Moby Dick

Moby Dick Herman Melville




Resenhas - Moby Dick


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André Lima 14/01/2023

Moby Dick
Eu adoro esse livro! Trás várias lições...fala sobre projetos, persistência, tem uma riqueza de detalhes é impressionante...Mas acredito que a principal mensagem que esse livro passa é a obsessão. Talvez de um lado não tão bom...Esse é um livro que lerei novamente, com certeza.
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Larissa266 13/01/2023

Segurem suas almas e peguem seus remos...
... a viagem vai começar!
É admirável como não só a baleia, alimentada pelo véio biruta do Ahab, mas tudo aquilo tem uma consciência muito própria, quase humana: o mar sabe onde levá-los, quer eles gostem ou não. O barco, parece lutar com vida pelos tripulantes.
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Jeni 12/01/2023

Moby Dick, é a narrativa do dia a dia da vida marinha, onde o narrador explica todo o processo de caça e captura de baleias.
Sempre tive curiosidade de conhecer melhor essa história, apesar de ouvir falar desde a minha infância, só sabia que se tratava de uma baleia branca chamada Moby Dick.
Gostei bastante da leitura e descobri que na verdade não se trata de uma baleia branca e sim de uma cachalote. Também desconhecia a história do capitão do barco. Por fim, gostei e mereceu minhas 4 estrelas.
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Mabi 11/01/2023

O que achei
Eu comecei o livro por conta da escola, pois era um livro obrigatório, porém essa leitura me surpreendeu de forma positiva e acabei gostando. Adorei adicionar a minha lista de leitura um livro clássico.
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inggyum 09/01/2023

Moby Dick
Eu pensava que ia odiar esse livro mas ele não é tão ruim assim não, me fez pensar bastante sobre oque o sentimento de vingança pode provocar em uma pessoa
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Touloser1 09/01/2023

Me surpreendi
"Deixe o mais distraído dos homens mergulhar em seus mais profundos devaneios-ponha o homem de pé, faça-o andar, e ele infalivelmente o levará para a água, caso haja água em algum ponto daquela região (...) Sim, como todos sabem, meditação e água estão ligados por um laço eterno."
Sempre tive um pé atrás para ler clássicos. Porem esse livro em específico, me aprendeu do início ao fim. Em alguns momentos me senti arrastada pela leitura, mas isso não atrapalhou a minha experiência com essa obra maravilhosa!
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Bruno Oliveira 08/01/2023

MOBY DICK, ou quase tudo que você tem que saber sobre A Baleia
Moby Dick, ou A Baleia do norte-americano Herman Melville não é um romance típico, tampouco um livro de aventura “raiz’. Seu começo é meio confuso, há várias informações gerais, que mais parecem pop-ups, que versam sobre o cetáceo do título; esses dados lembram um apanhado geral no Google. Contudo, não estão lá à toa, não! Suas fontes, tanto bíblicas quanto filosóficas e tanto acadêmicas quanto jornalísticas, ajudam a “dar uma ideia geral” do conteúdo do livro e, de quebra, dizem muito do tom da narrativa propriamente dita logo a seguir. Sobre essa, até que ela começa bem, você vai “nas ideias” do Ismael (nome sugestivo, hein?) numa boa e, essa personagem-narrador vai te contando sobre si e sobre o seu futuro empreendimento financeiro: virar caçador de baleias. O problema infelizmente surge quando ele suspende a narrativa (em diversos momentos) para contar “um causo” ou, ainda, para discorrer sobre assuntos específicos demais sobre essa sua nova profissão: há muitos dados, muitas informações desnecessárias que fazem do livro uma espécie de almanaque de curiosidades sobre a caça dos cetáceos nos meados do século XIX; é quase um ensaio que você tem em mãos! A parte da narrativa aventureira é boa, porém, em muitos momentos os personagens parecem estar em um palco declamando suas falas carregadas de um tom fortemente religioso. Dito isso, fica cá o aviso: a obra é simbólica, então, não espere cá os significados específicos, só um alerta amigo acima do mastro. Vá já sabendo o que encontrará.
Regis 13/01/2023minha estante
Gostei de sua resenha, Bruno. ?


Bruno Oliveira 13/01/2023minha estante
Opa! Valeu, Regis! :) Eu tento.




cay cay 07/01/2023

Emocionante
Fiquei surpresa com o final, não imaginei que iria me emocionar tanto. Esse livro é tão bem escrito e intrigante que voce nem se importa com os capitulos meio inuteis que tem no meio, os personagens tem tanta profundidade que vc se pega mudando de opiniao sobre eles o tempo todo conforme o livro passa, ora torcemos para um ora para outro, nao conseguimos decidir de que lado ficar, no final percebemos que ficaremos triste com qualquer final pois ja nos apegamos a todos os personagens, incluindo o tão misterioso e sobrenatural Moby Dick. Um livro simplesmente delicioso.
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obcecada pelo harry 06/01/2023

gostei bastante até; li pela matilda, pq depois de assistir o filme umas mil vezes ''pode me chamar de ishmael. há alguns anos, não importa quantos precisamente, tendo muito ou pouco dinheiro no bolso...'' ficou na minha mente
só ñ é 5 estrelas pq muitas vezes a leitura ficou maçante
mas foi legal aprender um pouco sobre o mar e etc
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Luiza1908 06/01/2023

Razoável
O que me prendeu até o final foi ser obrigatório pra escola, mas muitos capítulos contendo apenas detalhes são muito entediantes...
Lohan 06/01/2023minha estante
Compreensível demais, existem muitos livros que são indicados pela escola que a gente não entende quase nada, mas depois de uns anos que a gente vai ler de novo e até acaba amando.




