Matheus Alves Carmo 06/04/2022
Épico como sempre
"- [...] Esperava ter quatro ou cinco anos calmos para plantar certas sementes e deixar alguns frutos amadurecer, mas agora... Ainda bem que prospero no caos. [...]" (Pág.
O Festim dos Corvos é o quarto livro das Crônicas de Gelo e Fogo e se passa simultaneamente ao quinto livro. Explico: o quarto livro se tornou grande demais, e Martin decidiu dividir em dois, por ponto de vista, e esse livro se concentra em Porto Real, e personagens ligados de alguma forma, em Dorne e nas Ilhas de Ferro, além de Arya e Sam (acho que não esqueci ninguém).
Essa divisão pode frustar alguns cujos personagens favoritos estão no outro livro, mas eu não tive tanto problema, mesmo gostando muito da Daenerys, que está no outro livro. Além desse também ter personagens que gosto muito, como Arya e Jaime, todos os personagens e todas as histórias são interessantes.
"Quando as neves caem e os ventos brancos sopram, o lobo solitário morre, mas a alcateia sobrevive."
Tive um sentimento nesse livro, que também lembro de ter tido nos outros livros: iniciar de forma complicada, lendo bem pouco, pelo estilo em algumas partes maçante; e, depois de certa parte, não conseguir mais parar de ler, mesmo em partes extensas, e querer mais e mais daquela história. Pensando um pouco sobre isso, imagino que isso se deva exatamente ao fato de Martin conseguir nos transportar para o universo do livro.
Sejam as descrições extensas dos cenários, as sensações que o autor nos passa tão bem (frio, o alto mar, o isolamento), as divagações dos personagens sobre fatos históricos de Westeros, ou de seu passado, tudo contribui para um só objetivo: a experiência. Ele consegue nos ambientar tão bem naquele mundo, conhecer tão bem os personagens, entender tão bem aquelas culturas, que nos envolve de forma surpreendente. George Martin é um mestre da escrita.
"Os corvos lutam pela carne de um morto e matam-se uns aos outros por seus olhos. [...] Tivemos um rei, depois cinco. Agora tudo que vejo são corvos em disputa pelo cadáver de Westeros."
Os personagens estão incríveis como sempre, e seguem tendo ótimos desenvolvimentos. Não temos todos aqui, como expliquei, mas os que estão são ótimos. Cersei e Jaime estão mais diferentes um do outro do que nunca, ambos ótimos de se acompanhar, à sua maneira (Jaime se redimindo e mostrando sua honra, Cersei perseguindo o poder). Arya e Sansa, de maneiras diferentes, estão aprendendo a serem outras pessoas. Brienne e Sam tentam cumprir suas missões, cada um com suas dúvidas e dificuldades.
Temos capítulos diferenciados para Dorme e para as Ilhas de Ferro (não há nome de personagens específicos, pois alterna entre vários que estão naquele lugar/contexto), e eles são muito bons também, mostram outros pontos de vista e culturas, e agregam bastante pra história.
Além disso, continuamos aqui com o intenso jogo dos tronos. Algumas peças foram retiradas, mas novas são postas no lugar a todo momento. As intrihas, traições e conspirações estão sempre à espreita, mesmo quando não esperamos, e de quem não esperávamos. Nesse livro se destacam Mindinho e, principalmente, Cersei. A Rainha regente tenta desesperadamente se provar à altura do falecido pai, mas às vezes ela mesma se deixa levar pelo jogo. E Mindinho é aquele personagem que parece não estar conseguindo nada, até que percebemos que estava dois passos à frente de todos. Além disso os pontos de vista de Dorne e das Ilhas de Ferro, acrescentam várias peças à esse tabuleiro, principalmente Dorne, que trás muita coisa interessante.
"O que é perigoso é ter nascido plebeu, quando os grandes senhores jogam seu jogo dos tronos."
Não preciso falar mais nada: é um livro que amei muito, como toda a saga. Pelo que vi por cima, não é o favorito de muita gente, e provavelmente não é o meu. Mas é entendível, dada a necessidade da separação do livro, e ao anterior que trouxe diversos acontecimentos marcantes. De qualquer forma, é um livro que indico demais.
Valar morghulis