O Vermelho e o Negro

O Vermelho e o Negro Stendhal




Resenhas - O Vermelho e o Negro


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Bruna 13/02/2014

Um personagem em carne e osso
Para mim, esse é um personagem completo... sujeito a falhas, não é de caráter excessivamente ruim, nem excessivamente bondoso...está nos moldes humanos, e é exatamente essa a definição de Julien Sorel, que junto com Pip (Grandes Esperanças), representa personagens, acima de tudo, humanos.
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Tarcísio 10/07/2012

Mais de seiscentas páginas de uma literatura clássica, vocabulário rico e, de brinde, um realista e detalhado retrato da Europa do século XIX. Se isso não bastasse, um conteúdo recheado de palavras, frases e trechos filosóficos, disponibilizado ao leitor através da autoanálise dos personagens.

Ótimo, então "O Vermelho e o Negro" merece todos os elogios e indicações. Infelizmente, na minha opinião, não é bem isso. Apesar das qualidades citadas anteriormente, a obra não serve muito como um exemplo de leitura prazerosa. Apesar de trechos interessantes e com um bom ritmo, em vários momentos a leitura torna-se cansativa e sem empolgação. O autor exagera vez por outra nas discussões filosóficas e em estórias que não agregam em nada.

Aos personagens principais, falta-lhes carisma. Como, por exemplo, comparar as inconstantes e orgulhosas Srta. La Mole ou mesmo Sra. de Rênal com a encantadora e arrebatadora Elisabeth Bennet, de "Orgulho e Preconceito"? Sem comparação. Julien Sorel parece-me mais com um rebelde sem causa do que propriamente como um herói romanesco.

Minha indicação do livro seria somente aos amantes da literatura clássica, que sentem prazer não somente com um enredo empolgante mas também com um texto bem escrito, de qualidade cultural indiscutível.
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Pereira 27/06/2012

Ambição
Julien Sorel é filho de camponês e quer uma vida diferente da que seu pai teve. Normal. Todo mundo sempre procura evoluir e a referência de incremento acaba sendo sua família. Agora, como evoluir é outra questão. Neste romance, o autor tenta descrever o modo de vida e os aspectos psicológicos da frança do século XVIII. Na tentativa de melhorar de classe social o protagonista envereda pelo caminho do clero e do militarismo, sempre envolvendo o romance com mulheres comprometidas como ponto de partida. Este livro tem um final surpreendente! No início da leitura, achei um pouco monótono, mas do meio pro final a leitura ficou bastante interessante. Quem tem uma boa noção da história francesa, principalmente o período que compreende a Revolução e a Restauração vai ter um aproveitamento melhor da leitura.
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Shirlei.Stachin 29/10/2014

O vermelho e o negro
Perdido no interior da França, o filho de um comerciante de madeira nutre sonhos de grandeza heroica, sem se dar conta de que ficaram para trás os tempos em que um jovem tenente de artilharia podia tornar-se cabeça de um Império. Este livro é a narrativa desse desencontro histórico, em suas menores reverberações. No rescaldo da derrota de Napoleão, as carreiras são tortuosas e os amores são difíceis. Para chegar a Paris, Julien Sorel passará por um seminário de província, aceitará um posto subalterno junto a uma grande família e será amante de duas mulheres únicas e díspares.
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Braguinha 04/12/2014

Uma maravilha da literatura francesa!
Tão grande em qualidade quanto “Cem Anos De Solidão”. Tão memorável quanto a sua data de aniversário, tão inesquecível quanto sua primeira paixão. Uma obra prima escrita por este ex-soldado de Napoleão. Uma ficção sobre o amor impossível de um jovem casal. Entretenimento de alto nível. Um livro daqueles que te fazem querer sair mais cedo do trabalho para se agarrar com ele dentro do carro.
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Cris 12/01/2015

Não está entre os grandes clássicos da literatura à toa! O Vermelho e o Negro critica a sociedade francesa do início do séc XIX, dividida entre a nobreza, o clero e a burguesia.
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@pacotedetextos 03/02/2015

Valor histórico
O Vermelho e o Negro é um romance histórico psicológico, em dois volumes, do escritor francês Stendhal, publicado em 1830. Costuma ser citado como o primeiro romance realista, mesmo com grande carga de uma sensibilidade romântica. A ação transcorre na França no tempo da Restauração antes da Revolução de 1830, supostamente entre 1826 e 1830, e trata das tentativas de um jovem de subir na vida, apesar do seu nascimento plebeu, por meio de uma combinação de talento, trabalho duro, engano e hipocrisia. (Fonte: wikipedia)
Jorge Luis Borges incluiu o romance entre os maiores de todos os tempos.