Fernanda631 05/01/2023

Moby Dick
Moby Dick foi escrito por Herman Melville e foi publicado em 18 de outubro de 1851.
A história começa na Costa Leste dos Estados Unidos, em meados do século XIX, em que conhecemos o narrador do livro, o marinheiro Ismael, que vai para New Bedford para passar uma noite antes de ir para outra cidade. Lá, ele conhece Queequeg, um arpoador da Nova Zelândia que parece ser selvagem e perigoso, mas que acaba sendo um bom amigo e conta sua história, pois era filho de um Grande Chefe e havia deixado seu país para aprender mais com os Cristãos.
Os dois decidem ir para Nantucket juntos e escolhem passar um ano no baleeiro Pequod, a mando de Peleg, que é o capitão aposentado do navio e de seu associado, Bildad. Peleg fala com eles sobre o novo capitão, Ahab, e imediatamente o descreve como um homem grandioso, mas pouco cristão.
O narrador da história é Ismael, um jovem com experiência na marinha mercante, que decide que sua próxima viagem será em um navio baleeiro. Igualmente se convence de que deve ir a Nantucket, Massachussets, ilha famosa por sua indústria baleeira. Antes de alcançar seu destino, Ismael conheceu o experiente arpoador polinésio Queequeg, com quem começa a estabelecer uma estreita amizade, apesar da aparência de Queequeg o ter assustado num primeiro momento.
Ismael ingressa no baleeiro Pequod, com uma tripulação formada pelas mais diversas nacionalidades e etnias, seus arpoadores são: o “canibal” Queequeg, o “pele vermelha” Tashtego e o “negro selvagem” Dagoo.
O Pequod é dirigido pelo misterioso e autoritário capitão Ahab, um velho lobo do mar com uma perna postiça feita da mandíbula de uma baleia cachalote. Ahab revelará a sua tripulação que o objetivo principal da viajem, além da caça de baleias em geral, é a perseguição e captura de Moby Dick, a baleia que lhe arrancou a perna e que diziam ter causado estragos a cada um dos baleeiros que um dia tentaram caçá-la.
Os dois embarcam no Pequod, onde o capitão Ahab ainda está oculto, trancado na sua própria cabine. Nessa parte, acabamos conhecendo a tripulação do navio, formada por Starbuck, o primeiro imediato; Stubb, o segundo imediato; Flask, o terceiro imediato; além dos outros marinheiros, a maioria americanos, com exceção do indígena Tashtego e do africano Daggoo.
Após vários dias de viagem, Ahab finalmente aparece para a tripulação. Ele é um homem muito imponente, e tem a perna artificial feita de marfim retirado de um osso de baleia.
“Bebei, arpoadores! Bebei e jurai, homens que tomais lugar à proa da baleeira vingadora – Morte a Moby Dick! Que Deus nos cace, se não caçarmos Moby Dick até a morte”! Os longos e afiados cálices de metal foram erguidos; e, proferindo gritos e maldições contra a baleia branca, o álcool lhes desceu pela garganta ao mesmo tempo com um sibilo”.
Moby Dick, a lendária baleia que tinha arrancado a perna do capitão. Starbuck diz a Ahab que sua obsessão com Moby Dick é loucura e começa a se preocupar que o navio esteja dominado por um capitão insano. O capitão Ahab precisa se vingar. Após ter sua perna arrancada brutalmente pela Baleia Branca em um de seus ataques, o homem se cega diante de tamanha ira e seu sentimento de vingança o alimenta dia e noite, conforme sua embarcação parte em busca da mesma baleia que travou sua épica batalha nos mares.
Os marinheiros seguem viagem e, em meio a ela, encontram diversos navios com história diferentes como encontros com Moby Dick, epidemias que mataram vários tripulantes ou motins. Além disso, eles vão caçando diversas baleias, e conseguem matar uma baleia branca e outras comuns, mas conseguem capturar poucas delas.
Ao atingir o Oceano Pacífico, Ahab ordena que o ferreiro faça um arpão para ser usado contra Moby Dick, que deveria ser temperado com o sangue dos seus arpoadores pagãos, e batizado em nome do Diabo.
O capitão decide seguir uma rota cheia de tempestades em sua busca pela grande baleia, e sonha todas as noites com a morte do animal. Em meio a isso, eles se encontram com mais um navio, o Rachel, cujo capitão pede a ajuda da tripulação para procurar seu filho, que podia estar perdido no mar, mas Ahab recusa secamente quando descobre que Moby Dick está por perto.
Antes de finalmente achar Moby Dick, Ahab relembra o dia em que tinha arpoado sua primeira baleia, e lamenta a solidão destes anos no mar. Ele admite ter perseguido sua presa mais como um demônio do que como um homem.
A luta contra Moby Dick dura três dias. No primeiro dia, Ahab avista pessoalmente a baleia, e os botes remam na direção dela. Moby Dick ataca e afunda o bote de Ahab, mas ele sobrevive ao ataque e é recolhido pelo bote de Stubb.
No segundo dia, Moby Dick quebra a perna de marfim de Ahab. Depois deste segundo ataque, Starbuck critica Ahab, dizendo a ele que sua perseguição é ofensiva a Deus, mas o capitão declara que o combate entre ele e Moby Dick está imutavelmente decretado, e a atacará novamente no dia seguinte.
No terceiro dia, Ahab finalmente acerta a baleia com o seu arpão, mas ela novamente vira seu bote. A baleia investe furiosamente contra o Pequod, que é duramente golpeado e começa a afundar. Num ato aparentemente suicida, Ahab lança seu arpão em Moby Dick, mas fica emaranhado na linha e mergulha no oceano com ela, morrendo afogado.
A história segue com o relato dessa longa viagem, da qual Ismael será o único sobrevivente. Ele estava num dos botes destruídos e consegue se agarrar à canoa de Queequeg. Ele acaba sendo resgatado pelo Rachel, cujo capitão continuava a buscar pelo seu filho desaparecido.
