Pedro.Castello 14/07/2016
Continuação de Misto-Quente, mas que agora está frio.
Quando comecei a ler esse livro, confesso que esperava mais. Principalmente por se tratar de uma continuação de um grande clássico do autor.
Mas à medida em que fui lendo, senti uma espécie de Dejavú a cada novo capítulo: Henry Chinaski consegue um novo emprego e, logo em seguida, Henry Chinaski é demitido desse emprego. E, convenhamos, isso fica bastante cansativo ao longo da narrativa.
Lógico que se formos analisar superficialmente a história, é isso e ponto. Mas não é bem assim. A maioria fica das coisas ficam escondidas. Como por exemplo, o pano de fundo do livro, que é a realidade americana no pós-guerra.
Além disso, é interessante analisar a forma do autor/personagem vivenciar tudo aquilo. Ele não liga pra nada. É totalmente desapegado das coisas, não tem perspectiva nenhuma de melhora, mas enquanto ele estiver tomando um trago e vendo umas pernas bonitas, está tudo bem. Na boa, ser demitido é uma bosta. Mas pra ele é normal, talvez pela certeza de que, logo, logo outra oportunidade vai aparecer.
Segundo ele mesmo diz, a vida é muito curta pra gente ficar 20 anos num emprego de bosta.
Pra mim esse é o ponto principal do livro, conseguir ver uma esperança mesmo quanto ela simplesmente não existe. O próximo emprego vai ser melhor. As vezes ele até se dá ao luxo de recusar ofertas. Louco!
Uma coisa que me deixou intrigado foi a quantidade de pessoas desempregas e a, igualmente grande, quantidade de empregos disponíveis. Acho eu que isso foi uma exclusividade da época, principalmente por se tratar de uma momento de transição no mundo. A escolaridade das pessoas era menor, logo as exigências para se obter um emprego também. Isso se tratando em um país desenvolvido, onde, com o aumento da escolaridade, a mão de obra barata fica escassa e os imigrantes são absorvidos nesse sistema. Daí nasce a máxima que os EUA é a terra das oportunidades. E por aí vai.
Bom, pra finalizar, a história em si não é lá grandes coisas. Não tem início, meio e fim. Mas o que realmente importa é como o velho safado narra os fatos. Somente ele poderia ter pensado e escrito tudo aquilo. Sua escrita é única e impossível de copiar. Claro que o texto foi escrito por ele! Mas, acima de tudo, o texto foi vivido, sofrido e amado por ele. Mesmo que se considere um cara durão, não tem como perceber que tem bastante sangue, suor e lágrimas nas entrelinhas.