Kalliny 01/07/2022
Factótum
Factótum não é um livro para qualquer pessoa, fala sobre vagabundagem, bebedeira, sexo e tudo mais Os personagens não tem nenhuma ambição na vida. É um livro cheio de cenas pesadas e não seria elogiado por muita gente.
O livro apresenta cruamente a realidade dos Estados Unidos no final da 2ª Guerra Mundial do ponto de vista dos desafortunados e excluídos da sociedade, ruindo todo tipo de sonho americano mostrando que todo lugar pobre e miserável vai ser sempre assim do mesmo jeito, pessoas sujas, feias e ímpias sobressaem nas páginas deixando para trás aquela visão que temos de que toda literatura tem que ter pelo menos um personagem bonito e coreto moralmente. Apesar de tudo isso, o livro conta com um ponto forte, que é o humanismo presente no nosso protagonista Henry , que mesmo ante a bebedeira e o sexo selvagem possui um toque de bom senso e filantropia, é até engraçado observar o ar romântico que surge em alguns momentos.
Vemos como o amor de Henry pela escrita é pouco a pouco esmagado pelas recusas de suas publicações pelas grandes revistas do país. Isso retrata muito bem como é a vida de um pequeno escritor tentando conseguir seu espaço enquanto não consegue se dedicar completamente à escrita. No fim do dia, amor não compra comida, e sem dúvidas, precisamos nos alimentar.
Para Henry é incrível e inaceitável que alguém se levante de manhã, vá trabalhar, encha o bolso de outra pessoa de dinheiro e ainda tenha que se sentir grata por essa oportunidade. Isso fica evidente no seu comportamento em cada um de seus muitos empregos conforme ele faz corpo mole até ser demitido ou simplesmente larga seus afazeres ao avistar um bar.
Se não fosse pela necessidade de sobreviver, provavelmente não iria ao trabalho uma única vez. mas sejamos sinceros, eu e você também não iriamos.Factótum é um livro muito bem humorado, o que faz com que sua história indecente se torne engraçada ao invés de repulsiva, Algumas passagens são tão absurdas que nos fazem rir: O que mais me surpreendeu em Factótum foi a sinceridade com que Bukowski escreveu o livro. Seus diálogos são memoráveis, a obra tem um brilho, algo que chama a atenção e creio que seja essa sinceridade das palavras a responsável por isso. Muitos críticos consideram o livro como lixo literário, no entanto, na minha opinião é um trabalho incrível, engraçado e inteligente, que não merece tal definição. Convém mencionar que o livro se tornou um filme e chegou até a ser premiado. Ler as obras de Bukowski é sempre um ato prazeroso, e muito disso se deve ao fato do nosso querido personagem ser gente como a gente. Eu consigo me conectar completamente com alguém que está subsistindo com empregos que não lhe dão sentido algum na vida apenas para sobreviver enquanto secreta e timidamente tenta viver sua paixão no tempo livre. A cena final do livro é algo que me marcou e nem que eu quisesse eu poderia esquecer. Chinaski está sentado na plateia apreciando um show de strippers O show vai evoluindo e a stripper mostra tudo que ela tem a disposição, porém nosso amado anti-herói não consegue ficar excitado. Seu pênis está morto.
Essa metáfora final mostrando alguém completamente incapaz de se estimular depois de tudo que já aconteceu em sua vida, chega a ser assustadora, e eu demorei para entender. Na verdade, a compreensão só veio quando uma amiga me perguntou ?Esse é o final do livro??. Um final que não faz sentido algum, a não ser que você saiba toda a merda que se passou por toda a vida de Henry Chinaski enquanto tentava simplesmente sobreviver.
Ler Charles Bukowski está longe de ser uma leitura educativa tradicional. É um convite à liberdade, à vida. Se eu pudesse recomendaria a cada ser vivo neste planeta que lesse ao menos uma de suas obras para entender que às vezes, simplesmente não dá. As coisas não saem como esperado, você se da mal, e que está tudo bem. Esteja preparado para isso tudo? ou nem tente.