Somos introduzidos então a uma narrativa em primeira pessoa, onde o narrador-personagem vai nos guiar no navio baleeiro Pequod em sua jornada pessoal. Jornada essa que não compactua com a dos outros membros das expedições.
Durante o século XVIII, essas expedições de caça às baleias eram frequentes, isso por conta do enorme lucro que elas traziam àqueles que conseguissem matar uma baleia.
Seus ossos eram retirados, sua carne era aproveitada e seu óleo também em um valor exorbitante, por isso esses navios eram muito comuns naquela época. Ahab, no entanto, utiliza de seu poder de persuasão e sua história para convencer os outros marujos a caçar aquela baleia em específica que lhe arrancou a perna.
Definir Moby Dick em um gênero literário é uma tarefa quase impossível, isso porque temos capítulos onde o autor destrincha de um lado técnico para mostrar aos leitores como a caça a baleias era feita, como se utilizava das partes dela no dia-a-dia, quais as variedades de baleias que os marujos encontravam no alto mar e assim por diante.
Temos também diversas referências bíblicas, onde a Moby Dick é colocada quase como uma figura divina e mitológica, um ser primordial e que é quase impossível de ser encontrado e abatido. No entre texto vai ser possível analisar diversas referências bíblicas que não foram notadas por mim, inclusive existem vários artigos científicos e textos teóricos a respeito desses detalhes.
Existem também uma série de referências a estilística greco-romana no que se diz a respeito da Comédia e da Tragédia, principalmente nos capítulos onde os marujos são introduzidos (que acabam lembrando o texto de uma peça de teatro).
Épico em todos os sentidos. Em alguns momentos o autor consegue criar uma narrativa fluída e até mesmo divertida, já em outros o conteúdo pesa um pouco e seu ritmo pode ser alterações, mas durante todo o processo é impossível não ficar maravilhado com a forma como esse mundo é construído e apresentado para nós, tanto é que muitas das vezes eu pensei estar lendo relatos verídicos feitos por marujos daquela época.
Moby Dick fala dos limites do conhecimento. Nas páginas de abertura, ao apresentar uma coleção de trechos literários que citam baleias, Ismael descobre que, ao longo da história, a baleia tem assumido uma incrível multiplicidade de significados.
Ao longo do romance, ele faz uso de praticamente todas as disciplinas conhecidas pelo homem em suas tentativas de entender a natureza essencial da baleia. Cada um desses sistemas de conhecimento, no entanto, incluindo a arte e a taxonomia, não conseguem dar uma explicação adequada.
A multiplicidade de abordagens que Ismael leva, juntamente com a sua necessidade compulsiva de afirmar a sua autoridade como um narrador e as frequentes referências aos limites de observação (“os homens não podem ver as profundezas do oceano”, por exemplo), sugerem que o conhecimento humano é sempre limitado e insuficiente.
Quando se trata de Moby Dick em si, esta limitação tem um significado alegórico. As formas de Moby Dick, como aquelas do Deus cristão, não podem ser conhecidas pelo homem, e, assim, tentar interpretá-las, como Ahab faz, é inevitavelmente fútil e muitas vezes fatal.
A narrativa de Ismael contém muitas referências ao destino, criando a impressão de que a desgraça do Pequod é inevitável. Muitos dos marinheiros acreditam em profecias, e alguns chegam a afirmar a capacidade de prever o futuro. Uma série de coisas sugerem, no entanto, que os personagens estão, na verdade, se iludindo quando pensam que eles vêem o trabalho do destino e que o destino é uma das muitas forças sobre as quais os seres humanos não têm conhecimento.
Ahab, por exemplo, explora claramente a crença dos marinheiros em destino para manipulá-los a pensar que a busca de Moby Dick é o seu destino comum. Além disso, as profecias de Fedallah e outros parecem demonstrar que os seres humanos projetam o que eles querem ver quando tentam interpretar sinais e presságios.
À primeira vista, o Pequod parece ser uma ilha de igualdade e comunhão no meio de um mundo racista hierarquicamente estruturado. A tripulação do navio inclui homens de todos os cantos do globo e todas as etnias que parecem conviver harmoniosamente.
Ismael sente-se inicialmente desconfortável ao encontrar Queequeg, mas ele rapidamente percebe que é melhor ter um “canibal sóbrio do que um cristão bêbado” como companheiro. Além disso, as condições de trabalho a bordo do Pequod parecem promover um determinado tipo de igualitarismo, já que os homens são promovidos e pagos de acordo com sua habilidade.
No entanto, o trabalho de caça às baleias é paralelo à mineração de ouro e ao comércio desleal com os povos indígenas que caracteriza a expansão imperialista. Além disso, os não-brancos executam a maioria das tarefas sujas ou perigosas a bordo do navio.
Moby Dick possui vários significados simbólicos para vários indivíduos. Para a tripulação do Pequod, a baleia branca lendária é um conceito para o qual podem deslocar suas ansiedades sobre seus trabalhos perigosos e muitas vezes assustadores. Como eles não têm ilusões sobre Moby Dick agindo malevolamente contra os homens, ou, literalmente, contendo o mal, contos sobre a baleia lhes permitem enfrentar seu medo, controlá-lo, e continuar a funcionar. Ahabe, por outro lado, acredita que Moby Dick é uma manifestação de tudo o que está errado com o mundo, e sente que é seu destino erradicar este mal simbólico.
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Tiago 01/01/2023

Uma viagem pelas profundezas do ser
Moby Dick é um clássico da literatura e, nesta edição da Antofágica, os textos que compõem o volume são muito bons para ajudar a entender a inovação da obra de Herman Melville.