Bom, eu não sou Jorge Luis Borges (“ooooooh“). Tudo bem que é inegável a importância histórica do romance – talvez mesmo por isso eu tenha me dado a tarefa de lê-lo -, mas muitas vezes eu me pegava perguntando “quando esse livro vai acabar?“.
Em alguns momentos, a história se arrastava páginas e páginas seguidas; noutros, a passagem de cena era abrupta, e eu demorava a entender o que havia acontecido. Numas situações, surgiam verdadeiros deus ex machina, solucionando questões aparentemente insolúveis e permitindo a mudança de cena, ainda que de forma bastante inverossímil (pelo menos para mim); noutras, que permitiriam um desenvolvimento maior, o autor simplesmente usa e abusa de etc. etc.
Ainda assim, há que se destacar o melhor do livro: o final. E com isso eu não quero dizer o fechar do volume e a sensação de “finalmente acabou”, mas sim as 50 últimas páginas.
Há, além disso, uns trechos bem interessantes, que se aplicam não só ao século XIX como à atualidade, como o seguinte:

O inconveniente do reinado da opinião pública, que aliás busca a liberdade, é que ela se mistura ao que não lhe diz respeito: por exemplo, a vida privada.

Pode ser que um dia, se eu resolver reler O Vermelho e o Negro, eu reveja meus conceitos – assim como um belo dia, no “auge dos meus quinze anos”, cheguei a achar estúpido o final de um livro do Machado; hoje em dia, bem, não preciso dizer nada! Mas, no momento, ouso discordar de Borges. Com todo o respeito, claro.

Curiosidade:
Há controvérsias sobre o porquê do nome O Vermelho e o Negro. Minha opinião? Deve ter algo a ver com amor e ódio, sentimentos tão opostos que, ao mesmo tempo, muitas vezes caminham lado a lado – na mesma pessoa.

Trechos:

