou algo assim, muito pelo contrário. Vonnegut diz que um dos subtítulos do livro será "A Cruzada das Crianças", e vemos isso em como Pilgrim e seus companheiros, e tantos outros rapazes, foram sendo levados por acontecimentos muito maiores que eles, sem que pudessem fazer nada para detê-los ou sequer evitá-los, afinal de contas a vida é assim mesmo.
Esse sentimento de resignação no sentido de impotência é presente o tempo todo. Eu só posso imaginar o quanto deve ter sido dolorido para Vonnegut visitar todas aquelas memórias, apesar de todo o horror, apesar de todo o trauma, e, ainda assim, escrever uma das coisas mais tocantes que já li.
Resumindo, Matadouro Cinco é um manifesto antiguerra, a obra-prima de Vonnegut, um livro sensível, emocionante e que com certeza entrou pros favoritos da vida.