Para mim fica a impressão de que nada aqui é apenas aquilo que parece (embora o narrador tente te fazer crer nisso). Até mesmo os, por vezes, detalhados capítulos sobre cetologia, nos abrem para reflexões profundas sobre o ser humano e sobre a sua relação com a natureza.

Mais uma vez destaco a beleza e cuidado com detalhes da edição da Antofágica. Vale a pena explorar até a última página!
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Carolina2587 01/01/2023

Expectativa x Realidade
Eis um clássico que sempre pensei que jamais leria. Nunca me despertou muita curiosidade, e toda a sorte de comentários negativos sobre a narrativa enfadonha apenas serviam para afastar mais ainda toda a remota possibilidade de um dia esse livro vir a me chamar. Mas aconteceu, e acabou por ser minha última leitura de 2022.

A primeira coisa que acho importante apontar é que, na minha visão, existem dois livros dentro do mesmo. Um, com a narrativa épica da perseguição a Moby Dick, e outro, com uma ode às baleias e à caça baleeira. Os "livros" se intercalam, e um servem de preparação para o outro. Então, para cada cena de ação e de retomada da história da caça, teremos capítulos explicativos sobre detalhes das baleias, do funcionamento do navio, das riquezas que podem ser obtidas e das dificuldades de toda a empreitada.

Não achei enfadonho e despropositado. Na minha visão, esses capítulos explicativos e reflexivos nos ajudam a ter uma boa noção da grandiosidade da coisa. Além disso, o narrador é simpático e engraçado, o que traz leveza para vários desses momentos em que, segundo ele mesmo, assume-se o ar de poeta.

Moby Dick me surpreendeu positivamente, achei a leitura muito mais fácil e fluida que o esperado. Talvez porque a minha expectativa fosse algo difícil e penoso, saí positivamente surpreendida. Entendo os que passem pelo contrário, principalmente quando não estão calibradas as expectativas da história. Temos, sim, a história da caça e vingança contra Moby Dick, mas isso está enterrado no meio de um outro livro, que talvez traga riqueza de detalhes e informações demais para quem buscava apenas a ação propriamente dita.

Foi uma boa experiência, e considero que fechei bem meu ano de leituras com essa epopeia.
Pedro 01/01/2023minha estante
Excelente resenha! ???




Procyon 31/12/2022

Moby Dick ? Resenha
?O homem que se afasta do caminho do entendimento permanecerá na companhia dos mortos?. (Provérbios 21:16)

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?Por maior que seja a superioridade intelectual de um homem, não lhe é possível assumir o domínio prático e útil de outros homens sem a ajuda de algum tipo de artifício e manobra externa, em si mesmos mesquinhos e indignos.? (p. 161)

O transcendentalismo e o romantismo sombrio representaram dois lados opostos do Renascimento norte-americano nos augúrios do século XIX. Enquanto o primeiro projetava uma perspectiva estritamente idealista a despeito do homem e do universo, como reação, o romantismo sombrio ? adotado por autores como Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne e Herman Melville ? apontava para uma ótica mais pessimista: através de uma demonstração cruel da suscetibilidade individual do humano para o pecado, de modo a realçar a falibilidade impregnada nele (ao que muitos apontam como condição humana). Focado na energia espiritual da natureza, tais autores de espírito pessimista se demonstravam menos confiantes na perfectibilidade humana, crendo na natureza como plena detentora de verdades obscuras, primitivas e irracionais. Frente a natureza e sua força espiritual terrível, os indivíduos falham em suas tentativas de ocasionar alterações minimamente positivas ao seu redor. Imbuídas de simbolismo, essas narrativas apresentavam tendência ao sobrenatural, ao sofrimento e a tragédia, através do fascínio pelo irracional, pelo grotesco, pela propensão humana para a maldade, o pecado, a culpa, a vingança e a insanidade.

?É o meu jeito de afastar a melancolia e regular a circulação. Sempre que começo a ficar rabugento; sempre que há um novembro úmido e chuvoso em minha alma; sempre que, sem querer, me vejo parado diante de agências funerárias, ou acompanhando todos os funerais que encontro; [?] então percebo que é hora de ir o mais rápido possível para o mar.? (p. 31)

O colossal Moby Dick (1851), escrito por Herman Melville, é um dos romances primordiais da literatura ianque (visto que é o primeiro grande épico ficcional norte-americano). No bojo dessa rica literatura, o livro encontra ressonância e perenidade até os dias atuais, inspirando diversas obras artísticas que ultrapassam as páginas do papel e as fronteiras da arte da palavra. Inspirada no naufrágio do navio Essex, em 1820, a ficção tem ecos bíblicos e filosóficos, sendo então uma narrativa de aventura e, ao mesmo tempo, uma investigação filosófica. Narrado em terceira pessoa pelo marinheiro Ishmael, o leitor acompanha a saga do capitão Ahab para acertar as contas com um enorme cachalote albino ? que num passado recente destroçara sua perna. Como um observador ? tal qual o leitor ?, Ishmael é testemunha da obsessão de Ahab enquanto, por outro lado, Ishmael tenta conhecer a si mesmo e o seu papel no mundo. Rico em metáforas e sentidos, o livro de Melville permite uma imersão gradativa, de modo que o derradeiro embate ocorre apenas nas últimas páginas. Até lá, o texto trata muito do mar, da atividade baleeira e das características do cachalote, explorando a viagem dos tripulantes do baleeiro Pequod e todos os seus percalços nos confins do Pacífico.