. No Franco-Condado, quanto mais muros se constroem, quanto mais guarnecidas as propriedades de pedras enfileiradas umas sobre as ourtas, tanto mais se adquire o direito ao respeito dos vizinhos. (p. 12)
. A tirania da opinião – e que opinião! – é tão estúpida nas pequenas cidades da França quanto nos Estados Unidos da América. (p. 13)
. Mas essa emoção era um prazer e não uma paixão. Ao voltar a seu quarto, ele só pensou numa felicidade, a de retomar seu livro favorito; aos vinte anos, a ideia do mundo e de nele produzir um efeito prevalece sobre qualquer outra coisa. (p. 62)
. Eis aí a fortuna imunda a que chegarás, e somente a terás nessa condição e em tal companhia! Terás talvez um cargo de 20 mil francos, mas será preciso que, enquanto te empanturras de carne, impeças de cantar o pobre prisioneiro; oferecerás almoços com o dinheiro que tiveres roubado de sua miserável ração, e durante teu almoço ele será ainda mais infeliz! (p. 121)
. O andarilho que acaba de escalar uma montanha íngreme senta-se no topo e encontra um prazer perfeito em repousar. Mas seria ele feliz se o forçassem a repousar sempre? (p. 133)
. Estranho efeito do casamento, tal como o produz o século XIX! O tédio da vida matrimonial faz seguramente morrer o amor, quando o amor precedeu o casamento. No entanto, diria um filósofo, ele gera em seguida, nas pessoas bastante ricas para não trabalharem, um cansaço profundo de todos os gozos tranquilos. E somente as almas secas, entre as mulheres, não buscam de novo o amor. (p. 133)
. Desde Voltaire, desde o governo das duas Câmaras, que no fundo não é senão dúvida e exame pessoal, e dá ao espírito dos povos o mau hábito de duvidar, a Igreja da França parece ter compreendido que os livros são seus verdadeiros inimigos. Para ela, é a submissão do coração que é tudo. Ser bem-sucedido nos estudos, mesmo sagrados, é suspeito, e com razão. Pois quem impedirá o homem superior de passar para o outro lado, como Sieyès ou Gregóire? (pp. 152-153)
. Que juiz não tem um filho ou pelo menos um primo a promover na sociedade? (p. 172)
. Sempre haverá um rei que quererá aumentar suas prerrogativas; a ambição de querer ser deputado, a glória e as centenas de milhares de francos ganhos por Mirabeau sempre tirarão o sono dos homens ricos da província: chamarão isso ser liberal e amar o povo. A vontade de ser par ou fidalgo da Câmara sempre dominará os conservadores. Na nave do Estado, todo o mundo quer ocupar o comando, pois é bem pago. (p. 195)
. Um romance é um espelho que se leva por uma grande estrada. Ora ele reflete a vossos olhos o azul do céu, ora a imundície do lodaçal da estrada. E o homem que transporta o espelho nas costas será por vós acusado de ser imoral! Seu espelho mostra a imundície, e acusais o espelho! Acusai antes o grande caminho onde está o lodaçal, e mais ainda o inspetor de estradas que deixar a água empoçar-se e o lodalçal formar-se. (p. 297)
. A política … é uma pedra atada ao pescoço da literatura e que, em menos de seis meses, a submerge. A política em meio aos interesses da imaginação é como um tiro de pistola em meio a um concerto. É um ruído dilacerante sem ser enérgico. Não combina com o som de nenhum instrumento. Essa política irá ofender mortalmente uma metade dos leitores e aborrecer a outra, que, ao contrário, a julgou especial e enérgica no jornal da manhã… (p. 312)
. Um viajante inglês conta a intimidade em que vivia com um tigre; ele o criara e o acariciava, mas tinha sempre sobre a mesa uma pistola armada. (p. 356)

site: https://pacotedetextos.wordpress.com/2015/02/03/resenha-stendhal-o-vermelho-e-o-negro/
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João Souto 22/02/2015

Paixão e ambição
Queria tentar resenhar com alguma imparcialidade, mas como fazer isso com uma obra que entrou na minha lista de favoritos em posição de destaque? O livro é poderoso, e esse é o primeiro adjetivo da minha pseudo imparcialidade. Criei vínculos com a história e, em vários momentos, admito, senti que ele contava minha história, com algumas diferenças é claro, mas essencialmente transcrita naquelas páginas.

Foi a primeira vez que me identifiquei tanto com uma obra literária e ainda questiono-me porque me senti puxado a ela desde que a vi na prateleira daquela livraria.

Um triângulo amoroso. Paixões exacerbadas. Orgulho, muito orgulho. Uma obra a frente de sua época, muito atual e, de novo, muito poderosa.
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MR.Santi 26/03/2015

