Paloma 29/12/2022
Sem dúvidas é um livro emblemático. Pela multiplicidade das formas de narrativa que há no livro, pelo extenso número de páginas, pela grandiosa viagem baleeira que Ismael narra e que surge a partir de uma vingança de Ahab - até onde o ser humano é capaz de ir por vingança? Melville não poupou densidade nessa narrativa, desde o próprio mistério que acompanha o mar e suas criaturas, até mesmo aprofundamento de conhecimentos sobre a navegação, a cetologia, da fé, Bíblia e preceitos cristãos, até mesmo na magnitude mistério que acompanha ela, a protagonista da saga toda, Moby Dick.
Esses pontos fazem o livro ter um mix de magnitude que se espalha, ao decorrer da narrativa, em curiosidade pela caça à baleia, pela tentativa de entendimento de por que homens se acham tão superiores à natureza a ponto de embarcar em uma viagem de anos apenas para (tentar) sacramentar uma vingança a Moby Dick. Tudo é muito envolto nessa aura de mistério e curiosidade, o que instiga a narrativa.
Mas, confesso que não é assim o tempo todo, rolou um esforço para tentar terminar a história que, como me pareceu, acompanha o mesmo ritmo da maresia e da sensação que deve ser estar, por dias, talvez anos, embarcada em um navio baleeiro, longe de qualquer pedacinho de terra à vista. Por horas, a narrativa fica intensa, veloz, como o mar quando se agita, por outras, ela fica monótona, como quando o mar repousa e parece descansar. Esse ritmo oscilante transforma a narrativa em algo quase que tedioso, os melhores momentos eram os agitados, mas abruptamente eles eram interrompidos pela calmaria de um dia de sol no meio do oceano.
Outro ponto de choque é que o cerne da narrativa é a vingança de Ahab à Moby Dick, mas entre o conhecimento disso por parte do leitor e de fato a aproximação desse embate entre homem x baleia demora praticamente o livro inteiro. Nem preciso dizer que o decorrer da narrativa faz com que todos os baleeiros se tornem repugnantes e que eu torci até o último minuto pela baleia. E que final maravilhoso é o do livro.
O que fica de reflexão é todo questionamento da petulância do ser humano em se achar superior a todos e a tudo.