(O próprio Melville, no capítulo 45, intervém para admitir o caráter alegórico davobra:

?Tão ignorante é a maioria dos homens de terra firme no que diz respeito a algumas das mais simples e palpáveis maravilhas do mundo que, sem a menção de alguns fatos simples, históricos ou não, sobre a pescaria, poderiam desprezar Moby Dick como uma fábula monstruosa, ou ainda pior e mais detestável, como hedionda e insuportável alegoria.?)

?[?] Todos os grandes homens trágicos são criados com uma certa morbidez. [?] Toda a grandeza mortal é apenas doença.? (p. 97)

Filho de comerciantes, Herman Melville nasceu em 1819, New York; iniciando a carreira como o pai, logo se tornou professor em escolas locais, trabalhando também na fazenda do tio e como bancário. Aos vintes anos ele embarca como marujo numa nau mercantil para Liverpool. Baseou-se em sua experiência como marinheiro de 1841 a 1844, e de uma ampla leitura na literatura baleeira, para produzir seu vasto material literário. Publicada numa época em que o interesse do público estava direcionado ao Oeste americano, a obra foi um fracassado comercial para o autor, não sendo impresso até a sua morte em 1891 (o texto só viria a ser classificado como o ?Grande Romance Americano? no século seguinte, no centenário do escritor, sendo, a partir daí, apontado suas mais diversas contribuições para a literatura ocidental). Sob o desdém dos críticos ingleses, Melville morreu na obscuridade, ditando a mítica frase: ?como toda a fama é patrocínio, deixem-me ser infame.?

?Um sentimento de solidariedade violenta e mística e assaltava; o ódio inextinguível de Ahab parecia meu. Com ouvidos atentos escutei a história do monstro assassino contra o qual eu e todos os outros havíamos dedicado nossas juras de violência e vingança.? (p. 193)

Além da inspiração do incidente em Essex, e de tantos outros, Melville também encontra ecos na literatura inglesa: desde as tragédias shakespearianas, passando pelo marco inaugural do romantismo britânico: o longíssimo poema A Balada do Velho Marinheiro, de Samuel T. Coleridge (que já ganhara versão em forma de épico da banda britânica Iron Maiden, no antológico disco Powerslave).

?Amigos, segurem meus braços! Pois, no simples ato de escrever meus pensamentos sobre este Leviatã, eles me consomem e debilitam pela enorme abrangência de sua envergadura, como se incluíssem o conjunto total das ciências e todas as gerações de baleias, de homens e mastodontes, passadas, presentes e vindouras, com todos os panoramas movediços dos impérios terrestres, e através do universo inteiro, sem exclusão dos arrabaldes.? (p. 459-60)

Moby Dick assume a forma de um megarromance, ao que certa vez Evert Duykinck, mentor de Melville, já proferia que ?há evidentemente dois, senão três livros em Moby Dick*, condensados em um só*?, de modo que esta jornada de caça ? e de existência ? se demonstra como um texto rico em linguagem, circunstâncias, personagens, e simbolismo. Demonstrando profundidade no conhecimento marítimo, o texto radicalmente descontinuado apresenta descrições detalhadas e realistas da caça à baleia e da extração de óleo de baleia, bem como a vida a bordo de um navio entre uma tripulação multicultural e multiétnica. É uma literatura de viagem, todavia que não se limita a um gênero específico, e sim combina diversos elementos e linguagens, haja vista a complexidade dramática e psicológica da obra.

?[?] Eu a vejo em sua força descomunal, fortalecida por uma malícia inescrutável.? (p. 178)

Épico monumental de fanatismo, o livro é intrincado, ao mesmo tempo, por um realismo factual e uma ambição autodestrutiva (?é melhor sucumbir no infinito tempestuoso do que ser vergonhosamente levado a sotavento, mesmo que isso represente a salvação!?, p. 125); um livro de referências shakespearianas, onde Ahab ? uma figura bastante ambígua ? espelha o herói trágico elisabetano, desde Macbeth, passando por Rei Lear, até mesmo Hamlet. Ao mesmo tempo, contudo, que contém elementos do teatro e da poesia, o texto ainda exala uma originalidade arrojada, assumindo profundidade enciclopédica, com intervalos estratégicos que transmitem tanto uma riqueza antropológica e zoológica (além de estilística).