O espelho do real
“Pois bem, senhor, um romance é um espelho que se carrega ao longo da estrada. Tanto pode refletir para os seus olhos o azul do céu como a imundície do lamaçal da estrada. Por acaso o homem que carrega o espelho em sua sacola poderia ser acusado de imoral? Seu espelho mostra a sujeira e o senhor acusa o espelho? O senhor deveria acusar o longo caminho onde se forma o lamaçal e, sobretudo, o inspetor das estradas que deixa a água apodrecer e o lodo se acumular.” Esta é uma metáfora utilizada por Stendhal em seu clássico O vermelho e o negro. Um dos primeiros aspectos que se pode notar, assim, é a utilização de tópicos do contexto político na obra.
Stendhal é o pseudônimo de Marie-Henri Beyle, nascido a 1783, em Grenoble, França. Sua vida foi entremeada por um árduo caminho de tropeços nas relações pessoais e seu reconhecimento foi adquirido apenas post mortem. Foi subtenente no governo de Napoleão e participou como intendente das campanhas napoleônicas na Áustria, Rússia e Alemanha. Com a queda do império, passou a dedicar-se ao sonho literário. Escrevendo pelo menos duas páginas por dia, fosse de adaptação, tradução ou invenção, Stendhal chegou ao ápice de sua produção literária, com o lançamento de O vermelho e o negro, em 1830. É nomeado cônsul e vai para Paris, onde, em 1842, morre de um ataque de apoplexia.
Esta obra-prima do escritor acompanha a vida Julien, um jovem plebeu de 17 anos, estudioso do latim e que sabe a Bíblia de cor, que passa a ser o preceptor dos filhos do prefeito de sua cidade, Verrières. Rapidamente, Julien conquista a simpatia da sra. de Rênal, mulher do prefeito. Esta simpatia transforma-se em hesitações e culmina com os dois tornando-se amantes. Julien, então, deixa a cidade para continuar seus estudos em um seminário em Besançon até que, por intermédio de um padre que tomara-lhe como protegido, torna-se secretário do marquês de La Mole.
A segunda parte do romance começa em Paris, na mansão de La Mole. Julien atrai as atenções de Mathilde de La Mole, filha do marquês, e decide experimentar até que ponto pode exercer influências sobre a monarquia, sentimento que o acompanha durante toda a história. O intenso jogo amoroso e de orgulho estabelecido entre os dois culmina em um relato da sra. de Rênal sobre seu caso extraconjugal com o jovem. Ferido em seu amor-próprio, Julien resolve matar a sra. de Rênal em uma missa. Os tiros apenas a ferem e ele vai preso, assumindo seu crime.
O vermelho e o negro apresenta-se como uma obra extremamente equilibrada e harmoniosa, feito atingido pelo autor através de uma prosa objetiva e sem floreios. A narração segue seu curso naturalmente, encadeando ações e acontecimentos sem que o leitor se antene às gigantescas modificações que o escritor vai esculpindo pela história. As descrições breves e precisas complementam o quadro criado pelas ações, diálogos e monólogos interiores. A imagem dos personagens não é fornecida ao leitor através de um narrador exterior, mas através dos próprios personagens: o que falam, fazem e pensam, como falam, fazem e pensam.
A obra possui máxima lucidez, relatando, com fidelidade, os aspectos da vida social francesa de meados do século XIX. Seu romance encaixa-se perfeitamente em todo um plano histórico, sem o qual é impossível compreendê-lo. A estratificação social, as condições econômicas, o curto período pós-Napoleão e pré-Revolução de Julho, montam com excelência a Crônica de 1830, subtítulo aposto pelo editor.
Mesmo a história pessoal de Julien é inspirada em fatos verídicos. O ponto de partida de Stendhal foi o caso de Antoine de Berthet, muito repercutido na época. Assim como Julien, Berthet era um belo jovem enviado pelo padre ao seminário. De lá tornou-se preceptor na casa do prefeito e mais tarde, segundo as intrigas locais, amante de sua esposa. Deixou a casa e, tempos depois, conseguiu outro cargo de preceptor e nova demissão devido a um envolvimento com a filha do senhor. Após um período acusando por cartas a sua primeira amante, Berthet dá dois tiros nela, durante uma missa, e depois tenta se matar. Os dois sobrevivem e o jovem é condenado à morte.
Pode-se notar, portanto, que Stendhal monta um quadro diegético como se para colocar as situações em perspectiva histórica. As condições políticas e sociais estão intimamente enredadas na ação, são parte inseparável dela. Fazem uma conexão exata entre a ficção e o real que poucas obras conseguem realizar. Atinge uma narrativa precisa, gradual, que passa a imagem de um acompanhamento passo a passo da vida real no século XIX.

site: http://prosaicu.wordpress.com/
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Fimbrethil Call 27/02/2012

Crônica interessante
Interessante modo de fazer uma crônica e crítica da sociedade francesa no século XIX. Vemos tudo acompanhando a trajetória de Julien Sorel, um filho de carpinteiro, mas não pobre, odiado pelo pai e e pelos irmãos, que tem a vida em duas fases bem definidas: a primeira na cidade de Verrières, na região de Franche-Comté, e a segunda em Paris. Muito interessante.
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Mil 05/08/2015

