Giro Letra 04/06/2011
A garota da capa vermelha
"Valerie não conseguia ver nada em meio ao aglomerado de capas estampadas cinzas e marrons, mas encontrou Roxanne, Prudence e Rose juntas em um abraço, cada qual amparando as outras duas.
- Quem é? - ela quis saber.
Elas viraram para Valerie sem desmanchar o abraço.
Ninguém conseguia dizer nada.
A multidão se afastou para que Valerie pudesse ver sua mãe e seu pai em pé sozinhos, com os rostos horrorizados. Soube antes mesmo de Roxanne sussurar para ela.
- Sua irmã."
Eu sempre gostei muito de contos de fadas e narrativas afins. Então, quando ganhei A Garota da Capa Vermelha, fiquei animada com a possibilidade de ler uma releitura de Chapeuzinho Vermelho. O livro se propõe a recontar, de uma maneira lúgubre, a clássica história da garota perseguida por um lobo.
O enredo está focado em Valerie, uma garota que cresceu em uma vila aterrorizada pelo Lobo, para o qual são feitos sacrifícios mensais que garantem a paz no local. No entanto, essa paz é rompida quando o Lobo ataca Lucie, a irmã mais velha de Valerie. Isso acontece exatamente quando chega à cidade Peter, companheiro de aventuras de Valerie na infância que foi expulso do local há muitos anos. Há um mistério em torno do que aconteceu no passado. A narrativa indica que Peter foi o responsável pela morte da mãe do garoto mais cobiçado da vila, Henry, que se torna, contra a vontade dela, noivo de Valerie.
Talvez nem seja necessário dizer que Valerie é apaixonada por Peter, o que faz com que lute contra a ideia do noivado com Henry, embora, em alguns momentos, ao conhecer seu noivo melhor, Valerie demonstre carinho pelo rapaz. Contudo, a relação entre os dois não se mostra firme o bastante para que possamos afirmar que Valerie se sente dividida entre Peter e Henry, os quais, por sinal, não parecem ser os únicos interessados na garota: o Lobo propõe a Valerie não atacar mais se ela fugir com ele daquele lugar.
Pode-se dizer que essa é a trama central do livro, que, com toda sinceridade, me decepcionou muito, apesar de as minhas expectativas em nenhum momento terem sido altas. Eu fiquei desconfiada da qualidade do livro desde que li, na introdução, que ele foi produzido a partir do roteiro de um filme, o que me pareceu muito suspeito, visto que, normalmente, são os livros que dão origem às produções cinematográficas. Fazer o processo contrário me pareceu apelativo, já que deu a entender que o livro existe para gerar mais lucro, caso o filme venha a fazer algum sucesso.
Mesmo assim, tentei me desprender de preconceitos e enveredei pela leitura. Infelizmente, minhas piores expectativas se confirmaram: o enredo do livro é fraquíssimo. A linguagem do livro é extremamente pobre e, preciso dizer, chata, muito chata. Foi penoso terminar a leitura. E, ao terminá-la, mais raiva: não há explicações para os enigmas que o livro suscita. Você fica sem saber por que, de repente, o Lobo resolveu romper a paz, atacando Lucie; não se esclarece o que aconteceu, no passado, em relação à morte da mãe de Henry; não há explicações para Peter ter sido expulso da cidade; entre outras lacunas.
[Se você não quiser saber uma informação crucial sobre o final da trama, não leia esse parágrafo, passe imediatamente para o próximo]. E o pior de tudo foi a sensação de ter sido enganada: o livro não tem um final, sequer revela a identidade do Lobo. Ele simplesmente para a narrativa bruscamente, pedindo para que o leitor acesse o site da editora, no qual há a informação do dia da estreia de A Garota da Capa Vermelha nos cinemas, confirmando as suspeitas de que o livro só foi feito para explorar um possível sucesso de bilheteria e promover o filme.
O resultado, após a leitura, é a certeza de que o livro não tem razão para existir, basta o filme (no qual esperamos que não se mantenham as lacunas). Aliás, a falta de competência da autora é tão gritante que podemos perceber que a obra foi adaptada de um filme, pois, além da linguagem entediante e fraca, o enredo é fragmentado e sem emoção. As personagens não têm densidade, seus sentimentos não são apresentados, elas apenas agem, sem que sejam apresentadas motivações para suas ações. Definitivamente, é um livro que eu não recomendo.
Marcela Vasconcelos