?[?] A insanidade do homem é a sanidade do céu; e, distanciando-se de toda razão mortal, o homem chega por fim ao pensamento celeste, que para a razão é um absurdo e um delírio; e, bem ou mal, então se sente intransigente e indiferente como o seu Deus.? (p. 420)

Além de associar o cachalote com o Leviatã da Bíblia, o livro assume certa aspiração blasfema com a Bíblia. ?Inflamado pelo fogo infernal?, o livro manifesta uma depreciação da ortodoxia cristã, ao conferir ao texto tons de fé subvertida. O navio, que lembra uma embarcação funerária, é vítima das maquinações do destino, um presságio ominoso da vingança infindável do capitão, cujo orgulho ? ou soberba, um dos sete pecados ? foi ferido pela leviatânica baleia branca. As passagens mais explícitas estão no livro de Jó (?E só eu escapei para te contar?) e em Jonas (?Deparou o Senhor um grande peixe para que tragasse a Jonas e esteve Jonas três dias e três noites no ventre do peixe?), que ecoam essa saga marítima epopeica, em uma nação estruturada pelo protestantismo. Em certas passages, narrador chega a elevar o capitão e a tripulação à dimensão divina: ?Qualquer homem poderia ter matado uma serpente, mas somente um Perseu, um São Jorge, um Coffin teriam a valentia de enfrentar bravamente uma baleia. [?] Se reivindico o semideus, por que não o profeta?? (p. 372-3)

?[?] Sou atormentado por um desejo permanente de coisas distantes.? (p. 35)

O magnetismo literário é uma constante, vide a frase de abertura (?Trate-me por Ishmael?), que sugere uma identidade suposta e incerta. A aventura obsessiva e trágica é presentificada pelo carisma satânico de Ahab, pela batalha contra o divino e pela busca pelo significado da vida e da morte. Existe aqui uma noção de que a água oculta os mistérios do mundo: ?[?] toma o místico oceano a seus pés pela imagem visível da alma infinita, azul e profunda, que penetra humanidade e natureza.? (p. 173). Assim o livro desenvolve a baleia ? uma encarnação do mal e a incorporação das limitações do ser humano ? como um doppelgänger de Ahab (a cicatriz em seu rosto, semelhante à rachadura da Casa de Usher do conto de Allan Poe, evidencia esse elemento de duplicidade); uma besta mítica, sua loucura personificada, símbolo máximo de sua busca por vingança. Através de perspectivas não humanas, demonstra-se a impotência humana frente a força e o poder destrutivo do oceano.

?[?] O que são os terrores compreensíveis do homem comparado com a combinação de terrores e maravilhas de Deus?? (p. 126)

Contendo inúmeras reflexões sobre a condição humana, imbuído de diversidade religiosa, simbologias bíblicas e de significados míticos, a obra dimensiona o eterno conflito homem x destino, num animal irracional, porém intintivo: um animal cuja brancura se dá como símbolo da pacificidade, da pureza e da luz, mas porventura subvertida como a cor da morte (o horror da baleia está em sua brancura).

?[?] Eu vim para pescar baleias, e não para vingar meu comandante.? (p. 177)

Ahab ?atribuíra a ela não apenas todos os seus infortúnios físicos, como também seus sofrimentos intelectuais e espirituais?. De maneira que ?tudo o que mais enlouquece e atormenta; tudo o que alvoroça a quietude das coisas; [?] toda a maldade, para Ahab, se tornava visível, personificada e passível de ser enfrentada em Moby Dick*.*? (p. 198) Starbuck, o primeiro imediato, até tenta tenta trazer Ahab para a luz da razão diversas vezes, mas o tresloucado capitão permanece cego pela brancura da baleia: ?Deus, Deus está contra ti, velho; desiste! É uma viagem desgraçada! Desgraçada em seu início, desgraçada em seu andor?. (p. 510)

?O que ousei, desejei; e o que desejei, fiz! Pensam que sou louco ? Starbuck pensa; mas sou demoníaco, sou a própria loucura enlouquecida! A louvura varrida, que só se acalma para entender a si mesma! Dizia a profecia que eu seria destroçado; e ? é isso!? (p. 181)

O capitão exerce uma forte influência na narrativa: ?[?] então esse homem se torna único em toda a população de um país ? uma poderosa e admirável criatura, talhada para as nobres tragédias.? (p. 97) A vista disso, esse herói trágico, envolto de medo, delírio e sofrimento, projeta nossa própria falibilidade, encontrando na piedade um eixo para a compaixão. A luta de Ahab contra o divino não é por poder, mas por liberdade (da prisão da carne). O livro, nesse sentido, faz algumas analogias com a alma humana ?[?] tal como o oceano aterrador cerca a terra verdejante, também na alma do homem há um Taiti insular, cheio de paz e alegria, mas rodeado por todos os horrores da metade desconhecida da vida.? (p. 286)

A obra esbarra com o imaginário protestante, ao capitão Ahab, constantemente, quebrar o plano da realidade, jogando o que seria o motivo de sua desgraça no plano da superstição e estabelecendo um conflito presentificado pelo bem e mal:

?Que coisa é essa, que coisa sem nome, inescrutável, sobrenatural é essa; que fraudulento e secreto senhor e mestre, cruel e impiedoso imperador me domina; que contra todos os afetos e desejos naturais eu me sinta empurrado e pressionado e forçado o tempo todo; imprudentemente pronto àquilo que no meu próprio coração natural jamais ousei e ousaria? É Ahab, Ahab? Sou eu, Deus, ou quem é que ergue esse braço? Mas se o grande sol não se move por si; se é como um garoto perdido no céu; se nem uma simples estrela se mexe, salvo por uma força invisível; como pode então esse pequeno coração bater; esse pequeno cérebro pensar pensamentos, a não ser que Deus o faça bater, faça-o pensar, faça-o viver, e não eu?? (p. 546)