Preciso ler novamente
Eu comprei esse livro por indicação de uma professora de literatura quando eu frequentei brevemente a UFOP, lá mesmo eu peguei um na biblioteca mas não consegui ler. Não vou saber escrever uma resenha competente sobre o mesmo, até porque, eu o li em dias e até semanas alternados, portanto, não o entendi muito bem. Achei a história densa e complicada, um romance dramático, cheio de reviravoltas que até então, achei estranhas. Terminei de ler com a sensação de que preciso lê-lo novamente e com mais dedicação para compreendê-lo como deve ser. Sendo um clássico e recomendado, é porque deve ser bom e vai, com certeza, merecer 5 estrelas minhas.
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Patty 06/01/2016

Confesso que nunca tinha ouvido falar neste título quando, passando por um sebo, resolvi comprá-lo para completar um desafio literário. As letras miúdas, o texto rebuscado e as muitas páginas me desanimaram um pouco no início, mas aos poucos a leitura foi me envolvendo.
Para mim, o mais interessante na história do ambicioso Julien Sorel foi ver um pouco das características da época. O romance se passa na França dos anos 1830, e mostra muitos costumes do século, desde trâmites políticos ao comportamento e posição da mulher na sociedade.
Sem dúvidas, um livro interessantíssimo!
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J.Jardini 11/01/2016

Identidade em Crise: uma resenha crítica de O Vermelho e o Negro



Em O Vermelho e o Negro, a princípio, Stendhal nos remete ao habitual ambiente bucólico consagrado pelo movimento romântico do século XIX. Julien Sorel, seu personagem, se mostra, à priori, como um um ente frágil e disperso; um verdadeiro sujeito fragmentado em seu ainda não totalmente desenvolvido processo de individuação; aquele através do qual concretiza-se identidade própria através do devir, da superação das contradições enfrentadas bem como das experiências vividas, no incorrer da maturidade.

A perspicácia de Stendhal sugere-nos, em nítido e expresso conteúdo filosófico permeado em sua obra, não o retrato móvel - e quiçá espalhafatoso - de uma crise identitária mas sim, mais precisamente, faz-nos apreender em seus diversos momentos, as idas e vindas não só de uma consciência moralmente instável mas, de uma verdadeira identidade em crise.

Tal fato teria seu subsídio no truculento ambiente familiar de Julien Sorel. Este, vítima de abusos físicos e psicológicos por parte de seu pai e irmãos, lhe é imposta à livre definição de sua individualidade, uma conflituosa flutuação entre a reprovação de seu comportamento e a violência à ele dirigida por sua aparente “natureza frágil”; destacadamente, frente à primazia de sua inteligência, uma franca dissonância para com os árduos trabalhos braçais da madeireira de seu pai, o velho Sorel.
Esta identidade em crise, absolutamente inseparável da trama principal, coloca à este jovem rapaz, intencionalmente deslocante, sempre imerso em uma noção de movimento, momentos que caracterizam rupturas; deixar sua família, o distanciamento para com o ideal de Napoleão, incursões e dispersões apaixonadas em relação à mulheres, constantes viagens e um incerto câmbio dos meios pelos quais atingirá seus sonhos e Desejos. Este quadro de rupturas fornecerá, esta matéria prima a qual, ao desenrolar de seus momentos culminantes, em desfechos que acompanham ao passo que desafiam o gênero romântico, agem quase como degraus que o elevam a garantir-se personalidade e se tornar um Ser que na medida em que progride torna-se cada vez mais complexo e autêntico.
Este atualizar constante da personalidade e das vontades de Sorel torna toda a história proposta numa inebriante mistura de drama e tragédia; uma progressão rumo à edificação de uma autêntica e marcante personalidade, verdadeira oscilação que entre o Vermelho e o Negro, sobressai-se um Sorel cada vez mais certo de si.

