Rodrigo1001 19/07/2023
Mágico! Mágico! Mágico! (Sem Spoilers)
Título: Pedro Páramo
Título Original: Pedro Páramo
Autor: Juan Rulfo
Editora: José Olímpio
Número de Páginas: 176
Precedente do boom latino-americano e obra expoente da literatura mexicana, Pedro Páramo é o representante mais célebre do realismo mágico no nosso continente. Para entender sua importância, basta dizer que, não fosse por ele, Cem Anos de Solidão do querido Gabo sequer existiria. E Isso, por si só, já dá uma ideia da grandeza desse pequeno romance de Juan Rulfo.
De fato, te digo que Pedro Páramo foi uma das melhores leituras desse ano. Na verdade, digitando aqui esta resenha, não sei bem explicar o porquê não o favoritei (ok, farei isso em seguida!) tamanho o divertimento e tamanhas as interjeições de "uau!" e "minha nossa!" que ele me causou!
De antemão, te digo que este livro é muito mais do que uma história de fantasmas. A escrita de Juan Rulfo é surreal e onírica. A narrativa contém muitas mudanças abruptas no tempo e no espaço. Essas mudanças rápidas são desorientadoras de início, mas é inegável que elas aumentam muito o efeito perturbador do romance e o prazer da leitura.
Você vai entendo tudo em doses homeopáticas. Embora se apresente quase como um quebra-cabeças, o livro contém uma das narrativas mais surreais e imaginativas que já li, apoiada pela irretocável tradução para o português de Eric Nepomuceno, que mantém toda a beleza, imagens, simbolismo e jogo de palavras intactos.
Notavelmente belo e notavelmente perturbador, eu recomendo fortemente que você o leia em uma única sentada e, em seguida, que o folheie uma segunda vez para colocá-lo em contexto e perspectiva. A busca de um filho para encontrar seu pai há muito perdido, a pedido de sua falecida mãe, leva o protagonista a um mundo de espíritos e fantasmas, a uma vila que existe e não existe, onde o tempo (e a narrativa) se movem para frente e para trás, e da primeira pessoa para a terceira pessoa.
Te aviso que Pedro Páramo requer muita atenção, uma mente aberta e muita imaginação. Com pouco mais de 100 páginas, os fios mágicos da história vão aos poucos formando uma tapeçaria na mente do leitor. É, como disse Susan Sontag, "um livro que parece, em retrospecto, como se tivesse que ser escrito".
Fantástico, fantástico e fantástico! Uma delícia do começo ao fim, encantadoramente bem escrito, intrigante, espirituoso e divertido. O livro entrega absolutamente tudo para o leitor, que virará a última página desejando imediatamente voltar ao início!
Por fim, repito: aventure-se sem pré-julgamentos, sinta o gostinho da ambiguidade humana, a dramaticidade e a força emocional de um personagem ficcional que transita, incomodamente, pelo além e pela realidade. Terminada a leitura, leia-o de novo para separar o que é seu, do que é, verdadeiramente, de Juan Rulfo.
Bravo!
PS: Ponto positivo para o prefácio de Eric Nepomuceno nesta edição da José Olímpio; elegante e sublime!
Leva 5 de 5 estrelas!
Passagens interessantes:
"Toda vez que eu entendo menos, eu gostaria de voltar para onde eu vim."
"Todo suspiro é como um gole de vida do qual a pessoa se livra."