Os mistérios da existência contrasta um humor obsceno. A viagem de tons alegóricos (Pequod era uma tribo americana quase toda exterminada pelos britânicos no século XVII) revela o destino duma civilização formada pela sanha de progresso material, de expansão imperial, de supremacia branca e de exploração da natureza (a embarcação, portanto, pode também ser lida como um microcosmo dos EUA, ou do capitalismo americano, na era das maquinas e das economias de mercado). Em vista da diversidade da tripulação, em contraponto à monomania do capitão e à energia monolítica da baleia, há alusões à luta de classes; escravidão, enquanto transmite a energia selvagem da vida de caça às baleias. Ahab, ?rei do mar? arcaico e obstinado, pode ser lido como um empresário moderno, um mestre dos insultos. Num contexto histórico marcado pela reafirmação dos ideais de nação, a metáfora do barco microcosmo que abarca uma tripulação multiétnica e multicultural, nos leva a singrar as águas da existência. Ishamel, deslumbrado pelos avanços do século XIX, reflete que, ainda que a ciência esteja em pleno desenvolvimento, o mar permanece ? e permanecerá ? oculto e misterioso (que por sua vez se dá numa analogia com a alma humana).

?Melhor dormir com um canibal sóbrio do que com um cristão bêbado.? (p. 52)

Obra realista e de linguagem estilizada, Moby Dick é um registro do comportamento de uma época de valores distantes. Apesar dos variados pontos de vista, que marca uma certa inclusividade na narrativa, quase não se ouve vozes femininas (mesmo que o apelo às forças maternas da Natureza seja também uma constante). Como retrato de sua época, o livro apresenta conceitos ultrapassados, em passagens explícitas de racismo que maculam a obra crítica de seu próprio tempo (o termo ?canibal? é utilizado para os não europeus ?caucasianos?, ou o tratamento a personagens).

Isso sem contar ao tratamento dado por personagens afro-americanos como o grumete Pippin: ?Não ria assim, quando escrevo que o negrinho era brilhante, pois mesmo a negritude tem o seu brilho; observe os painéis lustrosos de ébano dos gabinetes reais.?, p. 417). Percebe-se, todavia, que por mais que mesmo essa personagem, num primeiro momento, seja tratada como como ?insignificante?, mas adiante, por outro lado, torna-se o único membro da tripulação a despertar lapsos de humanidade em Ahab. Pippin, de certo modo, representa a contradição de Melville em relação às questões raciais (para tanto, ao dizer que ?a insanidade do homem é o sentido do céu?, o narrador prenuncia, em Pippin, o que acontecerá com Ahab).

?A loucura humana é quase sempre felina e muito astuta. Quando pensamos ter acabado, pode ser que apenas tenha se transformado em algo mais sutil.? (p. 199)

Há de se notar, entretanto, que livro fora escrito e publicado em meados do século XIX, isto é, quase uma década e meia antes da abolição formal da escravidão nos Estados Unidos. Obras literárias refletem a conjuntura social e política de seu tempo, creio que seja dever do leitor crítico (e de editores competentes, ao adicionar notas e textos de apoio às edições) em perceber ideias e contextos de cada época retratada. Ninguém deixará de ler a meio caminho O Estrangeiro, de Camus, porque o personagem é um assassino de um árabe (talvez mais pela chatice do livro). Livros não foram escritos para agradar nossa visão de mundo preexistente, existiram muitos outros antes de nós existirmos (e muitos dos quais provavelmente nem iremos tomar contato), portanto, não se pode esperar que um livro do século XIX dos EUA (uma nação que se construiu nas bases da exploração e do imperialismo) não seja repleto de um cristianismo exacerbado, de racismo e xenofobia encrustados nele.

?Das criaturas, quão poucas têm a magnitude da baleia!? (p. 319)

A complexidade da obra não acaba por aí. Ao mesmo tempo que contem passagens lamentáveis, existe uma discussão ambiental bastante séria em torno de Moby Dick. A degradação ambiental e a crescente extinção das espécies vem levando pesquisadores e acadêmicos a notar uma nova abordagem de interpretação ao Direito Ambiental no livro de Melville. Escrito como diário, o texto explicita os impactos da atividade baleeira, manifestando uma preocupação profunda com o meio ambiente (apesar da classificação errônea das baleias como peixes), havendo possibilidade- de se ler reflexões sobre a mudanças climáticas, em passagens como: ?[?] tenho visões trêmulas e sombrias dessas eternidades Polares; quando bastiões de gelo em cunha faziam pressão sobre o que são agora os Trópicos?. (p. 461) Melville, um escritor autêntico, um ?profeta ecológico?, concebe o homem como parte integrante da natureza, condenando aqueles que a explora. O autor frequentemente ainda pontua a necessidade do ser humano em estar em plena harmonia com a natureza:

?Não é curioso que um ser tão imenso quanto a baleia veja o mundo com um olho tão pequeno, e escute o trovão com um ouvido menor do que o de uma lebre? Mas se seus olhos fossem tão grandes quanto as lentes do grande telescópio de Herschel; e seus ouvidos tão amplos quanto os pórticos das catedrais; teria por isso um alcance maior da visão ou ficaria com o ouvido mais apurado? De modo algum. ? Por que, então, você procura ?ampliar? sua mente? Aprimore-a.? (p. 342)

É possível ver que, todavia, ao mesmo tempo que a personagem Ishmael apresenta uma energia intelectual admirável, sua narração menospreza a autoridade científica ao dar voz a visões relacionadas a experiencia empírica: ?Antes de entrar no assunto [?], apresento minhas credenciais de geólogo, dizendo que, no decurso de minha vida agitada, fui pedreiro e também um grande cavador de valas, canais, poços, adegas, cavas e cisternas de todos os tipos.? (p. 460)

?Desforra, célere vingança e eterna malícia distribuíam-se por suas formas e, apesar de tudo o que o homem mortal pudesse fazer, o sólido contraforte branco de sua fronte chocou-se contra a proa a estibordo do navio, fazendo cambalear homens e pranchas.? (p. 572) (Nota-se que o homem pode até desafiar a magnitude da natureza e explorar seus recursos, mas sua força implacável acaba por respondê-lo de forma avassaladora).