Stendhal não economiza adentrar aos rincões mais obscuros da consciência humana; ganância, joguetes de poder, orgulho, vaidade, prepotência, hipocrisia. Todo entre aprofundamento psicológico meio às podridões moralmente reprováveis da alma humana é marca de um estilo crítico, livre e necessário para com a naturalidade de sua proposta, através de uma sutil, quase gramatical ironia, estes conflitos constituem nada mais do que a própria realidade destituída de grandes alardes. O ser humano emerge aqui, destacadamente em Julien Sorel, como essencial e moralmente relativista, composto de uma intrincada síntese de diversos predicados os quais conferem à obra como um todo, uma verdadeira representação universal.

Neste sentido, a artificialidade própria dos salões franceses ou mesmo o evidente jogo de interesses subordinados da aristocracia provinciana em seus âmbitos propriamente ditos são determinantes; são como verdadeiras exteriorizações desta complexa e contraditória amálgama que o consciente romântico de Stendhal propõe à nossa observação.

Stendhal, como dito, parte de um cenário comum pertencente à uma literatura já há muito explorada e difundida. No entanto, ilustra sua destreza ao integrar, à plenitude de um descritivismo equilibrado, um cativante novíssimo frescor ao roteiro do que seria uma narrativa já esperada. Stendhal adiciona à fórmula romântica um crescendo exponencial de profundidade, bom senso, complexidade e de um imersivo sentimento em constante catarse, o qual perpassa-nos a saga do jovem Sorel.
Este, longe de se enquadrar em moldes de herói romântico, quebra totalmente com as preconizações de estilo e gênero ao ser posto como um ente falho, vítima de uma consciência que oscila entre uma despretensa leveza e o martírio sobre a retenção de suas angústias frentes à impulsividade e o imperativo absolutamente incontingente de seus interesses ideais e carnais.

Sorel longe de quitar-se completamente à uma ‘’futilidade do mundo” e imergir em uma angústia existencial própria, incorpora em si mesmo as mais superficiais vaidades e, assim, denota-se marcante em sua personalidade, a despeito de suas incumbências religiosas, uma cumplicidade para com as paixões mais terrenas, as quais afirmam em si, um caráter egocêntrico, passional e claro, profundamente hedonista. Seu percurso, ao transcorrer da obra, longe de ser maçante e retilíneo é inundado por atentas percepções e articuladas estratégias. Em interessantíssimas digressões de pensamento tomadas das atentas observações de Sorel ou mesmo na figura de um suposto filósofo, estabelecem-se francas interlocuções as quais é confuso afirmar se é Sorel ou o próprio Stendhal que que nos conecta à uma ponte direta entre o desenvolvimento da trama e a necessária detenção de seus momentos específicos, para com o leitor, em uma reflexão quase como conjunta.
Define-se, então, uma marca de estilo autêntica que pela simplicidade empregada em todo seu vocabulário, em sua divisão piedosa de capítulos, e ausência de escrúpulos quanto ao ordinário, qualifica esta obra como uma leitura densa e profunda ao passo que fluida e apreensiva.

Toda a proposta literária elaborada por Stendhal estabelece-se em alicerces que constituem um aprofundamento gradualmente intenso da trama psicológica que se prescreve. Um aglomerado denso, cativante e emocionalmente carregado se traduz não só durante toda a trama mas, destacadamente, ao seu final, num sentimento de profundo êxtase, identificação e eterna separação para com Julien Sorel. Neste ponto, este crítico em específico, acredita em uma interessante aproximação não só da exploração do âmbito moral e imoral em questões práticas bem como toda a edificação constitutiva de Julien Sorel como uma curiosa ressonância entre este mesmo e Willhelm Meister, do romance de formação Os Anos de Aprendizagem de Willhelhm Meister, de Goethe.

Destacando assim, em suas devidas proporções, a profundidade desta obra prima de Stendhal, não obstante, ter-se qualificado como uma das Imortais da Literatura Universal justamente, frente á universalidade e destreza com as quais Stendhal pinta, com científicas dissecações e matizes estudadas, a natureza do ser humano.


site: http://reflexoepoesias.blogspot.com.br/
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