murilo 04/11/2010
Os vampiros em sua forma mais clássica
Tudo começa quando Ben Mears decide voltar para ‘Salem’s Lot, cidade interiorana onde morou por quatro anos e passou por uma experiência traumática que até hoje tira seu sono. Enquanto isso quer terminar seu mais novo romance e torcer para que finalmente ganhe alguns dividendos no ofício de escritor. Lá, conhece aos poucos o restante dos principais personagens. Susan Norton, seu primeiro amor depois que a esposa faleceu tragicamente em um acidente. Matt Burke, um professor entendido em literatura e que conhece quase todo mundo da cidade. Jimmy Cody, o médico do grupo e mais cético de todos. E Mark Petrie, um garoto fanático por monstros e de uma impetuosidade e inteligência maior que a muitos adultos. Talvez seja um dos melhores personagens-mirins de toda a obra de Stephen King.
Ao mesmo tempo em que Ben entra na cidade um enigmático forasteiro chamado Strawker, que traz à cidade um horror que nenhum de seus habitantes seria capaz de imaginar dentro de um ambiente tão calmo como aquele. A partir disso, coisas estranhas começam a acontecer. Um cachorro é morto e enfiado nas grades do portão de um dos cemitérios da cidade. Uma criança desaparece e nunca mais é vista. Seu irmão falece pouco depois de causas inexplicáveis. Sua mãe segue no mesmo caminho logo em breve. Os planos do vampiro começaram.
O último livro que tinha lido de Stephen King era justamente Carrie, a Estranha. Quando comecei a ler A Hora do Vampiro fiquei impressionado m perceber o quanto ele evoluiu só no espaço de tempo entre um livro para outro. Não apenas em termos de horror. Os personagens são muito mais naturais, agindo e falando de maneira que eu mesmo faria se estivesse em situações semelhantes. A descrição do que se passa no íntimo deles e do calor das cenas são brilhantes, gerando momentos marcantes e que não desgrudam fácil da cabeça. A Hora do Vampiro só não tem um clímax tão sensacional quanto o de Carrie, já plagiado milhares de vezes pela televisão e pelo cinema.
Qualquer pessoa que já leu um livro de Stephen King sabe o quanto pode ser enervante ficar muito tempo sem ler o livro. Não é á toa que ele é chamado de mestre do suspense. Ele tece histórias capazes de nos fazer perder o dia inteiro lendo somente para saber o que vi acontecer na próxima página. Em A Hora do Vampiro não é diferente. De cara já sabemos que toda a população de ‘Salem’s Lot sumiu. E os únicos remanescentes são um homem alto e um menino que todos pensavam serem pai e filho. Então somos jogados no começo da história, completamente no escuro. É exatamente esse suspense bem construído que pode irritar alguns. A trama é lenta, se desenvolve aos poucos, não vai ser logo nas primeiras cinco páginas que um vampiro vai pular do nada na jugular de alguém. Os habitantes da cidade são apresentados um a um, são muitos. Mas mesmo durante essa fase de apresentação o suspense vai ficando mais e mais constante. A sensação de perigo se torna ainda mais iminente a cada capítulo. E você começa a se perguntar qual desses personagens vai morrer durante a história. O diferencial é que Stephen King faz você se importar com a perda deles.
A própria Jerusalem’s Lot, mesmo fictícia, recebeu bastante atenção de Stephen King. Ela tem sua própria história. Sua fundação, seus heróis, os segredos mais secretos, tudo nos é contado. Incidentes que marcara para sempre a sua população pequena e primitiva. O incêndio que quase destruiu a cidade toda em 1951, provocada por um mísero cigarro. O assassinato e suicídio ocorrido na macabra Casa Marstein. Casa esta que parece vigiar a cidade e emanar uma energia maligna capaz de ser sentida a metros de distância. Ela e a cidade são tão importantes para a trama quanto o próprio Ben Mears, não são meros cenários. Neles já podemos encontrar elementos que fariam de Iluminado um dos melhores livros de Stephen King.
Stephen King acabou escrevendo um livro que parte de onde o Drácula teria parado e criando um uma história com os monstros em seu nível clássico. Só não espere um grande aprofundamento dos vampiros. Eles não são os principais do romance, são os antagonistas assim como Drácula também foi. É o elemento de horror, o que leva os personagens a fazerem o que fazem. E o fato de King conhecer tão bem nossos medos só coroa tudo. Sabe, por exemplo, que uma porta fechada é muito pior do que o monstro em si. O medo vem da dúvida. É este talento capaz de te fazer considerar a sério a idéia de pegar um crucifixo antes de voltar à leitura A Hora do Vampiro.