?[?] Ainda que o homem ame o seu semelhante, é também um animal que faz dinheiro, propensão essa que muitas vezes interfere em sua benevolência.? (p. 419)

Como crítico dos rumos da industrialização e do desenvolvimento econômico de seu país, o autor denuncia um materialismo servil, baseado na satisfação meramente material (inatingível). Como alternativa, ele nos fornece a harmonia com a natureza, uma saída que nos leva à elevação espiritual. Em suma, não é nem panfletário às questões ambientais, e nem glorificador das crueldades humanas (tamanha tal influência que, em 2010, o naturalista Olivier Lambert nomeou uma ?nova? espécie como Livyatan melvillei (uma parente do cachalote), em homenagem ao escritor, adotando a pronúncia hebraica do gênero).

?A cabeça inteira não parece expressar uma grande e resoluta decisão de enfrentar a morte? Essa Baleia Franca eu julgo ter sido uma Estóica; e o Cachalote, um Platônico, que em seus últimos anos de vida se dedicou a Espinosa.? (p. 346)

Enquanto Moby Dick acerca-se de referências estilísticas, narrativas e filosóficas, por outro lado, no bojo da cultura popular, a obra de Melville tornou-se perene, influenciando as artes no geral (sem contar, claro, com a Starbucks Company). Vemos ecos desde a canção instrumental homônima da banda Led Zeppelin, de seu segundo disco, famosa pelo excepcional solo de bateria de John Bonham (aliás, não é a primeira vez que o grupo faz referências ao âmbito literário, compondo, inclusive, no mesmo álbum, Ramble On, inspirada em O Senhor dos Anéis); além disso, temos o DJ novaiorquino Moby (que tem parentesco com Melville); o transcendente álbum Flossenengel, da banda alemã de rock progressivo Novalis (cujo nome é homenagem ao filósofo romântico). Além disso, inspirou pintores, poetas, cineastas e músicos como Orson Welles, Laurie Anderson, Sylvia Plath, Jackson Pollock, Stanley Kubrick, Bob Dylan (citando o autor no seu discurso do Nobel), e muitos outros.

?És como um leão das águas, e como o dragão do mar?. (Ezequiel 32:2)

No cinema, nota-se além de inumeráveis obras que citam Moby Dick, há a adaptação de John Huston. Apesar de Huston e Ray Bradbury ? ambos roteiristas da obra ? captarem o tema da fragilidade humana (que é recorrente na filmografia do cineasta), o filme me parece bastante irregular. Sumariamente, no livro, a imensidão do mundo parece engolir o destino das personagens ? a grandeza do mar contrastada com a pequenez do Capitão, enciumado pela arrogância e pela soberba ?; no filme, no entanto, esse mundo parece extremamente artificial, prestes a desmoronar, como se a personagem Ahab fosse maior que o mundo (entenda-se, visto que se trata de um produto hollywoodiano que preserva mais seus ícones e mitos do que de fato propor uma ideia estilística razoável, se bem que John Huston, noutros filmes, soube tratar desta questão exposta).

?Como podes aguentar sem enlouquecer? Será que os céus ainda te odeiam, a ponto de não poderes enlouquecer?? (p. 491)

A presente edição da Editora 34 tem tradução de Irene Hirsch e Alexandre Barbosa de Souza (quase idêntica à versão da antiga Cosacnaify). Com elucidativos textos de apoio, a edição é comemorativa ao bicentenário de nascimento de Melville, apresentando um prefácio magnífico de Albert Camus ? que denomina Melville como ?o Homero do Oceano Pacífico? ? posfácio do editor Bruno Gambarotto. Para concluir, Camus, ainda no prefácio, pondera que, em Melville, ?tanto a criança quanto o sábio encontram alimento?.

Mais do que tantas interpretações aqui exacerbadamente expostas, acredito que a crítica de Moby Dick reside sobretudo naqueles que, com doses de empáfia, arrogância e soberba ? e por que não loucura ? desejam, numa incessante busca pela perfeição do homem, domar a natureza a todo custo, como se, em última instância, este movimento não levasse a consequências trágicas. Me parece que Lou Reed tenha captado bem a ideia do livro ao compor este versos de Last Great American Whale: ?With human life not worth more than infected yeast / Americans don't care too much for beauty?. Grande parte do fascínio gerado por este colossal monumento literário está, certamente, em grande parte no fascínio do homem pelo oceano, visto que nossa compreensão a despeito ainda bastante obscura (obscura como a brancura da baleia). Fernando Pessoa, em Mar Português, pode arrematar melhor que eu: ?Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu.?

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?[?] O acontecimento mais maravilhoso deste livro não é apenas comprovado pelos fatos corriqueiros dos dias de hoje, mas que essas maravilhas [?] são meras repetições atravessando os tempos; assim, pela milionésima vez, dizemos amém a Salomão ? em verdade, não há nada de novo sob o sol.? (p. 222, Eclesiastes 1:9)
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